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Tatiana Gravina faz parte do coletivo de designers responsável pelo Joiarte, movimento e vento de joias artesanais contemporâneas de Curitiba. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
Tatiana Gravina faz parte do coletivo de designers responsável pelo Joiarte, movimento e vento de joias artesanais contemporâneas de Curitiba. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)| Foto:

Carol Nery, especial para a Gazeta do Povo

O mercado do design autoral de joias de Curitiba está ganhando força e ganhando mais visibilidade. A partir desta sexta-feira (31), um coletivo de 12 empreendedores, que atuam dentro do conceito slow fashion, estará reunido na segunda edição do Joiarte, para divulgar a diversidade e a criatividade da produção contemporânea das marcas locais, cada um com sua técnica. O evento vai até sábado (1°) no espaço colaborativo Naddya Emmendoerfer – Conceito Criativo, no Batel, motivado por uma estreia que rendeu bons resultados em abril deste ano. Além dos estandes com centenas de peças exclusivas à venda, o 2.° Joiarte terá um ciclo de palestras com profissionais da moda, do design e da consultoria de imagem.

O coletivo Joiarte foi idealizado pela designer gráfica e de produtos Tatiana Gravina. Bisneta de um ourives e joalheiro, ela é especializada em joias contemporâneas e modela as peças à mão em cerâmica plástica. A artista cria suas coleções intuitivamente e diversifica a arte de modelar agregando materiais nobres, como prata, pedras preciosas e pigmentos naturais. Formada em publicidade e propaganda, com especialização em design gráfico e em marketing, conhecimentos em arquitetura adquiridos em dois anos de faculdade e habilidades artísticas manuais, Tatiana assumiu o talento para a modelagem de joias em abril de 2016.

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A designer começou a fazer pequenos eventos na loja de Naddya, especializada em bolsas e que compartilha o espaço com outros artistas criativos de Curitiba. “Tive um insight e percebi que estava sozinha no mercado. Queria conhecer quem estava produzindo da mesma forma que eu e, para fazer esse networking, comecei a procurar pessoas que conhecia neste universo slow fashion, criando acessórios de pouca tiragem”, conta. A edição experimental do Joiarte teve a adesão de 11 marcas e um fluxo maior do que o esperado, de 500 pessoas nos dois dias de evento.

Se na primeira edição os organizadores se surpreenderam com a procura, a expectativa para o 2.º Joiarte é dobrar o volume de visitantes que querem consumir produtos mais personalizados. “Diferente de ir a um bazar que tem arte em roupas, sapatos e acessórios, a grande pegada é sermos voltados exclusivamente aos acessórios. Quem chega para nos visitar está ávido por novidades e, além disso, quer saber como foi feito, qual a história. E conseguimos oferecer acessórios exclusivos, que não encontramos no shopping, com preço competitivo.” A peças custam em média de R$ 100 a R$ 200 reais, com bijus a partir de R$ 59.

Maioria não tem loja física e aposta no crescimento a médio e longo prazo

A maioria das marcas não tem loja física e divulga e comercializa os produtos por meio das mídias sociais. As exceções são o designer Rodrigo Alarcón, uma das marcas pioneiras do design autoral local com 38 anos de história e destaque nesta edição, e a Plabita, de Lígia Massabki, que mantém um e-commerce. Com a união de todas elas em um único ambiente, os profissionais apostam em um crescimento a médio e longo prazo, porém sólido. “Não é interessante um evento muito lotado, onde as pessoas não conseguem ver direito as peças, nem conversar com os criadores. Nem sempre um evento grande significa que seja de sucesso. O mais importante é fazer novos clientes e o intercâmbio entre as marcas”, diz Tatiana, que sentiu nos últimos três meses um crescimento de 40% na visibilidade e retorno dos clientes como resultado do primeiro evento. A artesã produz uma média de 50 peças ao mês e em meses de melhor desempenho chega a faturar R$ 6 mil.

Peça da marca Pablita, de Lígia Massabki, que também faz parte do Joiarte. (Foto: Matheus Conrado/Divulgação).

A designer destaca ainda a rede de contatos com outros profissionais ligados ao segmento da moda, como os consultores de imagem e estilo. “Eles são potenciais aliados nesse processo. Como a maioria não tem loja física, eles ajudam a viabilizar e ampliar a rede de clientes.” A designer Sharoni Aizental cria coleções cápsula, de três a dez peças, que seguem uma linha contemporânea minimalista. Cada exemplar mescla diferentes texturas e formas geométricas e custa de R$ 100 a R$ 30 mil (estas com matérias-primas nobres, como pérolas e pedras preciosas).

Sharoni começou a criar e produzir em 2009. Com uma vitrine em perfis do Instagram e do Facebook, conquistou uma clientela fiel, que termina de pagar uma peça e já investe em outra. Em 2017, criou cinco coleções cápsula e comercializou 320 peças, entre encomenda, pronta-entrega e reciclagem, com um faturamento de R$ 90 mil. A margem de lucro é de cerca de 40%. No primeiro Joiarte, a designer fez um volume de R$ 3 a R$ 4 mil e acredita que possa crescer em 50% nesta edição. “A exposição gera curiosidade e visibilidade. Não é somente uma questão de vendas, mas abertura de canal com consumidor, que busca diretamente o criador e dá um feedback diretamente.”

Ourivesaria tradicional e desenvolvimento de pessoas estão entre os pilares

O trabalho manual é uma das características mais marcantes do movimento slow. Formada em comércio exterior, Sharoni Aizental começou a produzir há nove anos inspirada pelo ofício do avô, que foi proprietário da joalheria Aizental, na década de 1950, na Rua XV de Novembro, em Curitiba, e agregou o conceito de produção tradicional à marca.

Em 2009, ela foi atrás de pessoas que haviam trabalhado com seu avô na joalheria dele e conseguiu encontrar pessoas com experiência em ourivesaria, lapidação e gravação, hoje pouco valorizados por conta da substituição pelo maquinário de produção em série. “São pessoas que ainda não estavam aposentadas e passaram a trabalhar para mim. Comecei a produção em pequena escala e hoje são dez pessoas, entre ourives, cravadores, gravadores e galvanizadores.”

Peça da designer Sharoni Aizental. (Foto: Matheus Conrado/Divulgação).

Um dos ourives que trabalham para a marca tem 76 anos; outro faleceu no mês passado, com 86 anos. “Existe muito ourives sem trabalho, um pessoal mais novo, que acaba mudando de ramo porque o trabalho não é valorizado, pois o cliente quer pagar pouco por um trabalho que leva de dois a três dias para ser feito.”

A VLuxo Concept & Design, de Chris Arcega, foi lançada em 2015 com a ideia do luxo democrático, feito à mão, tangível a todas as pessoas. Uma das propostas é a de envolver outras pessoas no sistema de produção, que resultou na capacitação de mulheres que não têm o mesmo nível de oportunidade de muitas outras, como por exemplo mães de filhos especiais, com alguma limitação cultural ou econômica. “Transformamos em artesãs itinerantes e elas produzem em suas próprias residências”, conta Chris.

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De lá para cá, a marca capacitou 15 mulheres. “São pessoas que geralmente nunca fizeram trabalho manual, então rompe-se o paradigma de que não teriam capacidade. Esta é a primeira percepção. Depois a família e o meio social começam a reconhecer o valor”, relata. Hoje são três em atuação e elas ficam uma média de um ano com a marca, até que se desligam por conta própria, por terem se identificado com alguma habilidade e terem o desejo de alçar novos voos. “Temos artesã que virou costureira, uma outra é fotógrafa. O trabalho gerou condição para ela se desenvolver em algo que ela gostava e ficamos muito orgulhosos por isso.”

Com o reforço das artesãs recrutadas, a VLuxo produziu cerca de 3 mil peças. A marca faz uma média de 150 joias por mês e tem um faturamento bruto em torno de R$ 10 mil neste período. As artesãs ficam com até R$ 900 cada uma, conforme a produção. E todas as artesãs ganham coleções com seu nome. As joias são produzidas com 90% de matéria-prima nacional, entre metais, cordões, fios e embalagens. Elas custam de R$ 79,90 a R$ 240. Neste 2º Joiarte, Chris pretende vender de 20% a 30% mais que na primeira edição do evento, quando comercializou R$ 2,3 mil. Um dos incentivos é a época do ano, com dias que prometem menos frio. “O acessório exige um pouco mais de calor para ser mostrado e estimula as vendas.”

Conheça as marcas e quem são os palestrantes

Participam do 2.° Joiarte, as marcas locais Colares Flor de Pano, Ellen Piragine, Ivy Lipsky, Luciá Consalter Joias, Marília Diaz, Naddya Emmendoerfer Collection, Pablita, Rodrigo Alarcón, Sharoni Aizental, Sig Roeder Joias, Tatiana Gravina e VLuxo.

O ciclo de palestras com profissionais da moda, do design e da consultoria de imagem está com inscrições abertas (www.sympla.com.br) e é limitado a 15 vagas cada uma. São elas Elisa Kohl, Aline Andreazza Bussi, Andressa Rando Favorito e Marcia Caldas Vellozo Machado.

O evento será nos dias 31 de agosto, das 11h às 20h, e 1º de setembro, das 11h às 18h, na loja Naddya Emmendoerfer – Conceito Criativo (Rua Gonçalves Dias, 125, Batel), com entrada gratuita.

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