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Farol Cego ou “nunca escrevi assim sobre o primeiro show de uma banda”
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Seria tarefa das mais ingratas escrever sobre o primeiro show de uma banda se essa banda fosse qualquer uma. Sei lá, daquelas que fazem covers regulares e se satisfazem; daquelas outras tantas que confundem diversão com superficialidade; ou das descompromissadas, que estão na ativa porque acham que subir em um palco é cool e cai bem nesses tempos em que todo mundo é um pouco gênio e um pouco artista.

farol cego

Mais difícil ainda é se surpreender tanto com uma banda em seu primeiro show. Perceber uma maturidade intrínseca, sacar as influências latentes em cada cadência harmônica e enxergar um verdadeiro compromisso com o futuro. Porque um grupo de amigos que se reúne para fazer música nem sempre só quer diversão e zoeira. Ou não só isso. Para essas bandas, já especiais, um outro desafio é fazer com que todos esses pontos positivos – essa primeira impressão otimista – não soe como petulância, início da repulsa em quem tem boa vontade em ouvir. Na última quarta-feira, a Farol Cego (ouça abaixo) rompeu todas essas barreiras e entrou, ao lado do Veenstra, na minha lista particular de apostas e boas surpresas do ano.

O show foi no Wonka, como parte do projeto Wonka Sound Festival – ideia sensacional, aliás, para promover bandas novatas, tendo em vista o restrito espaço para música autoral em Curitiba.

A Farol Cego é profunda. Se nas letras dá pro gasto – todos os seus integrantes têm entre 18 e 20 anos — em suas músicas há um clima intrigante que mistura tensão e desalento. É bonito sim, mas é sôfrego. Os contornos definitivos dessas nuances são responsabilidade, principalmente, da voz terna e piedosa de Leonardo Gumiero e da guitarra pinkfloydianamente esperançosa de Thomas Berti. O quarteto que se formou em agosto de 2012 tem ainda Henrique Neves (bateria) e Lucas Leite (baixo).

Se a postura no palco – lembre-se de que escrevo sobre o primeiro show da banda – já é de tirar o chapéu, perceber suas influências e, mais do que isso, como as utilizam, é de fazer feliz qualquer fã de boa música. A apresentação foi curta, mas todos deram um esbarrão em Radiohead através dos trejeitos de Leonardo, ouviram guitarras pós-rock, passagens espaciais com cara de Tame Impala e um quê de brasilidade, contraponto necessário, que surgiu nas entrelinhas com a estética da Violins, sensacional banda de Goiânia, e teve no cover de “Paraquedas”, da banda gaúcha Apanhador Só, sua coerente exemplificação. O resultado final foi (é) um pop dinâmico, pouco óbvio, repleto de possibilidades. O único senão foi a troca de vocalista, por duas vezes. O fato é que a Farol Cego está nas ruas. E é só o começo.

Abaixo, entrevista com o baixista Lucas Leite, que comenta sobre o nome da banda (“é interessante o simbolismo do farol”), seu lugar na cena de Curitiba, (“toda semana ouvimos falar de algo que nem sabíamos que existia vindo daqui”) e projetos futuros, como a gravação de um EP.

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Como a banda surgiu e quem está nela hoje?

Todos da banda já haviam tocado juntos uma hora ou outra em projetos de covers. Em agosto do ano passado surgiu a ideia de formarmos uma banda de composições próprias e isso foi amadurecendo aos poucos. Desde o começo os membros foram Lucas Leite, Henrique Neves e Leonardo Gumiero. O Thomas Berti entrou, após algumas modificações no lineup, em fevereiro.

E esse nome?

Acho que foi mais difícil escolher o nome do que compor as músicas, sinceramente. Ficamos muito tempo pra decidir e só o fizemos no último momento. Farol Cego foi uma ideia do Thomas. É interessante o simbolismo do farol, uma construção isolada e solitária, mas que é essencial como um guia aos nagevantes. E a sua única função é fornecer luz. Tire isso e você tem algo inútil. É mais melancólico ainda; tem uma certa beleza nisso. Há muito disso no livro Ao Farol, da Virginia Woolf, que eu tinha acabado de ler na época e foi, pelo menos pra mim, uma das razões para a escolha do nome.

Quais as principais influências do grupo?

São muito variadas. Ainda que todos da banda ouçam mais ou menos as mesmas coisas, cada um traz algo diferente. De influências diretas, dá pra citar o Bombay Bicycle Club, Grizzly Bear, Apanhador Só, Tame Impala e Explosions in the Sky

Como veem a cena de Curitiba hoje e onde acham que vão se inserir?

É uma cena que recebeu muita repercussão e cresceu bastante ultimamente, mas que podia se beneficiar de algo novo, além dos grupos já (com mérito) estabelecidos. Tem o problema da falta de espaço para as bandas autorais nas casas de show e bares, que com certeza atrasa esse surgimento de novos nomes, mas ainda assim é possível ver um crescimento. Toda semana ouvimos falar de algo que nem sabíamos que existia vindo daqui.

Pretendem gravar algo (EP, álbum)?

A ideia é lançar um single com as duas músicas já gravadas — “Teto Empoeirado” e “Pouco a Pouco” – e disponibilizá-lo para download. A médio prazo, queremos gravar as outras músicas que estão prontas (já são cinco) e lançar um EP.

 

 

 

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