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O papa e a “Nature”
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Eu sei que o blog anda meio monotemático esses dias, mas é um pouco inevitável. Ontem, o site da revista Nature publicou um ótimo editorial a respeito do papa Francisco, que foge totalmente dos velhos estereótipos sobre a relação entre ciência e fé (alguém sabe se também saiu na versão impressa?).


Papa Francisco na missa de inauguração do pontificado, ontem: revista “Nature” mostra esperança de avanço no diálogo entre ciência e fé. (Foto: Remo Casilli/Reuters)

O editorial lembra, como aliás já contei aqui, que ainda se sabe muito pouco sobre as visões do papa Francisco sobre o tema. O simples fato de Jorge Bergoglio ter um diploma de técnico químico não ajuda muito. Mas o texto não apenas cita os jesuítas como parte da elite intelectual e científica da Igreja como também apresenta uma visão muito favorável da contribuição católica para a ciência, citando, por exemplo, seu apoio à teoria da evolução (não se trata de um endosso oficial e doutrinário, temos que deixar claro, pois essa não é uma questão religiosa; o que a Igreja faz é dizer que não há incompatibilidade entre evolução e catolicismo), e os trabalhos de Gregor Mendel e Georges Lemaître (este último não é citado nominalmente, mas o texto fala do Big Bang).

A Nature ainda elogia a disposição da Igreja em dialogar cada vez mais com o mundo científico. “Cientistas que tomaram parte nessas discussões relatam debates instigantes e construtivos, com a Igreja se mostrando aberta a ideias e frequentemente mudando doutrinas como resultado”, diz o texto, sem explicar que doutrinas seriam essas que teriam mudado. E eu, particularmente, não conheço nenhum caso desse tipo, a não ser que a revista esteja considerando como “doutrina” algo que não é exatamente dogmático. É verdade que o editorial critica algumas das posições da Igreja, mas está em seu pleno direito, embora alimente uma esperança infundada de que o papa Francisco mude alguns desses pontos (ao mesmo tempo, reconhece que outras coisas permanecerão; só lamento que tenham chamado o fato de a vida começar na concepção de “dogma”, quando na verdade é um fato científico).

Gostei muito do tom positivo que encerra o texto: “Ciência e fé podem oferecer visões de mundo complementares, com o progresso científico moldando e frequentemente desafiando as bases da doutrina da Igreja e vice-versa: a fé pode, muitas vezes, acrescentar uma muito necessária dimensão ética e de justiça social aos avanços da ciência e seu impacto na sociedade. Confrontos entre pessoas de crenças diferentes são inevitáveis, mas ciência e religião ganharão mais se construirem pontes sobre o que as separa”.

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