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A disparada no preço do café reacende o sinal de alerta contra o crime que ameaça a segurança no campo. Agricultores da Região Sudeste do país denunciam ações de criminosos que invadem as plantações, cortam galhos carregados e levam a produção cafeeira. O furto de pés de cafés levou a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) a solicitar o reforço da Polícia Militar para a colheita dos grãos no estado.
O presidente do Centro do Comércio de Café de Minas Gerais (CCC-MG), Ricardo Schneider, afirma que as plantações entraram na mira dos criminosos após a alta no preço do produto. “Quanto mais caro o café, maior o risco de furtos. Os criminosos miram especialmente lavouras, onde a segurança é mais frágil”, alerta.
Nos últimos 12 meses, o café moído registrou alta de 80%, segundo o IBGE, a maior alta registrada desde o início do Plano Real, em 1994. Só entre janeiro e abril de 2025, o grão ficou 30% mais caro, impulsionado por três fatores: queda na oferta mundial, oscilação do dólar e especulação no comércio internacional. Mesmo após um leve recuo, em relação a fevereiro, a saca está cotada atualmente em R$ 2,5 mil. Em fevereiro, a saca de 60 quilos de café arábica bateu recorde histórico, chegando a R$ 2,7 mil, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
A alta do preço do café é, principalmente, uma consequência de questões climáticas. Secas severas na Colômbia e, especialmente, no Vietnã, reduziram drasticamente a oferta. O resultado é uma das maiores escassezes dos últimos anos, o que torna o café ainda mais atrativo para o crime. Esse cenário elevou o risco de furtos e roubos no transporte da carga de café ou no meio rural, diretamente nas lavouras.
Produtores de café reagem com ações preventivas contra o crime
Segundo Ricardo Schneider, a vulnerabilidade das lavouras e o movimento de pessoas no período de colheita são pontos de atenção no campo. "Nesse período são muitas pessoas de fora, que vêm para trabalhar. Tem café no terreiro, tem café em secador, café aguardando transporte para armazém das cooperativas. Tudo isso atrai o tipo de criminoso que quer um ganho rápido, com risco menor. Geralmente há câmeras no terreiro, mas é mais difícil vigiar uma lavoura inteira de café", afirma.
A alta nos furtos levou associações de produtores a adotar medidas próprias. No sudoeste de Minas Gerais, algumas entidades contrataram empresas privadas de vigilância para monitorar grandes áreas de produção.
A tecnologia também entrou em cena do lado dos criminosos. O diretor comercial da Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas da Alta Mogiana (Cocapec), José de Alencar Coelho Júnior, relata casos de drones usados para vigiar lavouras antes dos furtos. “Eles [os criminosos] estão de olho. Por isso, o produtor também precisa ficar atento e acionar a Polícia Militar diante de qualquer suspeita.”
A Cocapec representa produtores de 20 municípios, dez em Minas e dez em São Paulo, que cultivam cerca de 100 mil hectares. A expectativa para esta safra é de 3 a 4 milhões de sacas de 60 quilos.
No Espírito Santo, a Polícia Civil intensificou as operações de combate aos furtos de café e também da pimenta-do-reino. A Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Rurais (DERCR) e a Força-Tarefa da Divisão de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Diccor) têm realizado rondas noturnas e ações ostensivas.
“Nossa meta é reduzir a criminalidade nas áreas rurais e oferecer suporte direto aos produtores”, disse o delegado Alysson Pereira Pequeno, titular da delegacia especializada.
Paraná pede apoio da Polícia Militar durante a colheita do café
Com o aumento dos furtos e roubos em estados cafeeiros como São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, o Sistema Faep solicitou à Polícia Militar o reforço no patrulhamento durante a colheita no Paraná, entre junho e agosto. O ofício propõe ações dentro da Patrulha Rural Comunitária 4.0, priorizando as principais regiões produtoras do estado.
Para enfrentar a nova ameaça, a Faep e o governo do Paraná lançaram uma cartilha digital com orientações práticas de segurança. Com 20 páginas, o material apresenta medidas que vão desde mudanças de comportamento até melhorias estruturais, como instalação de cercas, iluminação e reforço em edificações.
Além disso, a federação incentiva o cadastro das propriedades na Patrulha Rural. Com isso, as fazendas passam a integrar rotas de monitoramento da PM, o que garante resposta mais rápida em situações de emergência. Em um ano, o número de propriedades cadastradas na Patrulha Rural saltou de 12 mil para 23 mil.
“A participação do produtor é fundamental para fortalecer essa rede de proteção. O cadastro agiliza a comunicação com a polícia e torna a prevenção mais eficiente”, aconselha o major Íncare Correa de Jesus, chefe da Coordenadoria da Patrulha Rural Comunitária da PM paranaense.
O engenheiro agrônomo Bruno Vizioli, do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep, afirma que o momento exige vigilância total. “Não podemos esperar os crimes se espalharem para agir. O Paraná ainda não registrou casos este ano, mas o produtor precisa estar em alerta. Se houver qualquer ameaça, deve entrar em contato com seu sindicato rural, para uma ação imediata da Patrulha Rural", orienta.
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