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Golpistas, reacionários e revolucionários
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Burn, burn, yes ya gonna burn

(Rage Against Machine)

 

Todos os reacionários e revolucionários são golpistas e têm um problema com o tempo.

Ser golpista significa alterar a ordem do Estado de Direito por meio de instrumentos políticos próprios do estado de exceção. Golpistas estão dispostos a abandonar a (quase) paz do Estado de Direito para arriscarem todas as fichas num imprevisível estado de luta (armada se necessário). O custo (inclusive de vidas, de injustiças e de abusos) vale à pena frente ao futuro (utópico) que construirão.

Ou  seja, para imporem seus objetivos, ideais e vontades os golpistas querem o Poder, para si ou para outrem, porque, segundo sua visão, o estado de coisas presentes é insuportável e esperar por reformas institucionais é um “luxo” ao qual não podem se dar.

O que diferencia um reacionário de um revolucionário golpista é a sua relação como a velocidade do tempo das instituições.

O primeiro acredita que elas promoveram mudanças muito rápidas e abruptas e que este “progresso” foi longe demais ao levar à possibilidade de formas de vida incompatíveis com “os velhos tempos”, formas libertinas demais, igualitárias demais, “pós-modernas” demais. O reacionário não só quer frear, mas, dar marcha à ré nas instituições para que as coisas voltem a ser como antes: um regresso forçado ao passado.

Já o revolucionário acredita que as instituições jamais serão capazes de promoverem as mudanças para que a sociedade seja mais justa (segundo seu ponto de vista). E ainda que reformas sejam realizadas, o tempo das instituições é muito lento. Como o preço da lentidão é muito alto é melhor arriscar uma ruptura imediata para um novo amanhã: um salto adiante rumo ao futuro ideal.

Há uma tendência a associar os reacionários à direita e os revolucionários à esquerda. Mas, ao contrário do que se possa pensar esta correlação não é necessária. A questão diz respeito ao “tempo histórico das instituições vigentes” e não quanto a ideologia.

Embora, lembre-se de Che Guevara como um importante revolucionário de esquerda, há também exemplos de revolucionários com outros pontos de vista ideológicos (basta lembrar da Revolução Americana e da Revolução Francesa). Se recordamos do (contra) golpe militar de 1964 no Brasil pensaremos que reacionários são os que pretendem uma ditadura militar com Deus, pela Família. Mas, se olharmos para os regimes da Venezuela e de Cuba tenderemos a perceber que lá os reacionários são bem diferentes dos brasileiros de 64.

Entre reacionários e revolucionários não há diálogo, apenas gritos, violência, ódio. Seus discursos são dirigidos apenas ao público que já compartilha dos mesmos ideais. Estão tão certos da verdade da sua posição. Logo, o conflito entre estes radicais só termina quando houver a total dominação do outro (pela escravização, pelo extermínio, etc).

Numa democracia, conservadores prudentes e reformadores os toleram. O contrário não é verdadeiro.

Ultimamente, o que se percebe é que, ora transvestido de um discurso de combate à corrupção, ora sob a forma de defesa do Governo contra um “golpe reacionário” acirram-se os ânimos a um ponto de intolerância preocupante. A crescente onda de reacionários/revolucionários (inclusive aqueles de redes sociais) não nos ajuda a pensar (junto) num futuro melhor para o país.

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