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A Hollywood que amávamos
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Toda quarta-feira, vou trazer aqui algumas sugestões de livros, documentários, revistas, blogs e sites que sirvam como fonte de pesquisa sobre cinema. Quer compartilhar alguma sugestão? Deixe um comentário no blog!

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Em 1968, pela primeira vez na história do Oscar, a cerimônia de premiação mais tradicional da indústria cinematográfica foi adiada. Quatro dias antes, Martin Luther King havia sido baleado e morto. A Academia hesitou, mas acabou jogando o evento para 10 de abril, dois dias depois do previsto. Não havia clima.

O Oscar do longínquo ano de 1968 acabou sendo marcado, infelizmente, por esta tragédia que abalou os Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, foi talvez a premiação mais significativa das últimas décadas, independente de quem acabou levando as estatuetas. Entre os cinco concorrentes ao Oscar de Melhor Filme, duas produções se destacavam, justamente por fugirem totalmente do estereótipo dos filmes “dignos de Oscar”: Bonnie e Clyde, de Arthur Penn, e A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols.

Estes foram os filmes que, intencionalmente ou não, acabaram abrindo o caminho para uma nova geração de jovens diretores, que tomariam Hollywood de assalto na década seguinte, trazendo não só novos temas para o cinema americano, mas também uma autonomia até então pouco vista na indústria. Os estúdios tremeram. Os espectadores odiaram e, depois, aplaudiram. Essa turma era composta por nomes até então desconhecidos, como Martin Scorsese, Brian De Palma, Francis Ford Copolla, William Friedkin, Steven Spielberg e George Lucas, entre outros.

Essa foi a geração que, na década de 1970, se convencionou chamar de Nova Hollywood. A transição para esse novo momento, porém, não foi fácil. E é esse caminho das pedras que é retratado com detalhes no livro Cenas de uma Revolução – O Nascimento da Nova Hollywood, escrito pelo jornalista Mark Harris. Para entrar de cabeça nesse mundo, Harris faz um raio-x das cinco produções que concorreriam ao Oscar de Melhor Filme em 1968: Bonnie e Clide, A Primeira Noite de um Homem, No Calor da Noite, Adivinhe quem Vem para Jantar e O Fantástico Doutor Dolittle.

Divulgação.
Cenas de uma Revolução: livro detalhe o surgimento do movimento que mudou a indústria cinematográfica americana na década de 1970.

O livro, lançado pela LPM no Brasil em maio de 2011, é essencial para entender esse momento tão peculiar na indústria cinematográfica e na cultura americana como um todo. Harris não tem pressa e é preciso que os leitores estejam prontos para descrições detalhistas que, muitas vezes, fogem do escopo do cinema em si. Apesar do livro estar centrado nos dois filmes mais influentes para o surgimento da Nova Hollywood, as outras três produções que concorreram ao Oscar recebem quase o mesmo espaço, o que pode frustrar alguns.

Por outro lado, o contexto mais abrangente serve para um mergulho no funcionamento da indústria, principalmente no que se refere aos percalços, executivos gananciosos e idas e vindas na concepção de um filme. A gênese de Bonnie e Clyde, por exemplo, é retratada desde o ano de 1963, quando os roteiristas e jornalistas da Esquire, Robert Benton e David Newman, tiveram a ideia de escrever uma história sobre o famoso casal de assaltantes. O “sonho” dos dois era que o ídolo da dupla, François Truffaut, dirigisse o filme. Não rolou, claro. Mas, mesmo assim, a produção protagonizada por Warren Beaty e Faye Dunaway entrou pra história.

Cenas de uma Revolução pode ser encontrado com facilidade nas livrarias ou sites de compras. O preço é salgado. No Submarino, está saindo por R$ 64,90. Já nas livrarias Saraiva, Cultura e Curitiba, o preço é R$ 72. É um investimento e tanto, mas, se você, como eu, é um fã ardoroso da Nova Hollywood, a leitura é obrigatória.

Há ainda outro livro tão bom quanto, que foca mais a nova geração de diretores em si: Como a Geração Sexo, Drogas e Rock’n Roll Salvou Hollywood (Easy Riders, Raging Bulls, editora Intrínseca), de Peter Biskind, lançado no Brasil em 2009. Mas falaremos sobre esta obra em outro post. Até porque o assunto Nova Hollywood vai ser constante por aqui.

Ah, e antes que eu esqueça: quem levou o Oscar de Melhor filme em 1968 foi o policial No Calor da Noite, dirigido por Norman Jewison e estrelado por Sidney Poitier. Fora o prêmio de melhor diretor para Mike Nichols, Bonnie e Clyde e A Primeira Noite de um Homem foram esnobados na premiação. Talvez a Academia ainda não estivesse pronta para filmes que retratassem um casal sexy com problemas sexuais cometendo crimes por aí, ou uma adorável mãe de família seduzindo o filho do amigo.

Divulgação.
A Primeira Noite de um Homem, No Calor da Noite, Bonnie e Clyde, O Fantástico Doutor Dolitte e Adivinhe quem vem para Jantar: os concorrentes ao Oscar de Melhor Filme em 1968.

Ficha técnica

Cenas de uma Revolução – O Nascimento da Nova Hollywood (Pictures at a Revolution)
Autor: Mark Harris
Editora: LPM
Nº de páginas: 488
Formato: 16×23
Lançamento: maio de 2011 (primeira edição)

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