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Por que a violência explodiu em São Paulo?
| Foto:
Daniela Souza/ Folhapress
Pelo menos 5 mil pessoas protestaram na capital paulista: clima de insatisfação é crescente

Vamos logo tirar o elefante do meio da sala, antes de falar do resto: os manifestantes paulistanos que agrediram PMs erraram; erraram muito mais os policiais que agrediram barbaramente, inclusive a tiros, pessoas que gritavam pedindo o fim da violência.

Podemos ficar anos nessa conversa de crianças na hora do recreio: foi o outro que começou. Foi o aumento da tarifa, foi Haddad? Foram os manifestantes? Foi Alckmin e sua polícia? Já até vi gente culpando Dilma, pela inflação que causou todo o resto.

O mais importante, além de sempre repudiar a violência, especialmente a das autoridades, é tentar entender o que está acontecendo. E o que parece estar em curso é movimento do tipo “Basta!”. Ok: a passagem subiu só alguns centavos, mas o que causou a explosão não foi isso. Isso foi só o estopim.

O caso é que a multidão nas ruas tem muito do que reclamar. Ganha pouco, paga muito (em taxas, impostos e lucro de empresários) e ainda tem serviços ruins (tanto do governo quanto das empresas). Mas as estatísticas não mostram o país crescendo, as pessoas saindo da miséria? Verdade: mas vá sentir na pele a vida da maioria para ver o paraíso que é e a distância desse mundo para o dos pesquisadores e (admitamos) o das manchetes.

Mas outro ponto importante de se perceber é que a crise estourou exatamente no transporte público. Já falei aqui em outras ocasiões que pesquisas de opinião mostram que os problemas mais importantes para a maioria da população são outros, especialmente saúde. Mas a crise estourou no ônibus.

A diferença é que na prática o sistema de saúde pública atende quase só os pobres, que não se organizam para reclamar. O ônibus, o trânsito, o metrô atendem a muito mais gente, inclusive a classe média com poder de mobilização. A classe média que tem poder de mobilizar a imprensa. A classe média que sabe se fazer visível não só com pneus queimados numa vila periférica.

O protesto em São Paulo, basta ver pelos presos, tinha publicitários, jornalistas, artistas etc. Essa gente nunca se mobilizaria, imagino, para reclamar dos problemas dos postos de saúde, ou da escola municipal. Porque simplesmente não depende desses bens públicos.

Na verdade, imagino que se a classe média não usasse planos de saúde e dependesse da escola da prefeitura, protestos muito mais graves aconteceriam diariamente. Não é à toa que os governos preferem financiar operadoras de planos de saúde.

Caio Prado Júnior, em seu “Evolução política do Brasil”, dizia que todas as rebeliões do período regencial, da Cabanagem à Sabinada, começam e terminam do mesmo jeito. Primeiro as classes médias protestam. Quando o povo adere e a coisa ferve, as classe média se retira e a repressão vem violenta.

Será que continuamos assim, quase 200 anos depois?

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