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Agora sabemos a quem serve a Petrobras
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Foi visivelmente contrariado que o ex-presidente da Petrobras Pedro Parente veio a público na última semana para anunciar um desconto no preço do diesel por 15 dias. Era o prenúncio de que a política de preços da companhia, e com ela a credibilidade de sua gestão, estava na mira do grupo político que acompanha o presidente Michel Temer.

Em sua carta de demissão, Parente toca no que é o grande debate a respeito da Petrobras: a quem ela serve? A referência a seu compromisso com o bem público é um recado claro de que o governo pisou além da linha que separa a boa gestão do populismo que quase arruinou a Petrobras.

É natural que existam visões diversas sobre a serventia de uma empresa. Elas vão do ultrapassado capitalismo selvagem dos conglomerados da virada do século 20, passam pelo desenvolvimentismo de meados do século passado e pela construção das estrelas voláteis da bolsa da virada do século 21 (quem lembra do caso Enron?), para citar três ideias que naufragaram com a história, mas que ainda hoje convencem muita gente.

Ao longo do tempo, vemos que as empresas que mais servem à sociedade são aquelas que aliam bons resultados financeiros, inovação e tratamento justo às pessoas que estão envolvidas direta ou indiretamente nos negócios. Boas empresas têm foco no que querem fazer de melhor, dão espaço para as pessoas criarem e, porque dão certo, são pilares do desenvolvimento. Pode não parecer, mas esse é um bem público, independente de a companhia ser estatal ou não.

O problema da Petrobras é que a boa governança conflita com duas outras visões sobre a empresa. A primeira é a dos políticos, que a veem como um braço do poder que exercem dentro do Estado. A segunda é a de parte expressiva da população que vê a Petrobras como um ente público que precisa atender ao desejo coletivo de preços baixos nas bombas. E as duas visões se casam no que se configura no populismo dirigista que tanto gosta de empresas públicas.

Como a Petrobras foi formada sob a ordem do populismo, é difícil argumentar que o melhor para o país é a boa governança, aquela capaz de atender interesses diversos e sustentar o crescimento da empesa. Mas é isso que tirou a companhia do buraco nos últimos dois anos e a levou de volta ao lucro – no primeiro trimestre deste ano, a empresa teve seu maior lucro desde 2013, seu endividamento caminhava para níveis saudáveis e ela já falava em elevar seus planos de investimento.

Ao governo não parece interessar o plano de investimentos para 2020, mas sim o preço do diesel aqui e agora. Incapaz de lidar de frente com a greve dos caminhoneiros ou buscar uma solução independente da Petrobras, a ala política costurou um acordo que subsidia o combustível. Pode não ser uma medida que afeta seu resultado hoje, mas ela abre a porta para o próximo passo caso o petróleo continue subindo, que é a intervenção direta na empresa, seja por este ou pelo próximo governo.

Durante a greve, muita gente questionava por que a Petrobras tinha que fazer preços em dólar. É porque seus custos são em dólar, já que o petróleo é uma commodity negociada nesta moeda. A empresa vende e compra petróleo e derivados no mercado internacional. Há ainda outra razão: os preços precisam refletir o mercado internacional para que haja competição. É uma razão que beneficia consumidores no longo prazo e que até mesmo contraria a vontade natural de grandes empresas de usar seu poder de mercado para construir monopólios. Outro motivo por trás da política de preços da Petrobras é que ela não maquia o sinal dos mercados: o diesel e a gasolina ficaram mais caros e essa é uma realidade com a qual temos de lidar.

Pedro Parente resistiu em aceitar a proposta para assumir a Petrobras em 2016. Parecia adivinhar que a ala política do governo no fundo não é reformista. Nem Temer, nem seu agora ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, querem honestamente reformas profundas. Eles são de um tempo em que a política servia para levantar malas de dinheiro vivo para perpetuar o poder. Resta saber agora se vão continuar cozinhando o mercado com a aparência de que querem consertar o país ou se vão aproveitar a chance de fazer a Petrobras voltar às políticas do tempo do petrolão.

Mas não nos enganemos. A empresa não serviria melhor ao país mesmo se desse diesel e gasolina de graça.

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