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Lojas do Muffato, em Araçatuba, interior de São Paulo, e do Condor, em Joinville, Santa Catarina: empresas nascidas no Paraná avançam para outros estados.
Lojas do Muffato, em Araçatuba, interior de São Paulo, e do Condor, em Joinville, Santa Catarina: empresas nascidas no Paraná avançam para outros estados. | Foto:

Contrariamente ao que ocorreu com Mercadorama, Parati e Coletão, os supermercados Condor e Muffato resistiram à entrada das multinacionais nos anos noventa e hoje alçam voo para conquistar consumidores de outros estados

Há cerca de 20 anos um terremoto sacudiu o setor de supermercados no Brasil. Com a ofensiva das grandes redes internacionais, empresas locais foram engolidas pelas gigantes do setor. O Paraná não ficou de fora do movimento que abalou as principais redes do país. Em 1998, o Mercadorama – símbolo de modernidade na época – foi vendido ao Grupo Sonae, que um ano antes havia adquirido a rede gaúcha Real. Em 1999 foi a vez de o Pão de Açúcar comprar as lojas Parati, tradicionais em Curitiba e região metropolitana. Nesse mesmo ano, a rede Coletão também foi comprada pelo Sonae.

Nos anos seguintes, o turbilhão não cessou no setor supermercadista, com a venda da Sonae do Brasil para o Walmart e a expansão do Carrefour. Mas, em meio à avalanche, duas empresas familiares, genuinamente paranaenses, resistiram e se reinventaram para dar um grande salto após a passagem da tempestade. Hoje, as redes Muffato e Condor estão consolidadas no estado, competem de igual para igual com as gigantes multinacionais nas praças em que estão instaladas e avançam para além das fronteiras do Paraná.

As duas marcas que viraram ícone nas principais cidades paranaenses e a cada dia conquistam consumidores de outros estados têm histórias e trajetórias distintas – além de serem francas concorrentes –, mas uma data é comum para os dois grupos. Foi em 1974 que Condor e Muffato deram início a uma jornada de sucesso.

Após 44 anos e a travessia do mar agitado pelas ondas de fusões e aquisições no setor, a história de dificuldades e incertezas de Muffato e Condor deu lugar a planos de expansão jamais imaginados naqueles duros anos de dificuldades.

O Condor conta hoje com uma rede de 46 lojas em 16 cidades paranaenses, emprega cerca de 12 mil pessoas e abre as portas em Santa Catarina, onde já tem duas lojas em Joinville e vai inaugurar um novo hipermercado em Mafra. Neste ano a rede também abriu uma nova unidade em Campo Mourão, no noroeste do Paraná, e está prestes a inaugurar outra loja na Rua João Bettega, em Curitiba.

Nunca imaginava que a empresa chegaria aonde chegamos. E não consigo imaginar aonde poderemos chegar. O mercado está aberto, o país tem aumento de população e muitas empresas estão diminuindo, encolhendo. Isso abre espaço para a gente avançar.

Joanir Zonta, fundador do Condor Super Center.

“A grande decisão que tomamos foi em 1998, época em que as multinacionais estavam comprando a maioria das empresas brasileiras do setor. Em nosso planejamento na época entrou essa situação que estava acontecendo no Brasil. Nós tínhamos então duas opções: ou vendia ou enfrentava as multinacionais. Mas para enfrentar as multinacionais a gente tinha que modernizar e crescer. E para isso a gente precisava de capital. As alternativas eram arrumar um sócio com dinheiro ou buscar financiamento. E nós partimos para o financiamento. Eu fui para o Rio de Janeiro, fiz uma via sacra no BNDES e finalmente em 2000 consegui o primeiro financiamento. Para sair o primeiro financiamento foi muito complicado, eles vieram várias vezes aqui, eu tive que colocar em garantia bens com valor seis vezes maior do que estava pedindo emprestado. Mas depois que eles analisaram bem a empresa, tudo facilitou. Usamos o dinheiro para construir o hipermercado de Londrina e depois o nosso plano deslanchou”, conta Joanir Zonta, fundador do Condor.

Olhando pelo retrovisor, Joanir – como é chamado por amigos e colaboradores – reconhece que, nos 44 anos de história do Condor, aqueles anos de ofensiva das multinacionais foram muito difíceis, mas também de oportunidades. “Na época muitos me procuraram, gente de banco, corretores, querendo comprar”, recorda.

Diferentemente de muitos empresários, que estão temerosos com os rumos que o país poderá tomar após as eleições, o fundador do Condor se diz otimista. “O brasileiro amadureceu bastante, acho que vamos ter uma boa renovação, com novas pessoas, novas cabeças, que vão fazer a renovação que o país precisa. Estou apostando, inaugurando novas lojas, temos planos, compramos terrenos para novos projetos. Acredito que vamos superar essa fase de crise política, por que toda essa crise veio com a crise política. Acho que vamos acertar, melhorar nossa imagem lá fora para ter novamente a entrada de dinheiro do exterior. Espero que tenhamos mais credibilidade para que os empresários não tenham mais que sair do Brasil para outros países.”

O Muffato também voa alto. Entrou em 2018 como a quinta rede de supermercados do Brasil e a maior do país 100% nacional, de acordo com ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Só perde em território brasileiro para as gigantes multinacionais – Carrefour (França), Pão de Açúcar (Grupo Casino, França), Walmart (EUA) e Cencosud (Chile).

Hoje o Grupo Muffato está presente em 18 cidades do Paraná e avança para o interior de São Paulo, com lojas em São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Araçatuba e Birigui. São 56 lojas no total e cerca de 13 mil colaboradores diretos. Além do Super Muffato (lojas de varejo), a rede opera com a bandeira Max Atacadista (lojas de atacarejo).

No mercado brasileiro, com o susto que tomou nos anos 90, quem ficou teve que se profissionalizar mais, melhorar a gestão, melhorar a qualidade dos serviços prestados aos consumidores. Hoje as redes nacionais têm eficiência igual ou melhor que a das multinacionais. Qualquer consumidor pode comprovar isso. As gigantes estão ficando para trás.

Everton Muffato, diretor do Grupo Muffato.

Mas não foi por milagre que a marca superou os momentos de dificuldades. “Os anos noventa foi uma época de muita insegurança no setor para quem ficou. Quem persistiu teve de se reinventar. Mas isso contribuiu para surgir empresas mais fortes”, diz Everton Muffato, um dos diretores do Muffato.

O sucesso do Muffato, na opinião te Everton, é resultado de uma somatória de fatores, mas ele destaca a flexibilidade do marca, que permitiu atrair consumidores de todas as classes sociais. Outro ponto forte é a busca por inovação. “Sempre fomos uma empresa inovadora, sempre buscamos estar atualizados, trazer novidades. Por isso, o Paraná hoje se tornou um polo do setor supermercadista, tanto que atualmente 80% das tendências do setor surgem no Paraná”, diz.

Com DNA de varejista – assim como os dois irmãos, Ederson e Eduardo, que trabalham nos supermercados da família desde crianças – Everton avalia que as ameaças da avalanche dos anos noventa ficou para trás, mas ainda vê espaço para consolidações no setor.

“O Brasil ainda é um dos países mais fragmentados no setor entre as grandes economias. Se você pegar os EUA a Europa, o nível de concentração dos primeiros cinco colocados é de 50%; no Brasil está em torno de 30%. Então há espaço para consolidação, mas mudou muito os players. O que ocorre hoje é que se formou grandes empresas nacionais. Antigamente era só com capital externo. Hoje são várias empresas nacionais com faturamento entre quatro e seis bilhões de reais, as quais têm capacidade de ser a consolidadora, em vez de ser consolidada”, avalia.

Quando o tema é futuro e eleições, Everton demonstra um misto de otimismo e cautela. “Cautela nesse momento é bom. Estamos em uma eleição atípica, com um quadro muito indefinido”, diz. Mas os planos continuam acelerados. “Vamos fechar 2018 com cinco novas lojas. Já inauguramos duas e vamos inaugurar mais três, além de seis reformas”, afirma.

O nascimento do Super Muffato, em 1974, em Cascavel.

Três meninos e a mãe levaram longe os planos do fundador do Muffato

Os irmãos Ederson, Everton e Eduardo Muffato e a mãe deles, Reni, viram suas vidas mudarem radicalmente no dia 13 de março de 1996. Naquela data fatídica, o pai dos três garotos, José Carlos Muffato, então com 42 anos, morreu em um acidente de avião quando se dirigia ao Pantanal para tirar uns dias de folga e pescar.

O filho mais velho da família, Ederson, estava com apenas 17 anos. Everton, o do meio, tinha 16 e o mais novo, Eduardo, 12 anos. A tragédia abalou profundamente a família, mas os três meninos, a mãe e o tio, Hermínio Bento Vieira, sócio no negócio, decidiram não se abater e levar em frente o sonho de seu Tito, como era conhecido José Carlos Muffato.

O Super Muffato nasceu em 1974 em um pequeno armazém em Cascavel. A oportunidade de crescimento para além da cidade de origem veio com o início das obras de construção da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, quando foi inaugurada a primeira loja na cidade para atender aos trabalhadores da hidrelétrica. Começava aí a arrancada para a consolidação da marca que é hoje a maior rede de supermercados 100% nacional do país.

Mais de 40 anos após seu surgimento, o Grupo Muffato supera a cifra de R$ 6 bilhões em faturamento, mas os três meninos, hoje homens maduros no negócio, e a mãe Reni continuam firmes com o propósito de irem mais longe.

A gestão da empresa é feita pelo triunvirato, ou seja, nenhum dos irmãos ocupa o cargo de presidente, que era do pai. A mãe, Reni, além de participar do comando é responsável pelo setor de bazar nas lojas da rede.

“Somos filhos de varejista e nascemos com esse DNA. E isso ajudou muito na consolidação da empresa”, diz Everton Muffato.

Atualmente a empresa vem diversificando os negócios. O grupo detém a rede Super Muffato, o Max Atacadista, o Muffato Atacado, o Shopfato (site de comércio eletrônico), o Shopping Total (em Ponta Grossa), o Parque Shopping Prudente,  emissoras de rádio e televisão e postos de combustíveis.

O início do Condor, em 1974, no bairro Pinheirinho, em Curitiba.

Condor nasceu no Pinheirinho pela iniciativa de um jovem do Umbará

O Pinheirinho, bairro distante do centro de Curitiba, é o berço de nascimento do Condor Super Center. Era o ano de 1974 quando o jovem Pedro Joanir Zonta, conhecido simplesmente como Joanir, adquiriu um pequeno mercado de 110 metros quadrados e iniciou suas atividades com cinco funcionários.

Em 1975, Joanir comprou o terreno ao lado e construiu um prédio com três pavimentos de 220m² cada. A construção reuniu um depósito, a loja e seu apartamento, além de escritório e um depósito de mercadorias leves. O crescimento foi rápido. Em 1977, ele comprou outro terreno, também no bairro Pinheirinho. Ali foi inaugurada uma nova loja, com 1.200 metros quadrados de área de vendas e 12 checkouts, na qual trabalhavam 60 funcionários. No endereço, até hoje está localizado o centro administrativo do Condor.

Em 1998, com a venda do Mercadorama, principal rede de supermercados do Paraná, para uma multinacional, o empresário vislumbrou a oportunidade de consolidar sua marca e avançar.

Com o slogan “Orgulho de Ser Paranaense”, o Condor conquistou os curitibanos e logo se expandiu para todo o estado. Com visão de longo prazo, gestão eficiente e empréstimos do BNDES, o empresário conseguiu consolidar sua marca e hoje está além das fronteiras paranaenses.

Em livro, o jornalista e escritor Nilson Monteiro conta a saga de Joanir Zonta desde o nascimento, no bairro Umbará, ao sul de Curitiba, até a construção da rede Condor como é conhecida hoje.

“Eu moro no Umbará até hoje, meu avô chegou lá em 1888, está fazendo 130 anos que nossa família se instalou no bairro”, diz ao revelar o seu orgulho de ser paranaense. Um paranaense com sotaque “macarrônico”, como é a marca dos descendentes de italianos.

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