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A advogada Janaína Paschoal, um dos autores do pedido de afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A advogada Janaína Paschoal, um dos autores do pedido de afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil| Foto:

Colaborou Sérgio Luis de Deus

O processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, teve vários protagonistas – contra e a favor do afastamento dela. Alguns políticos tradicionais, outros advogados ou líderes de grandes mobilizações populares. Passados dois anos, eles se encontraram novamente, agora nas urnas.

O desempenho mais expressivo foi o da advogada coautora do pedido de impeachment Janaina Paschoal, eleita deputada estadual em São Paulo com 2 milhões de votos. Janaina chegou a ser convidada para vice-presidente de Jair Bolsonaro, que ficou em primeiro lugar no 1º turno da eleição presidencial. Candidata a uma cadeira na Assembleia Legislativa pelo PSL, acabou como a deputada mais votada da história do Brasil.

Já Dilma, como há dois anos, perdeu de novo. Candidata ao Senado por Minas Gerais, ela terminou a apuração em quarto lugar em uma disputa de duas vagas. A ex-presidente liderou todas as sondagens de intenção de voto antes do pleito. Estava confiante na vitória. Dormiu senadora e acordou sem nenhum mandato.

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No final das contas, fez-se justiça. Afastada da Presidência no processo de impeachment, Dilma deveria ter tido os direitos políticos cassados por oito anos, conforme prevê a lei. Mas uma “jabuticaba” criada pelo ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, que presidiu a sessão do impeachment no Senado, com apoio dos senadores, abriu uma exceção, cassando o mandato dela, mas permitindo que a petista pudesse se candidatar nas próximas eleições.

Líder do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri esteve à frente das manifestações de rua que pediram o impeachment de Dilma. Depois, ingressou no DEM e conseguiu 465 mil votos como candidato a deputado federal por São Paulo, ficando na quarta colocação.

Derrotados e presos

Mas nem todos que articularam o afastamento de Dilma se saíram bem nas eleições deste ano. O deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que abriu o processo de impeachment na Câmara Federal, está preso em Curitiba, condenado a 14 anos de prisão por receber propinas em troca de contratos da Petrobras. Em junho deste ano, foi condenado a mais 24 anos por desvios na Caixa Econômica Federal. Impedido de se candidatar, lançou a filha Danielle Cunha como sua herdeira política. Mas ela ficou apenas na 116ª posição na disputa por uma vaga de deputada federal pelo Rio de Janeiro.

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Outro que está preso é o ex-presidente Lula, condenado a 12 anos de prisão por corrução ativa e lavagem de dinheiro no processo do apartamento tríplex do Guarujá. Lula protagonizou um dos momentos mais tensos do impeachment, quando foi flagrado em conversa com a ex-presidente Dilma sobre detalhes da sua nomeação para a Casa Civil, numa tentativa desesperada de salvar o seu mandato dela.

Já o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, a poderosa Fiesp, Paulo Skaf (MDB), viu naufragar o desejo de governar o estado paulista. Ficou de fora do segundo turno, atrás de João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), após ter aparecido na frente nas primeiras sondagens.

Skaf foi o mentor da campanha “Não vou pagar o pato!”, contra o aumento de impostos no governo Dilma, protesto que ficou marcado pelo uso de um pato amarelo inflável gigante em atos públicos em São Paulo, Brasília e outras capitais brasileiras. O artefato acabou se tornando um símbolo do impeachment.

Presidente e relatores às urnas

Com o prestígio alcançado como presidente da comissão especial do impeachment na Câmara dos Deputados, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) tentou se eleger governador do Distrito Federal. Com 169 mil votos (11,1% do eleitorado), não chegou nem ao segundo turno.

Pior foi o desempenho do relator da mesma comissão – que admitiu a abertura do processo de impeachment –, Jovair Arantes (PTB-GO). Após seis mandatos ininterruptos na Câmara, não conseguiu se reeleger. A sua votação caiu de 96 mil em 2014 para 56 mil neste ano.

Arantes se viu envolvido neste ano em um escândalo policial, com a deflagração da Operação Registro Espúrio, que descobriu um esquema de emissão fraudulenta de registros sindicais no Ministério do Trabalho envolvendo políticos ligados ao PTB.

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Dois anos depois de relatar o impeachment no Senado, Antônio Anastasia (PSDB-MG) tenta voltar ao governo de Minas Gerais. Assim como Dilma, liderou as pesquisas de opinião, mas foi atropelado pelo novato Romeu Zema (Novo), que obteve 42% dos votos. Com o apoio de 29% do eleitorado, Anastasia foi para o segundo turno e continua no páreo.

Tropa de choque

Dois dos integrantes da tropa de choque de Dilma no Senado, os senadores petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann tiveram destinos diversos. Hoje presidente nacional do PT, Gleisi refugou a disputa pela reeleição contra os ex-governadores Roberto Requião (PMDB) e Beto Richa (PSDB). Humilde, concorreu a uma vaga na Câmara, sendo eleita com 212 mil votos – a terceira maior votação. Talvez tivesse alcançado a reeleição, já que os ex-governadores ficaram longe das duas vagas. Lindbergh tentou a reeleição e ficou na quarta colocação no Rio de Janeiro. Outra que ficou de fora foi Vanessa Grazziotin (PCdoB), que terminou em quinto lugar no esforço para se reeleger senadora pelo Amazonas.

O voo dos ministros

Parte dos articuladores do impeachment foi acomodada nos ministérios de Michel Temer. Nos primeiros meses de governo tampão, quando o presidente tinha expressivo apoio no Congresso e começava a aprova suas reformas, parecia que os ministérios seriam uma boa vitrine eleitoral. Não foram. O deputado Mendonça Filho (DEM-PE), ex-ministro da Educação, tentou uma vaga no Senado na eleição do dia 7 de outubro. Ficou na terceira colocação e sem mandato.

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O deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), ex-ministro das Cidades, tentou o mesmo voo e ficou na quarta posição. Imbassahy (PSDB-BA), ex-ministro da Secretaria de Governo, não conseguiu nem mesmo a reeleição para a Câmara. Apenas o ex-ministro Ricardo Barros (PP-PR), ex-ministro da Saúde, conseguiu se reeleger deputado. Mas fracassou ao tentar a reeleição da esposa, Cida Borghetti, ao governo do Paraná.

Já o ex-ministro do Planejamento e líder do governo Temer no Senado, Romero Jucá (MDB-RR) fracassou na tentativa de obter mais um mandato como senador. Ficou em terceiro lugar na votação e ficará de fora do Congresso pela primeira vez, após ser líder do governo na casa nos governos Lula, Dilma e Temer.

Partidos encolheram

As siglas que estiveram diretamente envolvidas no processo de impeachment de Dilma – PT, PSDB e MDB (antigo PMDB) – perderam relevância no Congresso, sobretudo na Câmara dos Deputados. O PT perdeu 13 cadeiras na Casa, mas ainda assim se manteve como a maior bancada, com 56 deputados.

Já o PSDB viu sua bancada encolher em 25 cadeiras, de 54 para 29 deputados. Entre os eleitos, Aécio Neves (MG), que temeu por sua reeleição no Senado e decidiu partir para um pleito mais fácil como deputado federal. Derrotado nas urnas por Dilma em 2014, quando tentou ser presidente da República, ele volta à Câmara após ser um dos líderes do impeachment da petista.

O maior tombo ficou reservado ao MDB, que perdeu 31 deputados após ter a maior bancada da Câmara na atual legislatura. Restaram apenas 34 parlamentares ao partido de Michel Temer, o vice-presidente que assumiu o poder com a derrocada da colega de chapa, em 2016.

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