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Sebastián Piñera lidera, Alejandro Gullier está em segundo e Beatriz Sánches, em terceiro, na corrida presidencial chilena.
Sebastián Piñera lidera, Alejandro Gullier está em segundo e Beatriz Sánches, em terceiro, na corrida presidencial chilena. | Foto:

Vencedor das eleições chilenas terá de enfrentar desaceleração da economia e crise na educação e no sistema previdenciário

A população do Chile vai às urnas neste domingo (19) preocupada com os rumos da economia do país mais desenvolvido economicamente da América do Sul. O sonho de integrar o grupo de nações ricas do mundo até 2020, com PIB per capita nominal acima de US$ 20 mil, foi abalado depois da queda brusca do ritmo de crescimento conseguido nos últimos anos.

O país passou longe das tragédias registradas no Brasil e na Venezuela, mas a desaceleração econômica e problemas estruturais que se arrastam há mais de duas décadas, como a insatisfação com o modelo previdenciário, centralizam o debate eleitoral.

Desde o fim do regime militar, em 1990, os chilenos gozaram de um período de estabilidade política e crescimento. O Produto Interno Bruto (PIB) saltou de US$ 37,8 bilhões em 1991 para US$ 247 bilhões no ano passado, de acordo com dados do Banco Mundial. A taxa de desemprego se manteve abaixo de 10% no período, com a mínima de 5,93% em 2013. E a inflação saiu de um patamar de 30% para menos de 2%, de acordo com projeções do Banco Central do país para 2017.

Estudo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) de 2015 colocou o Chile como segundo país com menor índice de pobreza da região, só perdendo para o Uruguai. De acordo com o documento, a taxa anual de pobreza caiu 9,1% entre 2010 e 2014. O relatório também mostra avanços da população chilena no acesso a moradias, recursos básicos e aumento da escolaridade. É o país latino-americano, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

Mas as conquistas perderam terreno ultimamente. Desde que eclodiram nas ruas as manifestações de estudantes pressionados pela dívida estudantil e de aposentados que não conseguem manter necessidades básicas com as aposentadorias que recebem, os problemas da sociedade chilena começaram a ser expostos com mais clareza e passaram a dominar a disputa política.

Uma pesquisa do governo, intitulada Caracterização Socioeconômica Nacional (Casen), revelou que 14,4% dos chilenos ainda vivem em situação de pobreza por renda, enquanto 4,5% estão na extrema pobreza.
Apesar do avanço na escolaridade, o endividamento dos estudantes ameaça a economia do país. Os números são desencontrados, mas a Confederação de Estudantes do Chile (Confech) estima que cerca de 1 milhão de formados no ensino superior têm dívidas e não estão conseguindo pagar. Nas ruas, pressionam o governo pelo perdão das dívidas.

Os problemas no sistema previdenciário, totalmente privatizado durante a ditadura militar, vieram à tona com o pagamento das primeiras aposentadorias pelo novo regime. Insatisfeitos com os baixos valores dos benefícios, na média abaixo do salário mínimo do país, os aposentados e contribuintes foram às ruas exigir mudanças.

Cerca de 90,9% dos aposentados recebem menos de 149 mil pesos (cerca de R$ 694). Os dados são da Fundação Sol, organização independente chilena que analisa economia e trabalho, e que se embasou em um levantamento de 2015 da Superintendência de Pensões do governo. O salário mínimo do Chile é de 264 mil pesos (cerca de R$ 1,2 mil).

Mesmo que algum dos candidatos que compunham o governo vença as eleições, há dúvidas se terão condições de levar em frente as reformas.

Para o sociólogo e cientista político Manuel Antonio Garretón, professor da Universidade do Chile, o desfio do próximo presidente reside exatamente nas reformas relacionadas a questões como o sistema educacional e o regime de previdência. Pessimista com o cenário político para as eleições, ele vê dificuldade para a implantação das mudanças. “Mesmo que algum dos candidatos que compunham o governo vença as eleições, há dúvidas se terão condições de levar em frente as reformas”, diz ao observar que o “racha” na base do governo, com o lançamento de mais de um candidato, cada um com propostas diferentes sobre os temas mais urgentes do país, deixa claro as divergências.

A presidente Michelle Bachelet fez uma reforma do modelo em seu primeiro mandato para dar cobertura aos que não conseguiam contribuir com o sistema, mas a mudança surtiu poucos efeitos.

De acordo com cálculos do economista Guillermo Larraín, um dos responsáveis pelo projeto da última reforma da Previdência, em 2008, as pessoas que chegam hoje à idade de se aposentar conseguem, no máximo, 63% do salário que recebiam na ativa. Muitos sofrem decréscimo de renda ainda maior e se aposentam com cerca de 40% do salário.

Se não bastasse os problemas sociais e estruturais e o freio na economia, o endividamento é um fator que também chama a atenção. A dívida pública pulou de US$ 39 bilhões em 2000 para US$ 168 bilhões no segundo trimestre deste ano, o equivalente a 65,4% do PIB anual. Internamente, um terço da população, cerca de 6 milhões de pessoas, está em dívida com os bancos locais. A dívida hipotecária das famílias chilenas é US$ 28 bilhões.

Somado a tudo isso, a projeção de crescimento pífio da economia, de apenas 1,7%, e gastos sociais crescentes são combustíveis para incendiar o pleito eleitoral numa sociedade cada vez mais dividida sobre as alternativas para a retomada do ritmo de “tigre asiático”.

Racha no governo coloca bilionário como favorito

Sebastián Piñera lidera, Alejandro Gullier está em segundo e Beatriz Sánches, em terceiro, na corrida presidencial chilena.

O bilionário Sebastián Piñera tem demonstrado ser um político de sorte. Foi ele o único oposicionista eleito presidente desde a queda do ditador Augusto Pinochet – governou o Chile de 11 de março de 2010 a 11 de março de 2014. E agora, quando muitos analistas consideravam baixas as suas chances de conquistar um novo mandato, ele desponta como líder nas pesquisas de intenção de voto.

O ressurgimento de Piñera ocorreu após um racha no bloco governista, a chamada “Nova Mayoria” – agrupamento herdeiro da Concertación, uma coalização de centro-esquerda que governou o país na maior parte do tempo desde o fim da ditadura.

Após a cisão, o candidato definido pelos governistas foi o socialista Alejandro Gullier, enquanto que a dissidente Democracia Cristã lançou isoladamente a candidatura de Carolina Goic. No polo mais à esquerda, a Frente Ampla, a candidata é Beatriz Sánches.

Em pesquisa divulgada pela Cadem, especializada em sondagens eleitorais no Chile, no último dia 3 de novembro, Sebastián Piñera lidera com 45% das intenções de voto, seguido pelo governista Alejandro Guillier, que tem 23%. A jornalista Sánchez ficou 14%.

Piñera construiu sua fortuna durante o regime militar de Pinochet. Ele é dono do Chilevisión, canal de televisão transmitido nacionalmente, e é um dos donos do Grupo Lan Airlines, que deu origem à Latam após a fusão com a TAM.

Também é grande acionista da ABSA, empresa de logística aérea brasileira, sediada em Campinas, estado de São Paulo. Além disso, é um dos sócios da Blanco Y Negro, que é a controladora do Colo-Colo, um dos principais times de futebol chileno.

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