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“Cuspi e cuspiria de novo”, diz Jean Wyllys sobre Bolsonaro
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O deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ), único homossexual assumido na Câmara dos Deputados, cuspiu em Jair Bolsonaro (PSC-RJ) durante a sessão de votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) neste domingo, dentro do plenário.

Em entrevista a uma rádio carioca, Wyllys disse que sua atitude foi causada por uma provocação do deputado Bolsonaro, que o teria insultado, usando palavras baixas para falar da sua sexualidade. Segundo Jean, os dois se desentendem há algum tempo porque Bolsonaro sempre o chama de “baitola” e “viado” e o acusa de pedófilo por ser gay.

Na rádio, Jean disse que realmente cuspiu em Bolsonaro e que cuspiria de novo. Leia a transcrição do trecho da entrevista.

“O que aconteceu ontem, a minha reação ao insulto feito pelo viúvo da ditadura militar tem um contexto. Aquilo não aconteceu apenas ontem, foi apenas a gota d’água. Há seis anos eu vendo sendo difamado diariamente nas redes sociais de uma maneira orquestrada, com calúnias que me transformam, inclusive, em pedófilo; uma campanha difamatória que inclui a invasão das minhas redes sociais; a descoberta dos meus dados pessoais e espalhados nas redes sociais, seguido de ameaças de morte. Essas difamações e ameaças estão protocoladas em denúncias na Polícia Federal. Há quatro anos eu faço essas denuncias e há indícios claros de que essa difamação parte de pessoas ligadas a esse senhor. Ele me insulta em todas as sessões da qual participamos nas comissões permanentes. Se resgatarem as imagens dessas comissões e ouvirem outros deputados, todos eles serão testemunhas de que eu sou insultado de “viado”, de “baitola”, ele usa palavras de baixo-calão para se referir à minha sexualidade. Ele insulta a comunidade da qual eu faço parte, nos trata como pedófilos e confunde homossexualidade com pedofilia. Ele bateu em uma mulher em pleno salão verde, chamando-a de vagabunda e anos depois disse que não estupraria essa mulher porque ela era feia. Esse mesmo deputado esmurrou um Senador da República. Ele faz uma revisão da historia todo o tempo, por exemplo, ao querer eleger um torturador que colocava ratos nas vaginas de jovens presas, como um herói.

Estamos nesse contexto e em uma polarização. Durante esses dias em que debateu-se o impeachment, houve deputados que quase foram às vias de fato e quase chegaram à violência física sem que isso provocasse um escândalo e sem que as pessoas achassem essas atitudes um absurdo.
Nós, os deputados progressistas, estamos sendo constrangidos e insultados, incitados pelos deputados de direita e conservadores, que decidiram se comportar como os grupelhos fascistas da internet que ganharam acesso aos corredores da Câmara dos Deputados em conluio com Eduardo Cunha.

Diante desse contexto, e em uma votação como aquela, eu fui dar o meu voto sob uma chuva de insultos homofóbicos. Dentre todos os deputados, a Jandira Feghali e eu talvez fôssemos os únicos que votaram sob insultos. Quando eu estava voltando esse senhor me xingou, eu virei e alguém que estava perto dele tentou segurar meu braço, eu virei, e diante do insulto que ele me fez, eu cuspi nele e cuspiria outra vez se a situação fosse a mesma.

Eu sou um ser humano. Não esperem de mim que eu dê a outra face como fez Jesus Cristo. Estou sob ataque há quatro anos sem que as pessoas reajam e com a imprensa tratando de forma natural o processo de difamação que eu enfrento e a destruição da figura pública de uma pessoa como eu, que sou honesto intelectual e materialmente, que trabalho e conduzo meu mandato e a política da maneira mais honesto e decente possível.

Por muito menos, quando os perfis no Wikipidia da Mirian Leitão e do Sandemberg foram adulterados isso transformou-se, com razão, em um escândalo e tratou-se isso como algo absurdo. É curioso que isso se transforme em um escândalo, mas a destruição de uma figura pública de um deputado como eu seja feita apenas pelo simples fato de eu ser gay.

Eu não me arrependo de ter cuspido nele após ele ter me xingado daquela forma, naquelas circunstâncias, sobretudo após elogiar um torturador condenado e que só não foi preso porque a nossa Lei da Anistia não permitiu prender os assassinos e torturadores da ditadura militar. Uma pessoa dessa merece, no mínimo, um cuspe, sobretudo por ter me insultado. Então foi isso que aconteceu. “

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