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Uma espécie de ave rara teve seus primeiros registros divulgados em janeiro deste ano pelo biólogo brasileiro Ricardo Plácido após quase uma década de tentativas frustradas.
As imagens do tovacuçu-xodó, ou Grallaria eludens, foram feitas no Parque Estadual Chandless, no Acre, e são resultado de anos de intenso trabalho de monitoramento e pesquisa sobre a biodiversidade brasileira, especialmente na região amazônica.
Descrita cientificamente em 1969 pelos pesquisadores George Lowery e John O'Neill, a ave rara nunca havia sido fotografada ou filmada até então. Isso porque tem uma natureza arisca e habita áreas remotas da Amazônia brasileira e peruana, geralmente de difícil acesso. O próprio nome científico da espécie, "eludens", deriva do latim e significa "fugir" ou "evadir", refletindo seu comportamento furtivo.
O desafio de encontrar uma ave “fantasma”
Antes do feito do fotógrafo, que trabalha na Secretaria do Meio Ambiente do Acre (Sema), os únicos registros existentes da espécie eram relatos de vocalizações feitas por pesquisadores em expedições ao Peru em 1993, 2001 e 2003. No Brasil, ornitólogos renomados, como Mário Cohn-Haft e Fernando Igor Godoy, conseguiram gravar o canto da ave em diferentes regiões da Amazônia, mas sem obter imagens.
Desde 2015, Plácido dedicou seus esforços a explorar o Parque Estadual Chandless, onde acreditava que a ave rara poderia ser encontrada. Durante anos, enfrentou desafios como longas caminhadas na floresta densa, exposição a chuvas torrenciais, terrenos alagados e encontros com animais selvagens, incluindo onças e cobras venenosas.
Foi apenas em 2018 que o primeiro encontro entre o biólogo e o tão procurado tovacuçu-xodó aconteceu. Na ocasião, a ave chegou a se aproximar, mas desapareceu ao perceber a presença do biólogo, comportamento já relatado por outros estudiosos. A partir de então, foram inúmeras expedições até o mesmo local na espera de um reencontro.
Primeiras imagens do tovacuçu-xodó revelam detalhes inéditos
A busca do fotógrafo finalmente teve sucesso em janeiro de 2025. Durante uma caminhada matinal, ele ouviu o canto do tovacuçu-xodó e decidiu seguir o som, movendo-se lentamente para não espantar a ave. Após quase uma hora de espera, avistou o pequeno pássaro em meio à vegetação densa.
Com cautela, ele ajustou sua câmera e conseguiu registrar as primeiras fotos e vídeos da ave rara na natureza. As imagens revelam um pássaro de plumagem marrom-acinzentada, de tamanho mediano e com uma postura característica dos tovacuçus, grupo de aves terrestres da família Grallariidae.
Além da aparência, os vídeos capturados também mostram a ave se movimentando pelo solo da floresta e vocalizando, fornecendo informações valiosas para futuros estudos sobre seu comportamento e ecologia.
Registro da ave rara tem ampla relevância científica
Os registros de Ricardo Plácido não são apenas um marco pessoal, mas também um avanço significativo para a ciência. O registro do tovacuçu-xodó pode ajudar a entender melhor a distribuição geográfica da espécie, sua ecologia e suas necessidades de conservação.
O pesquisador conta que em suas empreitadas para encontrar a espécie teve a ajuda de moradores das comunidades ribeirinhas, e que o feito é também uma oportunidade de estimular a observação de aves, prática comum em regiões amazônicas, o que pode mudar a realidade local das comunidades.
O Parque Estadual Chandless, onde as imagens da ave rara foram capturadas, é uma das áreas mais preservadas da Amazônia e abriga uma biodiversidade riquíssima. “Isso tem uma relevância muito grande para a ciência, porque agora é possível entender mais sobre a espécie e tomar medidas de proteção e conservação”, explica o biólogo.






