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A ciência torna obsoleta a crença em Deus? – Parte 1: Steven Pinker
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A Fundação John Templeton, segundo a própria descrição do site, se dedica a “servir como catalisador filantrópico para descobertas nas áreas que envolvem as grandes questões da vida”. E, felizmente, a entidade considera que a relação entre ciência e religião é uma dessas áreas. A fundação organiza coletâneas que pretendem trazer várias visões sobre uma determinada pergunta, uma “Big Question”, e a mais recente foi esta que dá título a este post.

No total, treze pessoas responderam, e a lista vai de expoentes do ateísmo militante, como Christopher Hitchens (autor de Deus não é Grande) a um cardeal católico, passando por clérigos de outras religiões, ganhadores de prêmio Nobel, astrônomos, médicos e filósofos. Ou seja, o leque é fenomenal. Vocês podem ler todos os ensaios, em inglês, aqui. Se ler na tela não é a sua praia, é possível pedir um livreto com todos os textos (como eu fiz), gratuitamente. Ou baixar um PDF para imprimir.

No blog pretendo comentar todas as respostas, na ordem em que foram publicadas. Então começamos com…

Steven Pinker – Sim, se por…

Rebecca Goldstein / http://pinker.wjh.harvard.edu
Steven Pinker é autor de vários livros, entre eles Tábula Rasa.

… “ciência” entendermos não apenas laboratórios, e sim toda a epopéia humana em busca de razão e conhecimento. É a primeira idéia que este psicólogo, autor de sete livros, nos traz. Lá no fim de seu texto, ele vai reafirmar que sim, que no seu sentido mais amplo a ciência está tornando obsoleta a crença em Deus, e que o mundo está ficando melhor por causa disso. A tese de Pinker é a de que quanto mais a ciência avança, e quanto mais conhecemos o mundo, menos precisamos de Deus para responder a certas perguntas. Mas o que é o Deus de Pinker? Em primeiro lugar, é uma muleta para a qual recorrer quando não sabemos explicar alguma coisa. Quando a ciência passou a explicar desastres meterorológicos ou sísmicos, por exemplo, atribuir estes fenômenos a algum tipo de “cólera divina” deixou de funcionar — e nisso Pinker tem mesmo razão.

Mas vejamos um exemplo de “pergunta respondida” segundo Pinker (as traduções sempre são minhas): “Comecemos com a origem do mundo. Hoje, nenhuma pessoa honesta e informada pode acreditar que o universo se formou há apenas alguns milhares de anos e assumiu sua forma atual em seis dias (fora os absurdos como o dia e a noite existirem antes que o sol fosse criado).” Espere aí: isso não é exatamente acreditar em Deus, mas sim acreditar na literalidade total e absoluta da Bíblia. E a “Big Question” não é “a ciência torna obsoleta a crença na literalidade da Bíblia?”. A maioria esmagadora dos cristãos e judeus de hoje concilia o Big Bang (um dia falaremos mais disso) e a evolução com a existência de Deus e não perde o sono por causa disso. Pinker segue dizendo que não existe papel mais abstrato para Deus que ser o “primeiro motor” aristotélico. Assim é fácil: cria-se um Deus de acordo com a conveniência, para depois desconstruí-lo. Só que o Deus judaico-cristão é bem mais pessoal que a entidade que Pinker acredita ser o Deus judaico-cristão.

Pinker segue lembrando os avanços da neurociência e da psicologia (sua área), que explicariam a inteligência, as emoções, tudo aquilo que se costuma atribuir à alma. E, quanto à moralidade, lança a pergunta: “Por que Deus considerou algumas ações como morais e outras como imorais? Se a razão não é outra senão um capricho divino, por que deveríamos levar os mandamentos a sério? E se houve razões, por que não apelar diretamente a elas?” Bem, os religiosos apelam diretamente a essas razões. De onde, por exemplo, Pinker acha que saiu o conceito de uma dignidade humana intrínseca a todo indivíduo? Do Cristianismo, como explica Dinesh D’Souza em A Verdade sobre o Cristianismo (capítulo 7). No entanto, Pinker prefere recorrer ao princípio da reciprocidade: tenho de tratar os outros da maneira como quero ser tratado não porque os outros merecem ser tratados dignamente, mas apenas porque eu preciso me comportar bem se quero ser levado a sério quando exigir tratamento igual. “E Deus não tem nada com isso”, conclui. Realmente, olhando por esta ótica, não tem mesmo. Mas aí quem vai parar os que não fazem questão de serem levados a sério?

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Para conhecer mais sobre Steven Pinker:
Site oficial
Wikipedia (em inglês)
Wikipedia (em português)

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