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Amor Genuíno…(XLI)
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“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, eu nada seria.”
(Paulo I Corintios cap 13)


Meu texto hoje está longo e perdoe-me se cansar você.

Conversando com meu filho…

“05.03.2002, são 3 horas da manhã…

Oi filho,
hoje quem está sem sono sou eu.
Graças a Deus você melhorou das suas cólicas e passou bem o seu dia.

Penso que devo tomar ainda mais cuidado com a minha alimentação.
Algumas pessoas dizem que, dependendo do tipo de alimento que eu como, ele vai interferir na sua digestão.

Não sei qual é a lenda a respeito, mas sei que se eu pudesse, trocaria de lugar com você quando te vejo se contorcendo por conta das cólicas.
Vou prestar mais atenção no que ando comendo e nos efeitos que podem te causar.

Observo você resmungar e virar sua cabeça de um lado para outro.
Não sei se já te contei, mas você já faz “flexões”.
Você parece um tourinho e apoia-se nas mãos e braços quando está de bruços e fica mexendo sua cabeça de um lado para outro.

Suas perninhas são firmes e quando te damos banho parece que vai sair correndo de dentro da banheira.
Acho que será corredor igual seu primo Israel.
Um dia irá conhecê-lo e depois me contará se estou enganada.

O mais engraçado de tudo é que a banheira fica em cima de uma cômoda com espelhos. Daí você se distrai olhando para as nossas imagens refletidas e presta atenção como se visse algo extraordinário.
Você faz uma cara de sério, fica compenetrado, “filosofando” sobre o banho e as imagens que vê.
Seu pai e eu achamos muita graça nisto.

Eu começo a entender sua comunicação comigo pelos resmungos que dá.

Quando está com fome, resmunga mexendo a cabeça de um lado para o outro tentando encontrar um peito cheio de leite para mamar.

Quando alguma coisa te incomoda, resmunga tentando nos dizer “- aqui, não ali, ou troca minha fralda, mãe!” Observo o que é até encontrar o incômodo e deixá-lo mais confortável.

Quando está com dor, este é o mais fácil de identificar porque resmunga e geme e dá uns gritinhos acompanhado de choro.
E lá vou eu tentar te acalmar.
E quando está bravo, resmunga como um velhinho rabugento resmungaria se alguém mexesse em suas coisas.

Quando dorme, geralmente de bruços, que é para esquentar sua barriguinha e diminuir as cólicas, resmunga igual o velhinho ali atrás…

Por causa disto, várias vezes pulei assustada da cama com medo que estivesse acontecendo alguma coisa com você.
São os “tiques” de mãe de primeira viagem.
Mas depois acabei por me acostumar e consegui dormir um pouco mais.

Dizem que os pais nunca dormem, cochilam. Então, comecei a “cochilar” com mais tranquilidade.

Filho, quero que saiba que te amo muito, muito.
Haverá momentos em que, por um motivo ou outro eu não conseguirei expressar o meu amor.
Não porque eu não queira, mas porque não saberei como fazê-lo.

E se nestes momentos eu conseguir apenas te abraçar em silêncio, entenda que é o meu jeito de te amparar, socorrer, e te dizer sem as velhas e mágicas palavras o quanto eu amo você.
Foi o jeito de mãe que eu encontrei para fazer você sentir o meu amor.

Filho, vou dormir um pouco, estou exausta.
Boa noite, bons sonhos e descanse.
Vou tentar fazer o mesmo agora.”

Lições que aprendi…

Penso que para alguns pais não deva ser fácil dizer ou demonstrar ao seu filho o quanto o ama.

Atualmente a mídia encoraja-nos a substituir o afago, a palavra carinhosa, a presença, por brinquedos, por jogos, por viagens, estabelecendo uma troca comercial para o amor.

São jovens, na sua maioria, crescendo pobres em sentimentos, em respeito, em preocupação com o próximo.
Tornam-se adultos ególatras, voltados apenas para o seu umbigo.

Basta observar as relações de trabalho nas empresas e nas escolas, basta observar o joven na “night”, basta observá-lo no trânsito, aliás, este último daria um belo trabalho de monografia, de conclusão de curso, do curso da vida.

A falta de educação impera nas ruas montada em belas carruagens modernas e motorizadas transportando damas e cavaleiros contemporâneos, bem vestidos, infelizes, mal amados e mal resolvidos.

Onde será que perderam a mão da generosidade, do respeito e do bom senso?
Na minha casa, com certeza não foi.
Não com meus pais, nem com meu filho.

E trabalho para não permear meu filho de falsas palavras ou promessas ou de atitudes de vitrine.
E cuido para não colocar preço no nosso amor.

Na minha adolescência eu achava que meu pai gostava mais dos meus irmãos.
Sempre tive um enorme respeito por ele e o tempo todo cuidava para não decepcioná-lo, ao contrário, queria que tivesse orgulho de mim.

Fui boa aluna, não tive problemas na escola.
Na época fazíamos trabalhos escolares em cartolinas para serem expostos nos corredores.
Havia uma expectativa para saber qual seria o mais bonito, qual teria a maior nota, qual qual…?

Era difícil concorrer com a Suzana…
Uma japonesinha que desenhava e pintava lindamente.
Não. Era impossível concorrer com ela!

Mas um dia, um belo dia, o meu trabalho sobre o Sabiá ganhou!
Teve a melhor nota e estava ali, exposto aos olhos de quem quisesse ver!

Não era pelo desenho, não era pela pintura, mas era pelo texto que ali estava escrito a respeito daquele passarinho…
Nossa, como fiquei feliz e orgulhosa de mim mesma!

Descobri que todo filho quer que seus pais sintam orgulho dele, não era só minha esta vontade.

Mas, como adolescente, em fase de erupção de ideias e dona da verdade, seguia adiante com a dúvida, e fazia brotar o sentimento de rejeição que me acompanhou por longos anos em minha vida adulta.

Será que meu pai gosta mesmo de mim?
Será que ele se sente orgulhoso de mim?
Seria mais fácil perguntar, não é mesmo?

Egoísta, e porque não dizer ególotra também, para entender e interpretar a forma como meu pai comunicava-se comigo e transmitia seu carinho.
Cresci e demorei para enxergar COMO ele fazia isto.

Ele sempre nos proporcionou conforto em casa, a mim e meus irmãos, nunca passamos por uma situação financeira que nos gerasse preocupações.
Eu tive as melhores escolas, roupas, sapatos, carro zero…
E mesmo assim, achava que ele não gostava de mim…
Alguma semelhança com alguém que conheça?

Enfim, um dia, quando tinha meus dezenove para vinte anos, perceba quanto tempo se passou, enquanto eu falava sobre as aflições que iam ao meu coração para a Marta, uma cabeleireira amiga da minha mãe, ela me contou a história da ovelha desgarrada.

Lembro-me das palavras simples as quais ela carinhosamente me dizia:

“ – Celi, quando um pastor tem um monte de ovelhas e uma delas desaparece do meio das outras, ele deixa todas elas e sai a procura daquela que se desgarrou.
Ele não deixa de se preocupar com o seu rebanho, mas sabe que aquela ovelha que se perdeu é a que mais precisa do seu auxílio porque não achará o caminho de volta sozinha.”

Continuou…

” – E assim são nossos filhos, não deixamos de prestar atenção em um para dar mais atenção e desprender maiores cuidados a outro, mas um pai e uma mãe, sempre sabem com qual filho podem contar e qual filho eles precisarão buscar para não se perder no caminho.”

Embora Marta fosse clara na sua história eu não acreditava que meu pai pudesse me ver assim.
O que eu sentia, era muito diferente disso.
E também não entendia se eu era a filha que podia contar ou a que ficava atrás para não se perder no caminho… minha teimosia deixava-me cega para sentimentos.

Eu demorei quase uma vida para entender a maneira que meu pai demonstra seu carinho por mim.

A maturidade trouxe-me a beleza das reflexões proporcionadas pelas experiências que pude viver.

Como já escrevi antes:

“Nas muitas vezes que tentei editar o Diário para ser publicado dei-me permissão para fazer uma autoanálise a respeito da minha baixa autoestima e dos meus sentimentos de rejeição trazidos desde a adolescência.
Também pude olhar e tratar da inveja e do ciúme decorrentes da minha convivência familiar que alimentei até a maturidade.”

Ainda bem que fui e sou uma pessoa em crise, do contrário não teria permitido me fazer tantas análises e autoanálises a respeito dos meus sentimentos.

Aprendi que o momento de dizer, mostrar e demonstrar meu amor por meu filho ou por aquele que amo é hoje, é agora.
Filho, marido, pais, irmãos, amigos, familiares, quem seja ou onde seja.

Tantas vezes me vem à cabeça a música do Renato Russo: “…é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã…” que nunca mais deixei passar a oportunidade de dizer as pessoas que amo o quanto as amo.

Passei por uma situação onde, ao ligar para um amigo querido para levar meu filho para que ele o conhecesse, fui atendida por sua irmã Luciana dizendo-me…ele se foi…*

A vida é efêmera, passa rápido demais para deixarmos nossos amores, nossas flores e nosso jardim sem cuidados, sem a água da atenção, do carinho, da presença.

Não deixe passar nem deixe de carregar em suas mãos o seu regador…

Enquanto eu escrevia este texto minha mãe ligou e antes de terminá-lo, liguei para o meu pai.
E depois de conversarmos e rirmos um pouco eu disse a ele:

EU TE AMO, OBRIGADA, VOCÊ É MUITO IMPORTANTE PARA MIM, NA MINHA VIDA.

E detalhe… Desta vez consegui falar sem chorar.

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* Para Marcelo Chuchene,
de onde estiver, receba um beijo meu e do Antonio.
Deus te abençoe.

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