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Jair Bolsonaro já é o grande vencedor da eleição de 2018
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Imaginemos que por um motivo esdrúxulo qualquer, Jair Bolsonaro (PSL) não seja eleito presidente do Brasil daqui a doze dias. Sim, parece altamente improvável, mas vale fazer o exercício mental. Algo acontece e Fernando Haddad (PT), quando ninguém mais imaginava, vira o jogo. Mesmo assim, o grande vencedor da eleição será Jair Bolsonaro.

Dois anos atrás, seria praticamente impossível adivinhar que no primeiro turno de uma eleição presidencial um deputado, até então do baixo clero, radical, de extrema direita, roubasse a cena. Que fizesse 46% dos votos – mais de 49 milhões de eleitores preferindo sua candidatura à do PT e à do PSDB.

De lá para cá, Bolsonaro mostrou que o que parecia impossível, na verdade, era fácil. Que o país estava pronto para um radicalismo de direita. Que os erros do PT, os problemas de segurança pública, o circo armado pela oposição – tudo isso contribuía para um outsider. Que tirando o verniz de civilidade de nossa classe média havia um eleitor raivoso e disposto a tudo, inclusive a eleger alguém sem verniz nenhum.

Bolsonaro já é vencedor por ter mostrado que o brasileiro, sim, continua sendo de direita. Continua sendo conservador. Por ter mostrado que, como ele, o eleitor quer o país de 40, 50 anos atrás. (Por coincidência, ou não, as datas exatas de início e fim da vigência do AI-5.)

O capitão já é vitorioso por ter mostrado que o feminismo é odiado – confundido com um machismo ao contrário. Que os homens continuam mandando no país, apesar dos avanços, apesar da Maria da Penha. Que o machismo ainda impera a ponto de um discurso tosco contra a mulher ser apoiado por milhões.

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Venceu por mostrar que as cotas são odiadas. Que o acesso dos mais pobres à universidade não significou nada de positivo para a elite econômica do país. Que as leis de proteção aos empregados domésticos seguem sendo vistas pelo brasileiro como um fardo – e que, no fundo, o eleitor de classe média quer mesmo é diminuir direitos.

Bolsonaro mostrou que o discurso dos direitos humanos é malvisto. Que para a média do brasileiro bandido bom é mesmo bandido morto. Que quem acha que o Estado deve tratar a todos com dignidade não passa de um bobinho repetindo mimimis.

O candidato do PSL venceu a guerra cultural. Impôs seu discurso amalucado sobre doutrinação nas escolas, sobre kit gay, sobre “ideologia de gênero”. Mostrou que não era preciso muito para revelar a homofobia e a intolerância do eleitorado.

Bolsonaro mostrou que o eleitor recusa o intelectualismo. Não quer discursos sofisticados – quer algo simples e raso, populista e anti-intelectual. O eleitor poderia ter escolhido um professor da USP, mas preferiu eleger para a Presidência da República um homem que é o espelho da caixa de comentários do G1.

Sabemos agora que Olavo de Carvalho é o pensador mais importante do país. Alexandre Frota nosso grande ator. Joice Hasselman nossa maior jornalista. Ao contrário do que pensávamos, são esses os heróis da pátria, nossos modelos, nossos êmulos.

Bolsonaro ganhou também institucionalmente. Elegeu com seu partido nanico 10% do Congresso. Fez uma bancada que é sua imagem e semelhança. Defensores da pena de morte, da castração química, do ensino do criacionismo; gente que quer o fim da Lei Rouanet e a expulsão de Paulo Freire das escolas.

Se você não gosta de Bolsonaro, saiba que você perdeu. Como dizia o adesivo um ano atrás, é melhor ir se acostumando. O capitão – aquele, defendido pela Ku Klux Klan – é o grande vencedor de 2018. O Brasil está a seus pés.

 

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