Não o é necessário esperar o resultado do segundo turno das eleições para perceber que a onda bolsonarista varreu o Paraná. No primeiro turno, Jair Bolsonaro (PSL) obteve quase 57% dos votos no estado. Em Nova Santa Rosa, por exemplo, no Oeste paranaense, chegou a 81% de preferência. O sucesso entre o eleitorado também aconteceu nas eleições proporcionais. Na Assembleia Legislativa, o PSL passou de nanico – com apenas dois deputados – para maior bancada da Casa, com oito parlamentares.
A onda não ficou restrita ao eleitorado. Bolsonaro é quase unanimidade entre os políticos do estado que têm mandato. É curioso que o candidato cuja força retórica é justamente a crítica à elite política seja o nome apoiado pelos tradicionais e longevos políticos paranaenses.
Para buscar explicações para essa contradição é importante identificar os diferentes grupos que agora se articulam ao redor do capitão reformado no Paraná.
A primeira categoria é a dos aliados de primeira hora, formada por políticos de direita que passaram os últimos anos dedicados a lutar contra os mesmos inimigos de Bolsonaro e na mesma arena onde essas lutas se deram: o Facebook e o WhatsApp. Nesse grupo estão boa parte dos políticos que empunharam bandeiras como da Escola Sem Partido e da retirada do termo “gênero” dos planos de educação.
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Aí estão, por exemplo, os deputados Fernando Francischini e seu filho Felipe, ambos do PSL; o Missionário Ricardo Arruda (PSL) e outras figuras políticas que conseguiram seu primeiro mandato nestas eleições, como é o caso do Sargento Fahur (PSD). Deputado federal mais votado do estado, Fahur é um Policial Militar aposentado que virou meme ao dar entrevistas com variações jocosas da ideia de que bandido bom é bandido morto.
Esse é o bolsonarismo raiz.
Um segundo grupo de políticos que apoiam Bolsonaro é composto por aqueles ligados ao governador eleito Ratinho Junior (PSD). No dia 15 de agosto, poucos dias antes do início da campanha eleitoral, o jornalista Rogério Galindo revelou em seu blog nesta Gazeta do Povo, que Bolsonaro havia gravado um áudio em apoio a Ratinho. A notícia gerou ruído no meio político local porque o PSL já havia aprovado a candidatura própria e Ratinho flertava com a campanha de Alvaro Dias.
No começo do primeiro turno, Ratinho levou o apoio de Bolsonaro em banho-maria e chegou a declarar que votaria em Alvaro. Como a campanha do senador naufragou, Ratinho foi se aproximando de Bolsonaro e entrou de cabeça na campanha após vencer as eleições. Na terça-feira (23), por exemplo, ele foi uma das estrelas do evento de apoio à candidatura de Bolsonaro que aconteceu no restaurante Madalosso, em Curitiba. No palco do evento, um painel gigante com as fotos de Francischini, Ratinho e Bolsonaro. Esse apoio explícito do governador eleito levou para a campanha de Bolsonaro nomes importantes de seu grupo político, como o senador Oriovisto Guimarães (Podemos) e o deputado Marcio Nunes (PSD).
Há ainda um grupo menos articulado de adesistas tardios que parece ter sido impelido pela expressiva votação que o grupo ligado a Bolsonaro teve no primeiro turno. Nessa categoria há gente como Alex Canziani (PTB) e uma boa quantidade de prefeitos de municípios do interior que estão sendo arregimentados por Abelardo Lupion, liderança tradicional da direita paranaense.
Esse movimento tem feito minguar a oposição ao presidenciável no estado. Em conversas de cafezinho alguns deputados até refutam os constantes absurdos propalados por Bolsonaro, mas poucos o fazem em público, com medo da rejeição do eleitorado.
Com o centro da política paranaense pendendo para a direita, Bolsonaro quase não sofre resistência nas instituições políticas do estado. Com exceção dos parlamentares petistas, há apenas dois políticos com mandato apontando as incoerências do candidato do PSL: Roberto Requião (MDB) e Aliel Machado (PSB).
O senador emedebista critica Bolsonaro e apoia declaradamente Fernando Haddad (PT). Aliel Machado não chega a defender a candidatura petista, mas em uma entrevista concedida à Rádio CBN após ser reeleito deputado ele criticou a visão econômica de Bolsonaro e também sua postura em relação à questão ambiental e às minorias. Disse que esses motivos o impediam de votar no candidato do PSL.
É difícil dizer se os políticos paranaenses aderiram à campanha de Bolsonaro por identificação, interesse ou por força gravitacional. Mas é certo que esse movimento mostra que a elite política é resiliente, que a postura anti-establishment de Bolsonaro é restrita ao discurso e que, se eleito, o capitão do exército terá nos políticos paranaenses um sólido apoio para seu governo.
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