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(Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná)
(Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná)| Foto:

O ex-governador Beto Richa (PSDB) não foi alvo da 55ª fase da operação Lava Jato, batizada de Integração II. Ainda assim, o nome do tucano é recorrente no despacho proferido pelo juiz Paulo Sérgio Ribeiro, da 23ª Vara Federal Criminal de Curitiba. A decisão cita um trecho das investigações do Ministério Público Federal em que os promotores são taxativos sobre o papel que o ex-governador exercia no esquema de corrupção que está sob investigação envolvendo agentes públicos e as empresas concessionárias dos pedágios do Anel de Integração do Paraná.

“Carlos Alberto Richa (Beto Richa) foi governador do Paraná entre 2011 e 2018. Teve papel central no esquema de obtenção de vantagens indevidas mediante favorecimento de concessionárias de pedágio, determinando os atos de ofício a serem praticados em favor de diversas empresas, sendo que boa parte dos recursos indevidamente arrecadados eram vertidos para suas campanhas políticas ou em seu benefício pessoal”, diz o trecho da investigação citado no despacho.

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Na investigação, o Ministério Público divide o esquema em quatro núcleos distintos: político; técnico; dos administradores das concessionárias favorecidas; e dos intermediadores de dinheiro em espécie. Richa aparece como figura central do núcleo político.

A ele aparecem relacionados seu irmão, Pepe Richa, ex-secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná, que foi preso na operação desta quarta-feira (26); Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete do governador – preso desde o dia 11 de setembro pela operação Piloto, também ligada à Lava Jato; Ezequias Moreira, ex-secretário de Cerimonial do governo; e Ricardo Rached, assessor direto do ex-governador.

Segundo o MPF, esse grupo era “responsável por nomear diretores e presidentes corruptos em companhias e autarquias estatais, de modo a viabilizar a contratação e o favorecimento de empresas com as quais mantinham relacionamento financeiro espúrio. Este grupo político determinava que os servidores indicados, valendo-se de suas posições de comando, favorecessem determinadas empresas que contratavam com o poder público”.

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Em sua delação, Nelson Leal afirmou que ouviu de Pepe Richa que as concessionárias tinham apoiado financeiramente a campanha do governador em 2010, portanto Beto Richa já tinha assumido o compromisso com as empresas que se fosse eleito iria celebrar os aditivos contratuais para atender os interesses das concessionárias.

Ainda em sua delação, Nelson Leal relatou um encontro que teve com Beto Richa no gabinete do governador. Segundo o relato, Leal – que na época era diretor do DER – recebeu uma ligação do Palácio Iguaçu convocando-o para uma reunião com o governador na mesma manhã. Quando ele chegou ao gabinete, cerca de uma hora depois, estavam na sala Beto Richa e Aldair Petry, conhecido como Neco, que seria o responsável por repassar o pagamento de propina dos empresários aos agentes políticos. Na reunião, Leal disse que Richa “estava muito irritado” com Neco porque ele não estaria repassando os valores da vantagem indevida destinadas ao governador via Luiz Abi. Com isso, diz a investigação, o delator teve a confirmação não só de que Richa conhecia o esquema de arrecadação ilícita como era um dos destinatários do esquema.

Dinheiro para campanha

Assim como na operação Piloto, tomando como base a delação de Nelson Leal Junior, ex-diretor geral do DER, o MPF sustenta que a campanha de Richa ao Senado está sendo financiada com recursos oriundos do esquema de desvios apurados na operação Integração. A ideia inicial, segundo o delator, era que a campanha de Pepe Richa também seria financiada com esse dinheiro, entretanto, o irmão do ex-governador desistiu de disputar uma cadeira na Câmara Federal.

Sobre recursos de campanha, Leal citou também a existência de um comitê financeiro clandestino na campanha de reeleição de Richa, em 2014. Nesse imóvel, localizado no bairro Água Verde, em Curitiba, seria armazenado dinheiro em espécie decorrente de contribuições eleitorais não oficiais. Segundo Leal, somente as pessoas mais próximas do núcleo da campanha de 2014 sabiam da existência e localização do comitê clandestino. O juiz Paulo Sérgio Ribeiro chegou a autorizar buscas no imóvel na manhã desta quarta, mas segundo os procuradores responsáveis, a casa onde funcionou o comitê em 2014 agora é um lar de idosos.

Por meio de nota, a assessoria de Beto Richa informou que o ex-governador nunca foi condescendente com desvios de qualquer natureza e é o maior interessado na investigação de quaisquer irregularidades. “Beto Richa segue confiando na Justiça e tem a certeza que o devido processo legal provará sua inocência”, diz o texto. Os outros envolvidos também negam as irregularidades apontadas pelo MP.

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