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Dawkins, esse fundamentalista
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Depois de um breve recesso de fim de ano, o blog está de volta. Espero que todos tenham tido um ótimo Natal e curtido muito o réveillon. Aos poucos estou liberando os comentários de posts antigos, e ainda voltamos meio em marcha lenta, comentando uma notícia do finzinho do ano passado.

A grande notícia científica do ano foi a descoberta do bóson de Higgs (ou é algo que, se não é o bóson de Higgs, engana muito bem). Peter Higgs, como sabemos, não crê em Deus e, como muitos outros cientistas, detesta o apelido que deram à partícula que leva o seu nome. Quem sabe o fato de Higgs não ser crente empreste um pouco mais de força a uma afirmação que, se visse de alguém que crê em Deus, seria contestada pelos ateus militantes com o típico ad hominem do “ah, mas você disse isso porque é um crente”.


Peter Higgs não é religioso, mas não gosta da maneira como Dawkins trata os religiosos e afirmou que o biólogo britânico é um fundamentalista. (Foto: Fabrice Coffrini/AFP)

Mas o que ele disse? Em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, publicada no finzinho de dezembro, Higgs falou de um bocado de coisas, incluindo a relação entre ciência e fé. E, vejam vocês, chamou Richard Dawkins de “fundamentalista”! Copio o trecho em espanhol mesmo:

No estoy en contra de la gente religiosa, salvo que se comporten como fanáticos extremistas. El problema de Dawkins es que concentra todos sus ataques contra los fundamentalistas, pero evidentemente no todos los creyentes lo son. En ese sentido, creo que a veces es el propio Dawkins quien acaba adoptando una postura fundamentalista, en el extremo opuesto.

Higgs ainda disse que ciência e religião podem, sim, ser compatíveis, “contanto que não se seja dogmático”, embora sem explicar exatamente no que consistiria esse dogmatismo. Mas voltemos ao Dawkins, um cientista que ultimamente passa mais tempo fazendo campanha contra a religião que se dedicando à ciência propriamente dita (ou vão dizer que não?). Como lembra o Guardian, o autor de Deus, um delírio já havia, anos atrás, recusado a pecha de fundamentalista, alegando uma distinção entre paixão e fundamentalismo. A diferença está na possibilidade de mudar de opinião diante da evidência, justifica Dawkins. Sinceramente? Para mim, ele está apenas usando um jogo de palavras. Porque, quando uma pessoa afirma em um evento que os católicos devem ser publicamente ridicularizados por sua crença; ou diz que, para uma criança, é pior ser criada como católica que ser abusada sexualmente por um padre, como lembra o Guardian (o que é um insulto a crianças e famílias vítimas desses verdadeiros bandidos), sinceramente, a fronteira entre a “razão” que Dawkins diz promover e o fundamentalismo já foi ultrapassada há muito tempo.

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