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Associação Mineira de Municípios

Articulação de prefeitos reforça municipalismo no segundo maior colégio eleitoral do país

Luís Eduardo Falcão é presidente da Associação Mineira de Municípios
Luís Eduardo Falcão (sem partido), presidente da Associação Mineira de Municípios, e Dr. Maurício, durante a solenidade de posse, ocorrida no encerramento do 40º Congresso da Associação Mineira de Municípios, em Belo Horizonte. (Foto: Divulgação/Associação Mineira de Municípios)

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A eleição do prefeito da cidade de Patos de Minas, Luís Eduardo Falcão (sem partido), para a presidência da Associação Mineira de Municípios (AMM), abre um novo capítulo na trajetória do grupo de representatividade, considerado peça-chave nas articulações eleitorais de olho em 2026, quando o apoio - ou a falta dele - de prefeitos é disputado quase que como uma briga de foice. Com 826 municípios afiliados, AMM se considera a maior entidade estadual municipalista da América Latina.

Falcão venceu a disputa regional no mês passado, tendo obtido 361 votos contra os 288 do então presidente da AMM, Marcos Vinicius Bizarro (sem partido), ex-prefeito de Coronel Fabriciano e liderança conhecida pela proximidade com o governo estadual de Romeu Zema (Novo).

O resultado da disputa parece refletir não apenas o apoio dos gestores municipais às propostas de renovação como também o desejo de maior pluralidade e representatividade regional dentro da associação. Durante a campanha ao cargo - que ficou marcada por ter replicar traços de eleição para governador ou para prefeito, pela envergadura e recursos aplicados - Falcão buscou apoio de lideranças em todas as regiões do estado.

A posse da nova diretoria ocorreu no último dia 7, durante o encerramento do 40º Congresso Mineiro de Municípios, em Belo Horizonte. O evento é um dos mais relevantes do calendário político mineiro e reuniu autoridades como o governador Romeu Zema e o vice-governador Mateus Simões (Novo) e o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Tadeu Martins Leite, o Tadeuzinho (MDB).

Campanha para a Associação Mineira de Municípios foi encarada como eleição para prefeito ou governador.

Zema destacou o aspecto "renovação" no processo da Associação Mineira de Municípios. "Ideias e pessoas novas são sempre bem-vindas e podem agregar muito”, disse o governador, que aproveitou o discurso para reforçar que, desde seu primeiro mandato, trabalha em parceria com a entidade.

Na posse, Falcão defendeu uma gestão suprapartidária e autônoma. “A Associação Mineira de Municípios não tem que ter nenhum tipo de interferência externa. É um assunto de prefeitos”, defendeu.

Ele destacou que a AMM deve priorizar as demandas dos municípios de menor porte, especialmente os que possuem coeficientes mais baixos no Fundo de Participação dos Municípios (FPM) - aspecto muito sensível para o estado, em que mais de 500 dos seus 853 municípios têm menos de 10 mil habitantes. Durante a solenidade, sete municípios oficializaram sua filiação à AMM, ampliando a base de representatividade da associação para o total de 826.

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Caminho independente

A eleição da Associação Mineira de Municípios tem relevância em potencial para a política mineira e o início da nova gestão começa com marcas de algumas rusgas. Durante a campanha ao cargo, o agora presidente usou o slogan “Prefeito vota em prefeito”, em uma referência à Bizarro, que já tinha encerrado mandato municipal e era candidato à reeleição na AMM.

Durante evento da AMM no mês de janeiro, no sul do estado, com a presença de Bizarro e Falcão, Zema elogiou a gestão do então presidente e chegou a dizer que "o ponto da eleição da AMM não é o apoio do governador” e que a associação precisa ser independente. Por sua vez, Dr. Maurício, como é conhecido o ex-presidente, sempre teve vínculo e apoio de Marcelo Aro, atual secretário de Governo de Zema e notório articulador político.

No dia da votação, após a confirmação de sua vitória, Falcão afirmou ao público presente na sede da AMM que reformaria o estatuto, retirando a possibilidade de alguém sem mandato concorrer à presidência do grupo. “Meu primeiro compromisso é voltar o estatuto ao normal, não permitindo que ex-prefeitos sejam candidatos”, afirmou então.

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Presidente da Associação Mineira de Municípios pediu desfiliação do Novo

Ainda em abril, o novo presidente da AMM anunciou sua desfiliação do partido Novo, legenda pela qual foi eleito prefeito em 2024. Segundo ele, a medida busca garantir isenção à frente da associação. A decisão, no entanto, gerou interpretações políticas diversas, especialmente diante da relação próxima entre o ex-presidente da AMM e Zema.

Nos bastidores, especula-se que a falta de apoio declarado por parte do governador à campanha de Falcão seria o real motivo da saída dele do partido. Pessoas ligadas ao Novo em Minas afirmaram à reportagem da Gazeta do Povo que o partido foi pego de surpresa. Publicamente, o vice-governador do estado, Mateus Simões, minimizou os efeitos da desfiliação de Falcão dizendo que já haviam caminhado juntos “quando ele estava fora do Novo em 2020 e foi eleito” e que isso “não foi um impeditivo na época, não será agora”.

Simões refere-se ao período eleitoral de 2020, quando Falcão - que já estava vinculado ao Novo há alguns anos, tendo sido um dos responsáveis pela criação do diretório municipal em Patos de Minas - foi impedido de disputar as eleições municipais por decisões internas do partido, que optou por escolher as cidades em que haveria candidatos na disputa.

Na época, Falcão se filiou ao Podemos e foi eleito prefeito de Patos de Minas, cidade com 167 mil habitantes localizada no Triângulo Mineiro e distante 397 quilômetros da capital mineira, com 38.415 votos. Falcão retornou ao Novo no fim de 2022 e conseguiu dois anos depois um feito histórico para o município: em 77 anos, foi o primeiro prefeito reeleito, com 85,6% dos votos válidos.

Em nota, Falcão reforçou que a desfiliação representa sua intenção em garantir uma gestão “independente e suprapartidária” à frente da AMM. “Tenho minhas convicções e as mantenho, mas agora eu preciso acolher e agregar todos aqueles que, assim como eu, sabem bem o que é administrar uma cidade. A AMM é de todos", afirmou, reforçando que deve ficar sem partido nos próximos anos.

Apesar das tensões políticas prévias, a nova gestão sinalizou disposição para manter uma relação institucional com o governo estadual. Zema destacou, durante a cerimônia, avanços em áreas como transporte escolar e assistência social com apoio da AMM. Falcão, por sua vez, enfatizou que a força da associação também se mostrou em momentos de enfrentamento, como na cobrança da dívida do estado com os municípios.

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