Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

Todos Dizem Eu Te Amo: a deliciosa bobagem musical de Woody Allen

Julia Roberts e Woody Allen: só um entre tantos casais improváveis em Todos Dizem Eu Te Amo (Foto: Divulgação). (Foto: )
Julia Roberts e Woody Allen: só um entre tantos casais improváveis em Todos Dizem Eu Te Amo (Foto: Divulgação).

Julia Roberts e Woody Allen: só um entre tantos casais improváveis em Todos Dizem Eu Te Amo (Foto: Divulgação).

Este fim de semana, inebriado pelo tédio de uma tarde nublada em Curitiba, resolvi assistir a um filme que estava na lista de espera faz tempinho. E não à toa. Apesar de Woody Allen ser um de meus diretores prediletos, musicais estão longe de figurarem na minha lista de interesses cinematográficos. Por isso, estava com o pé atrás em relação a Todos Dizem Eu Te Amo (Everyone Says I Love You, 1996). Acontece que o filme de Woody não é bem lá um musical típico. Seja pro bem ou pro mal.

A começar pela história. Todos Dizem Eu Te Amo gira em torno de uma família novaiorquina de ricaços, que vivem a gastar sem muita preocupação. O que conduz o roteiro são as idas e vindas, ilusões e surpresas que marcam os relacionamentos afetivos dos integrantes desta família ao longo de um ano. Woody Allen, que escreveu e atuou no filme, apresenta uma série de episódios quase banais, porém divertidos. Como bem destaca o título, o roteiro nada mais é do que uma singela celebração ao amor, às paixões superficiais e aos laços duradouros. Tudo embalado por alguns números musicais entoados pelos atores e coadjuvantes, sem coreografias estrambólicas e, o que causa mais estranheza, sem exigir demais dos cantores.

Tanto que, ao contratar o elenco, Woody nem teria comentado com os atores de que se tratava de um musical. “Nunca me ocorreu contar a ninguém, porque eu queria fazer um musical sem considerar se as pessoas sabiam cantar ou não”, resumiu o diretor ao jornalista Eric Lax. O resultado é, no mínimo, inusitado. Os atores cantam sem a pompa e a afinação normalmente vista em filmes do gênero. É curioso ver figuras como Julia Roberts, Edward Norton, Drew Barrimore e até Tim Roth soltando a voz e levando a ideia de Woody ao pé da letra.

“Quando eu estava fazendo o filme, o pessoal do Departamento de Música dizia: ‘Eles não sabem cantar!’. E os distribuidores diziam: ‘Eles não sabem cantar’. E eu continuava dizendo: ‘É, eu sei, a ideia é essa. Cantar como cantam no chuveiro, que nem gente normal, a ideia é essa. Não quero que o Edward Norton comece a cantar e soe igual ao Pavarotti’. Não chamei cantores. Chamei atores convincentes”, relata Woody. O depoimento está no ótimo livro de entrevistas Conversas com Woody Allen, do já citado Eric Lax.

Pra completar, os números musicais (se é que dá pra chamar assim) surgem das mais controversas situações. Um médico começa a cantar ao ver um exame de raio-x. O personagem de Edward Norton inicia a canção ao conversar com um vendedor quando compra um anel de noivado. E, numa das cenas mais surreais, o próprio morto canta e dança em seu velório, acompanhado de dançarinos fantasmas. Até o próprio Woody Allen arrisca uns versos, vejam só.

Assim como em muitos filmes do gênero, qualquer situação pode servir de

Assim como em muitos filmes do gênero, qualquer situação pode servir de “desculpa” para um número: desde a compra de um anel até o exame de uma radiografia (Foto: Divulgação)

Ao fim, Todos Dizem Eu Te Amo é isso: uma deliciosa bobagem musical que não se leva a sério e, por isso mesmo,pode ser apreciada e degustada sem preconceitos (seja por parte de quem adora musicais quanto de quem odeia). É provável que, já no dia seguinte, muito do filme não permaneça na sua memória. Mas tudo bem. Nem sempre precisamos de obras que mudem nosso jeito de pensar ou se relacionar. Um pouco de escapismo, quando reconhecido como tal desde o princípio, não faz mal a ninguém.

*

Veja abaixo alguns dos “números musicais” apresentados no filme e deixe sua avaliação aqui no blog: afinal, os atores mandaram bem no gogó ou não?

*

É fã de Woody Allen? Leia outros posts feitos sobre o diretor aqui no blog!

O Dorminhoco: o bizarro sci-fi de Woody Allen

Mais Woody, menos Prozac

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.