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Após Operação Carbono Oculto

ANP suspende operações de refinaria após suspeita de irregularidades em combustíveis

Refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro, teve operações suspensas pela ANP enquanto irregularidades em combustíveis.
Refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro, teve operações suspensas pela ANP enquanto irregularidades em combustíveis. (Foto: Dayanna Chang/Receita Federal)

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A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) interditou, de forma cautelar, as instalações da Refinaria de Petróleos de Manguinhos S.A, operada pela Refit, no Rio de Janeiro. A decisão segue até que sejam esclarecidas irregularidades em combustíveis detectadas durante as operações Cadeia de Carbono e Carbono Oculto, da Receita Federal.

Deflagrada no dia 28 de agosto, a operação Carbono Oculto busca desarticular um esquema de fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis. Segundo o Ministério Público de São Paulo (MPSP), “a organização criminosa PCC está associada a uma rede de organizações criminosas, cujos vínculos são estabelecidos de forma permanente ou eventual, e convergente, de modo a assegurar a efetividade das atividades econômicas ilícitas, notadamente por meio da sua inserção na economia formal, como é o setor de combustível e o sistema financeiro”. 

A facção teria até adquirido usinas de produção de etanol no interior de São Paulo, e o esquema vinha sendo realizado, pelo menos, desde 2019, com adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro. Informações iniciais apontam a participação de 40 fundos de investimentos vinculados a fintechs, com patrimônio de R$ 30 bilhões, algumas localizadas na Avenida Faria Lima, em São Paulo, considerada o “coração” do mercado financeiro brasileiro.

De forma complementar, a operação Cadeia de Carbono, deflagrada em 19 de setembro, apura a regularidade na importação e comercialização de combustíveis, petróleo e derivados. Na operação, foram coletadas mais de 100 amostras de produtos como nafta, condensado, gasolina, diesel e N-Metil-Anilina (NMA).

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Com a interdição, a empresa foi orientada a cessar imediatamente toda atividade relacionada aos tanques interditados e aos produtos apreendidos. Com isso, a refinaria não pode movimentá-los ou misturá-los a outros fluxos até autorização expressa da ANP. De acordo com o diretor da ANP, Pietro Mendes, não há risco de desabastecimento de combustíveis após a medida. “Conversamos com a Petrobras e a companhia garante que a Reduc [Refinaria de Duque de Caxias] tem condições de suprir o mercado”, afirmou Mendes em entrevista ao jornal Valor Econômico.

À Folha de S. Paulo, a Refit disse que "jamais atuou ou opera como empresa de fachada para atividades ilegais e possui histórico comprovado de atividades legítimas no mercado". Disse, ainda, que não teve acesso às condicionantes da ANP para a retomada das operações.

A agência informou que serão verificadas as conformidades operacional, contábil e de segurança da refinaria. O foco será em estoques, movimentações de produtos, integridade da operação e cumprimento da legislação vigente.

Por meio da operação Cadeia de Carbono, foram identificados descumprimentos de cautelares anteriores da ANP, que obrigavam a Refit a ceder espaço de tanques para distribuidoras de combustíveis. Isso motivou nova fiscalização nos dias 25 e 26 de setembro, com apoio da Receita Federal, que constatou diversas irregularidades, entre as quais:

  • Descumprimento da medida regulatória da Resolução ANP nº 922/2023, armazenando combustíveis para distribuidoras não autorizadas;
  • Suspeita de importação irregular de gasolina, apresentada como “nafta” ou “condensado”, com adição de N-Metil-Anilina para ajustar octanagem e possivelmente reduzir carga tributária;
  • Ausência de evidências de processo de refino, já que a refinaria recebe produto praticamente acabado (gasolina e diesel S10);
  • Uso de tanques não autorizados ou que armazenavam produtos de classe de risco superior à permitida;
  • Falta de controle de vazão na torre de destilação atmosférica e ausência de registros históricos;
  • Falta de evidência de que a temperatura da torre permite a destilação atmosférica;
  • Ausência de comprovação da comercialização e utilização das frações leves obtidas no processamento.

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Fiscalização da ANP suspende atividades e verifica origem de produtos

A ANP também está verificando as licenças de importação da Refit. Exigiu que a empresa envie registros detalhados de recebimento de produtos, certificados de qualidade, origem, notas fiscais e destinação de resíduos.

Caso sejam constatadas irregularidades em combustíveis, a refinaria poderá receber novos autos de infração. Para evitar fraudes, a agência passou a exigir que todos os pedidos de importação de nafta venham acompanhados de certificado de análise, garantindo maior controle sobre as informações fornecidas pelos agentes do setor.

De acordo com a ANP, as ações fazem parte de um esforço contínuo iniciado em 2023, voltado a verificar a correta destinação de produtos como metanol e nafta e combater práticas irregulares. Como resultado, autorizações de diversos agentes econômicos foram revogadas, e a atividade exclusiva de formulação de combustíveis está suspensa, sujeita a reavaliação.

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