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Porto de Paranaguá / Arquivo/ Gazeta do Povo

O chanceler Ernesto Araújo esteve em Washington nesta semana para preparar a primeira visita do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos. A Gazeta do Povo relata um depoimento do ministro após conversas com contrapartes americanas, destacando que a visita presidencial terá “um componente comercial muito forte”.

Tudo indica que, na contramão da guerra comercial com vários países, os Estados Unidos estão dispostos a negociar uma abertura com o Brasil, tanto no campo do acesso aos mercados quanto no campo regulatório, removendo barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias e aprofundando o tema de facilitação do comércio.

Precisamos aproveitar o momento. Repito aqui na coluna que uma ampla e proativa agenda de negociações comerciais é vital para aumentar as exportações brasileiras. Somente com maior abertura econômica vamos conseguir reforçar a inovação, a competitividade e a eficiência do nosso setor produtivo, aumentando o emprego e a renda.

A abertura comercial deveria ser um dos pilares da agenda de reformas econômicas do Brasil. Hoje, somos responsáveis apenas por 1,2% do comércio internacional de mercadorias e por 0,7% de comércio de serviços (dados da Organização Mundial do Comércio – OMC de 2017 e 2016, respectivamente).

Essa pouca abertura é incompatível com o tamanho da nossa economia e emperra o crescimento. Enquanto o Brasil, que é a oitava maior economia mundial, exportou US$ 240 bilhões em mercadorias em 2018, o México, que é a décima quinta, com quase a metade do nosso PIB, exportou US$ 451 bilhões. Esse sucesso é devido aos acordos de livre comércio com os Estados Unidos e com dezenas de outros países ao redor do mundo.

Vamos olhar mais de perto os principais grupos de bens que o Brasil exportou no ano passado, de acordo com o Ministério da Economia: o setor industrial foi responsável por US$ 101 bilhões, o que representa 42% do total vendido no exterior.

O segundo maior grupo foi o dos produtos agropecuários, com vendas externas de US$ 85 bilhões, ou 35% do total exportado pelo Brasil. Soja, carnes, papel e celulose, açúcar e café representam 80% desse grupo.

E, por último, os produtos minerais (petróleo e minérios) foram responsáveis por US$ 54 bilhões, ou 23% do total.

Enquanto os grupos de produtos agropecuários e minerais são superavitários, com saldo positivo entre as exportações e importações de US$ 74 bilhões e US$ 25,9 bilhões respectivamente, o setor industrial é deficitário em US$ 41 bilhões.

Ao mesmo tempo em que o desproporcional superávit no setor agropecuário limita as possibilidades de expansão das exportações, já que os países parceiros sempre buscam reciprocidade no acesso a mercados, o déficit no setor industrial mostra a necessidade de ter uma agenda mais proativa de abertura dos mercados externos. E aqui não se trata de restringir as importações desses produtos, mas ao contrário – negociar condições de reciprocidade para que possamos continuar a importar, mas tendo em contrapartida o aumento das nossas exportações.

No caso dos produtos agropecuários, a necessidade de acordos de livre comércio e de preferências tarifárias é ainda mais aparente. Enquanto as negociações multilaterais no âmbito da OMC reduziram significativamente as tarifas de importação de produtos manufaturados, no caso de produtos agropecuários as tratativas não tiveram sucesso, e as tarifas praticadas por países fora de acordos comerciais são ainda muito altas (principalmente para produtos processados).

Individualmente, os Estados Unidos são a maior economia mundial e o maior importador mundial. Conforme os dados da OMC, os Estados Unidos foram responsáveis por 13,4% de tudo que o mundo comprou em mercadorias em 2017 (a China ficou em segundo lugar, responsável por 10,2 % das importações mundiais).

Quando pensamos em agenda de negociações comerciais com os EUA, sempre lembramos do insucesso do Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), proposto por aquele país em 1994 ao Brasil e a todos os outros países da região (excluindo apenas Cuba). Esse acordo seria um desdobramento do NAFTA, que fora assinado pelos Estados Unidos, México e Canadá naquele mesmo ano.

Infelizmente, após 10 anos de tentativas, as negociações desse amplo acordo foram abandonadas e substituídas por acordos menores entre os países da região. Hoje, a maioria dos especialistas concordam que o acordo teria sido benéfico para o Brasil. E a retomada de negociações com os Estados Unidos, com certeza representa uma grande oportunidade.

A abertura desse mercado de 328 milhões de consumidores de renda elevada seria fundamental para a diversificação das exportações brasileiras, tanto de produtos agropecuários quanto manufaturados. Não podemos depender de circunstâncias, como o conflito entre os Estados Unidos e a China, ou tendências mercadológicas, como a variação de preços de commodities, para ver as nossas vendas crescerem.

As nossas exportações de soja aumentaram 29% em 2018, somando US$ 41 bilhões e representando incríveis 17% do total exportado pelo Brasil. Quase 70% das exportações foram para a China. Mas esse crescimento foi bastante influenciado pela guerra comercial iniciada pelo governo Trump, que fez com que a China aumentasse as tarifas para a soja americana.

Entretanto, há vários fatores que afetam a continuidade da expansão das nossas vendas de soja: a duração do conflito entre a China e os Estados Unidos, a nossa capacidade de fornecimento (safra, logística etc.), a tendência de desaceleração da economia da China e até a recente epidemia de peste suína africana, que está reduzindo significativamente o rebanho suíno chinês e, consequentemente, a demanda pela soja.

Não podemos nos contentar com exportações de soja, minérios e petróleo. Os Estados Unidos poderiam ser um marco na guinada da política de comércio exterior do Brasil. Precisamos abrir mercados para as nossas mercadorias e serviços. Exportar e importar. Integrar-nos melhor, reforçando a nossa competitividade e consolidando o crescimento econômico do País.

A visita de Bolsonaro aos EUA está sendo recebida com otimismo por ambos os lados, e uma boa negociação pode fazer toda a diferença para o Brasil.

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