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A ciência e os papas do terceiro milênio
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João Paulo II e o então cardeal Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI: ambos ajudaram a consolidar a conciliação entre catolicismo e evolução. (Foto: Reuters/KNA-Bild)

Conheci Peter Hess, um dos diretores do National Center for Science Education, em 2011, no VI Congresso Latino-Americano de Ciência e Religião, na Cidade do México. Na ocasião, ele deu a palestra “Creatio continua et imago Dei: uma aproximação teológica católica para a evolução do universo”. Uma pena que o vídeo da palestra não esteja disponível. Mas, voltando a Hess, anteontem ele aproveitou o fato de, na última década, já termos visto dois papas e estarmos passando pelo terceiro para fazer, no Huffington Post, uma recapitulação de como os pontífices do novo milênio têm tratado a ciência.

Hess não adere à tese de que antigamente a Igreja era hostil à ciência e só agora deu uma guinada; pelo contrário, lembrou da contribuição católica ao progresso científico e ressaltou, por exemplo, que nunca houve oposição oficial da Igreja à teoria da evolução. E é por ela que Hess começa a tratar dos papas do novo milênio, já que João Paulo II deixou ainda mais clara a concordância entre evolução e catolicismo, especialmente em seu discurso de 1996 à Pontifícia Academia de Ciências; um trabalho que foi continuado por Bento XVI antes mesmo de Joseph Ratzinger ser eleito papa. O então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé já havia escrito, a título de reflexão pessoal, um livro sobre o relato bíblico da origem do mundo, e aprovou um documento da Comissão Teológica Internacional que endossa, em linhas gerais, tudo que a ciência vem revelando sobre a origem do universo e do homem.

Já no pontificado, Bento XVI também apoiou um congresso sobre Darwin no bicentenário de nascimento do naturalista inglês, mas Hess lamenta que ainda haja alguns enclaves problemáticos entre católicos. Ele cita o Centro Kolbe, um grupo de criacionistas da Terra jovem que alega se apoiar em uma encíclica de Leão XIII sobre a interpretação das Escrituras (eu preciso dar uma olhada com mais calma na Providentissimus Deus, mas de cara eu já tenho a impressão de que o pessoal do Centro Kolbe precisa recorrer a um non sequitur para defender um universo de 6 mil anos). Para piorar, essa turma ainda ganhou o apoio de um bispo norte-americano! E, para completar, há os geocentristas liderados por Robert Sungenis, autor de Galileo was Wrong (sim, esse é meu momento “vergonha alheia”).


Francisco e Bento XVI se encontram em Castel Gandolfo: sem hostilidade em relação à ciência. (Foto: Reuters/L’Osservatore Romano)

E o papa Francisco? Como já dissemos algumas vezes no blog, sabemos pouquíssimo sobre sua relação com a ciência, exceto pelo diploma de técnico químico obtido antes de ele se tornar jesuíta. Mas também precisamos lembrar que os jesuítas têm uma admirável tradição científica. Hess destaca, como também já fizemos aqui, a presença constante de menções ao cuidado ambiental nos primeiros pronunciamentos do novo papa. “Tenho uma grande esperança de que um papa que fala tão eloquentemente sobre proteger a criação frágil respeite, da mesma forma, a ciência que nos permite aprender tanto sobre a natureza da qual todos dependemos para a vida”, conclui Hess.

Quase funcionou


Seria o maior planetário do mundo, se a notícia da “Physics World” não fosse trote de primeiro de abril… (Foto: Giampiero Sposito/Reuters)

A piada de primeiro de abril do site Physics World era das boas: o papa Francisco, encantado após conferir os resultados mais recentes do satélite Planck, teria decidido aderir à moda do “show de luzes” e permitido a projeção, no interior da cúpula da Basílica de São Pedro, do céu da Palestina na época da morte de Jesus. Como toda boa piada de primeiro de abril, essa mistura informações reais com outras falsas, mas verossímeis. Se não tivessem exagerado em alguns aspectos, poderiam enganar mais gente.

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