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O Brasil acompanha a revolução da inteligência artificial (IA) transformando o cenário de negócios e de serviços públicos. Um estudo da consultoria Strand Partners, encomendado pela Amazon Web Services (AWS) e realizado com 2 mil pessoas, incluindo líderes empresariais, mostra que o uso de IA já se traduz em ganhos financeiros e aumento de produtividade, colocando o Brasil no mesmo patamar de mercados europeus.
Segundo a pesquisa, 40% das empresas brasileiras utilizam IA, superando México e Chile. Dessas, 95% registraram aumento na receita, com média de 31%, e 96% relataram ganhos de produtividade.
Para Cleber Morais, diretor-geral da AWS no Brasil, a disseminação da tecnologia ocorre em ritmo sem precedentes, superando até a taxa de adoção de celulares nos anos 2000. “O Brasil está liderando esta onda de inovação na América Latina. Somente no ano passado, 2 milhões de empresas começaram a usar IA, o equivalente a mais de três novas organizações por minuto”, afirma.
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IA é utilizada em diversos setores no país
O uso de IA contempla exemplos em áreas como a Justiça, o varejo de alimentação e a saúde. Empresas e instituições brasileiras de diferentes portes colhem os frutos da tecnologia e apresentaram histórias de sucesso no AWS Summit, evento realizado pela Amazon em São Paulo.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por exemplo, teve sua rotina otimizada com a IA. Após uma migração de dados para a nuvem da AWS, o tribunal desenvolveu uma solução de IA generativa que resultou na queda de 60% no tempo de processamento de documentos, o que teria agilizado a prestação de serviços para a população.
Já no setor de delivery, o iFood utiliza a IA em diferentes frentes. A primeira é a personalização da experiência aos clientes, que fazem mais de 80 milhões de pedidos por mês pela plataforma. Para Thiago Cardoso, diretor de dados e IA do iFood, a tecnologia é a única maneira de entregar experiências customizadas em uma escala.
“Só com IA consigo criar uma experiência personalizada para cada usuário, desde a recomendação até a prevenção a uma fraude”, afirma ele. Segundo Cardoso, quando o usuário faz uma compra no aplicativo, ele passa por cerca de 100 modelos de IA. A segunda frente é interna, voltada à otimização do trabalho de desenvolvedores, com foco em eficiência e inovação no serviço.
No campo da saúde, a Rede D'Or faz o uso de IA contra a resistência microbiana. A empresa criou uma ferramenta que apoia médicos na escolha de antibióticos. O sistema analisa dados hospitalares para fornecer informações sobre os padrões de resistência bacteriana, ajudando a otimizar diagnósticos e a personalizar tratamentos. A empresa atribui a este uso a melhora na segurança do paciente e a contribuição para a gestão hospitalar, reduzindo o tempo de internação.
Dados impulsionam a IA, mas também são desafio
A pesquisa aponta que a maioria das empresas brasileiras (62%) ainda está em níveis de amadurecimento com a tecnologia. O caminho para a inovação passa, segundo Morais, pela criação de estratégias de IA em corporações. Porém, para que essa jornada seja bem-sucedida, é preciso superar um desafio que surge com um grande volume de informações: a fragmentação dos dados.
É nesse contexto que surge a técnica GraphRAG, uma abordagem que, segundo a Microsoft, se diferencia das buscas semânticas, utilizadas em modelos como o ChatGPT. O processo cria uma hierarquia dos dados e, em seguida, utiliza essas estruturas para gerar respostas com precisão.
Engenheiro de soluções da Neo4j, especializada em análises de bases de dados, Eliezer Zarpelão explica a essência do problema: “Para você ter um modelo de inteligência artificial que seja efetivo e traga insights valiosos, você precisa ter todos os dados da sua empresa disponíveis. Na maioria das vezes, as empresas têm estes dados, mas estão separados em silos, em áreas, em sistemas diferentes.”
Amazon quer impactar Judiciário e treinar brasileiros
Além do setor privado, o uso da IA pode revolucionar serviços públicos no Brasil. Uma parceria entre a AWS, o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo e o Hospital das Clínicas resultou no desenvolvimento de um novo modelo de linguagem para agilizar decisões na saúde.
O projeto é uma resposta ao aumento da judicialização, estimada em mais de 800 mil novos processos em 2025, que sobrecarrega os Núcleos de Apoio Técnico do Judiciário, que presta suporte a órgãos como o Tribunal de Justiça de São Paulo e o Conselho Nacional de Justiça. A tecnologia brasileira tem potencial, informam os desenvolvedores, de triar automaticamente até 80% dos casos, classificando processos, resumindo petições e apoiando magistrados.
A prova de conceito deve ser concluída no Tribunal Regional de Santa Catarina até o fim do ano. A pesquisa da Strand Partners também aponta para a escassez de profissionais qualificados como um dos maiores desafios para a expansão da IA no Brasil. Para enfrentar essa lacuna, a AWS lançou um programa gratuito de capacitação em IA e computação em nuvem, com a meta de formar 1 milhão de brasileiros até o fim de 2028.
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