Uma das maiores provas da falta de maturidade política de um povo é querer dividir qualquer discussão entre apenas dois lados. Ou você é PT ou é PSDB. Ou você é governo ou é oposição. Ou você gosta de futebol e assiste à Copa das Confederações ou apoia a onda de protestos…
Muito provavelmente a maioria dos brasileiros não é petista nem tucana. Também consegue entender sem maniqueísmo o que fizeram de bom (e de ruim) FHC e Lula. E, afinal de contas, o sujeito pode torcer para a seleção e marchar com o resto dos manifestantes pela redução das tarifas (ou por mais recursos para a saúde e educação).
Mais além: alguém é capaz de dizer que o Brasil não melhorou nos últimos 15 anos? E, ao mesmo tempo, alguém é capaz de afirmar que a corrupção não continua sendo uma das chagas do país?
Ontem estava lendo um texto do ex-deputado Fernando Gabeira que ajuda a compreender o quanto essa despolarização é complexa. Um dos mais famosos ativistas contra a ditadura militar, Gabeira diz que nos anos 1960 tudo era contaminado pela guerra fria e pela oposição entre capitalismo e socialismo.
“Nos anos 60, predominavam grupos marxistas. Hoje, os marxistas são apenas um apêndice. Alguns partidos de extrema esquerda nem conseguiram erguer suas bandeiras”, diz Gabeira.
Essa complexidade ideológica do movimento atual – e até mesmo a ausência da ideologia tradicional – torna tudo mais imprevisível.
E, ao mesmo tempo, mais interessante.
Afinal, nem tudo se resume à esquerda ou direita. Nem tudo no país do futebol é Fla-Flu.
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