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As lições desta Copa
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A Copa do Mundo tem demonstrado ser uma verdadeira sala de aula sobre comportamento humano, ética (ou falta dela), preconceito, machismo, xenofobia, violência, humildade, etc A lista é grande, mas vamos citar apenas alguns exemplos que merecem uma reflexão mais profunda, sob nosso ponto de vista, apesar de alguns deles já estarem sendo exaustivamente tratados nas redes sociais ou rodas de conversa.

1 – Vídeos de homens brasileiros a aproveitarem-se da diferença entre as línguas portuguesa e russa e colocarem mulheres em situação de constrangimento, comentando, cantando e ensinando-as a cantar letras sórdidas sobre seus órgãos sexuais, numa completa falta de bom senso e respeito, em atitudes machistas e misóginas;

2 – Jornalistas mulheres, em sua maioria latinoamericanas, serem abordadas por homens que tentavam beijá-las sem sua permissão enquanto estavam a trabalhar e gravar matérias para canais de televisão de seus países, nos relembrando o quanto é importante e urgente discutir feminismo, assédio e violência de gênero;

3 – Espetáculos de arrogância, teatro e “síndrome de Peter Pan” entre os jogadores em campo, comportando-se como meninos mimados, quando são contrariados pelo juiz. O vale-tudo do eterno cai-cai de alguns jogadores que fazem cara de dor e choro para ver se conseguem a falta para o adversário chega a ser irritante. Basta o juiz mostrar um cartão e levantam-se como se nada tivesse acontecido. Isso é Fair Play ou estamos levando para o campo o velho ditado corrupto “o mundo é dos espertos”?

4 – Ainda nas partidas de futebol, em campo, lamentamos o fato de alguns jogadores ao comemorarem seus gols usarem formas desrespeitosas e provocativas, como foi o caso dos suiços Lichtsteiner, Shakiri e Xhaka. Com origem albanesa (por parte dos pais), ao comemorarem o gol no jogo contra a Sérvia, realizaram gestos que fizeram menção à bandeira da Albânia, região que declarou-se independente daquele país em 2008, mas cuja independência não é reconhecida por todos os países do mundo e nem pela Sérvia. Uma clara provocação política proibida nos mundiais e que foi punida pela FIFA.

5 – A FIFA também advertiu e puniu a Associação Dinamarquesa de Futebol em 20 mil francos suíços por causa do mau comportamento dos torcedores do país no jogo contra a Austrália, que terminou em 1 a 1. Esse foi apenas um dos casos de mau comportamento de torcedores. No jogo entre Brasil e Sérvia, por exemplo, torcedores das duas equipes envolveram-se em um confronto, que por sorte foi de pequena dimensão, tendo-se em conta que nas Copas do Mundo as torcidas não são separadas, justamente porque entende-se que adultos deveriam ter consciência e maturidade de não brigarem por causa de rivalidades em campo.

6 – Uma das preocupações antes da Copa na Rússia era justamente ligada a questões relacionadas a racismo, homofobia e xenofobia, comuns naquele país. Pergunto-me se em pleno século XXI faz algum sentido ainda estarmos a falar desse tipo de preconceito. E preocupa-me que seja justamente em uma atividade como o esporte, que deveria unir as pessoas, servir como uma escola onde aprende-se a ganhar e a perder, sobre trabalho em equipe, solidariedade, humildade, etc

7 – E falando em humildade, podemos citar a grande e poderosa seleção alemã, campeã da última Copa, eliminada este ano ainda nas fases de grupo. Isso mostra que o mundo gira, e quem está por cima hoje, pode estar em outra posição amanhã. Que não podemos cantar a vitória antes do tempo. Que a luta no campo e fora dele tem que ser até o apito final, porque um gol decisivo pode acontecer nos últimos segundos.

A vida não se resume a onze homens correndo atrás de uma bola, mas esse cenário serve bem para uma representação do que vivemos, seja em campo ou fora dele.

O comportamento de (parte de) uma nação pode ser visto nas arquibancadas, na forma como a torcida torce pelo seu time (sem insultos à outra equipe, sem humilhações, sem aceitar a provocação do adversário); na forma como deixa ou não um estádio limpo; na forma como trata as mulheres, as crianças, a população LGBT e os habitantes locais; como repeita (ou não) as tradições do lugar.

A vida está nos pequenos detalhes! E a Copa veio nos mostrar a importância de cuidarmos deles.

*Cristiane Parente de Sá Barreto é Jornalista, Educomunicadora, Sócia-Fundadora da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), Doutoranda em Comunicação e Pesquisadora do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade – CECS da Universidade do Minho, Bolsista da CAPES, Mestre em Educação pela UnB e em Mídia e Educação pela Universidad Autónoma de Barcelona. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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