A descida da Serra da Graciosa, um dos roteiros turísticos mais famosos do Paraná, ganha uma nova perspectiva se feita sobre uma bicicleta. O passeio pelo antigo traçado da estrada pela Serra do Mar percorre um dos trechos da Mata Atlântica mais bem preservados de todo o país e esconde belezas e detalhes que passam despercebidos por quem faz o mesmo caminho de carro.
A ideia de descer a Graciosa de bike surgiu na última sexta-feira. Pelo Facebook, postei convite que foi respondido por alguns amigos que toparam a aventura. Pela própria rede, um amigo me colocou em contato com outra turma que também estava planejando o mesmo passeio.
O ponto de encontro foi uma padaria na Avenida N. S. da Luz, no Alto da XV. Saímos pontualmente às 8h30, como combinado, em seis ciclistas – outros quatro se somaram ao grupo durante o trajeto.
Começamos a pedalada na BR-116, sentido Trevo do Atuba. De lá seguimos por dentro, passando pelo condomínio Alphaville e pelo município de Quatro Barras – onde paramos para um breve descanso, um pit stop no banheiro e a reposição de líquidos.
Esse primeiro trecho, aliás, merece uma atenção especial, já que é grande o número de casos de ciclistas que são assaltados nessa região.
É dali para frente que a paisagem começa a ficar mais bonita, como a vista recompensadora da represa do Iraí – que abastece Curitiba e a Região Metropolitana –, após um longo trecho de subida.
Aliás, é preciso deixar bem claro: descer a serra é só uma licença poética. Se engana quem pensa que o passeio é feito apenas de flores e descidas. O trecho em declive da Graciosa compreende apenas 15 quilômetros e, para chegar até lá, é preciso pedalar e suar muito, encarando subidas de tirar o fôlego. A situação fica ainda mais extenuante sob um sol escaldante e uma temperatura acima dos 30ºC.
Na primeira vez que fiz esse passeio – há quase dois anos –, o caminho da antiga Estrada da Graciosa era todo de terra e saibro. Agora, os 20 quilômetros da rodovia contam com intervalos de asfalto e outros de paralelepípedos – o que faz com que a pedalada renda bem mais.
A certa altura, é possível seguir pela rota antiga, também conhecida como Trilha do Alemão, que mantém o piso original da estrada. Nessa parte, a mata é fechada e a estrada fica sombreada na maior parte.
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Durante todo esse percurso na trilha, apenas um carro passou por nós. É possível pedalar ouvindo apenas o som das rodas da bicicleta na terra e o canto das arapongas, no meio da mata: téim, téim, téim. O canto mais irritante acaba se fundindo ao som das cigarras, se transformando em uma sinfonia da natureza que incentiva a pedalada.
A trilha termina na Estrada da Graciosa, praticamente na altura do mirante, onde é possível observar as montanhas de um lado e a Baía de Antonina ao fundo. Dali para frente vem a descida propriamente dita.
O trecho é sinuoso e, em algumas partes, o piso é de paralelepípedo. É fácil atingir a velocidade de 50 quilômetros por hora sobre a bike. O dilema é: deixar a bicicleta solta ou frear? Você ali, chacoalhando e a adrenalina a mil. A sensação é fantástica: a descida, o vento no rosto, o ar puro.
A descida termina na ponte do Rio São João. Logo a frente, há uma vila com o mesmo nome. Paramos por alguns minutos para tomar água, descansar e esperar os ciclistas que ficaram para trás. Ali o grupo se dividiu: parte seguiu para Antonina, outra parte seguiu para uma pousada próxima para tomar banho de rio e eu segui com outros dois amigos para Morretes.
Antes disso, porém, um furo no pneu dianteiro da minha bike exigiu mais alguns minutos na operação de troca – a qual contei com a ajuda do Edson Kaminski, que me emprestou uma câmara reserva para poupar o tempo de ter que remendar a outra furada e da Sandra Joanides, que botou a mão na graxa para me ajudar.
Até chegar em Morretes são mais 8 quilômetros de terreno plano e uma reta que parece não ter fim. Faltando 6 km para chegar na cidadezinha histórica, é possível avistar a igreja ao fundo, mas parece que ela nunca chega, por mais que se pedale.
Por fim, quando chegamos, fomos direto para a Rodoviária, comprar a passagem de ônibus de volta. A passagem Morretes custa R$ 13, mais R$ 20 de taxa para o transporte da bicicleta.
Resolvida a questão, fomos para o restaurante Casarão, onde eu, Luís Bulek e João Guilherme Brotto comemos o tradicional barreado, prato típico de Morretes, além de peixes e frutos do mar para repor as calorias perdidas durante a pedalada. Depois disso, para fechar, um sorvete de gengibre e banana; mais morreteano que isso, só com cobertura de barreado!
*Gastos:
R$ 15 (café da manhã na padaria: 1 bauru, 1 suco de laranja e 3 barrinhas de cereal)
R$ 50 almoço (barreado e frutos do mar)
R$ 2,50 (sorvete de gengibre e banana)
R$ 33 (passagem de volta)
Dicas
– Busque um caminho alternativo para evitar a BR-116 (Linha Verde) até o Trevo do Atuba. Há muitas obras após o viaduto da BR-277 e a travessia é perigosa para os ciclistas;
– Vá em grupo, de preferência com alguém que já conhece o caminho. Assim um cuida do outro e dificulta eventuais ações de assaltantes na Região Metropolitana;
– Revise sua bike, em especial os freios, que serão muito exigidos durante a descida.
– Leve muita água e vá se hidratando durante todo o passeio;
– Use muito filtro solar. Lembre-se de reforçar as camadas a cada 2 horas de exposição ao sol;
– Leve um kit com ferramentas básicas e remendo ou câmara reserva.
Obs: O título desse post é inspirado na música “Vou de Bike”, da banda curitibana Real Coletivo Dub.
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