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“Mais vale um pássaro na mão do que dois tucanos voando”. É assim que um aliado próximo a Gilberto Kassab, secretário de Governo e Relações Institucionais do estado de São Paulo e presidente nacional do PSD, resume a decisão do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de trocar o PSDB, legenda onde estava há 24 anos, pelo PSD.
Presidenciável no ninho tucano, o gaúcho pode abandonar, pelo menos temporariamente, o sonho de uma aventura na corrida pelo Palácio do Planalto em troca de recursos para tentar eleger-se ao Senado pelo PSD em 2026.
“É para pensar o Brasil, para termos um projeto para o Brasil, para a superação de uma polarização, e me disponho vivamente a liderá-lo com muita responsabilidade”, afirmou Leite em sua primeira declaração na nova legenda, no ato de filiação no último dia 9 em São Paulo, em referência ao projeto presidencial. Nos bastidores, no entanto, é consenso que Leite sabe da inviabilidade de seu nome para a Presidência da República neste momento, e resolveu não trocar o certo pelo duvidoso.
“Mesmo que conseguisse viabilizar uma candidatura presidencial no PSD, Leite não teria condições de bater o presidente Lula em nenhum cenário e o Kassab não vai entrar nessa disputa eleitoral para perder”, afirma um deputado federal do PSD, presente na cerimônia de filiação que prefere não ser identificado ao falar francamente sobre a situação do novo colega.
"Com os recursos adequados, por outro lado, ele tem excelentes chances de ser eleito senador pelo Rio Grande do Sul. O que seria bom para consolidar cada vez mais a bancada do PSD e para ele também, já que ganha um rumo político no futuro próximo. Então o acordo é esse, a gente paga e ele se elege senador”, completa o parlamentar.
De acordo com a sondagem eleitoral ao Senado pelo Rio Grande do Sul, divulgada em março pelo instituto Paraná Pesquisas, o plano é bom. Se a eleição fosse hoje, Leite lidera e seria eleito senador com 43,1% das intenções de votos. Em segundo aparece Manuela D’Ávila (sem partido), com 23,2% das intenções. Onyx Lorenzoni (PL) aparece em seguida na pesquisa, com 21,3% e depois, o Tenente Coronel Zucco (Republicanos), com 17,6%. Marcel van Hattem (Novo) pontuou 17,2%, Paulo Pimenta (PT), 13,4%, e Luiz Carlos Heinze (PP), 12,3%. Osmar Terra (MDB) aparece com 6,9%, Giovani Cherini (PL) com 5,8% e Márcio Biolchi (MDB), com 2%.
Em 2024, o PSDB contou com R$ 147 milhões do fundo eleitoral, valor que deve diminuir substancialmente no próximo ciclo. O PSD, em contrapartida, dispôs de R$ 420 milhões, valor que deve subir no ano que vem, já que a legenda, ao contrário do PSDB, cresceu após as últimas eleições. O valor total ainda vai ser decidido pela Câmara dos Deputados e a divisão exata divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de acordo com as bancadas de cada partido.
O próprio Leite reconhece que, na melhor das hipóteses, ele deve ser a terceira opção de Kassab para a corrida presidencial, além do presidente Lula, governo do qual o PSD ocupa três ministérios: Agricultura, Minas e Energia, e Pesca. “Quero dizer aqui que tenho pelo governador Ratinho Junior, meu colega governador da região Sul, enorme respeito e admiração. Mesmo por isso não procuraria de qualquer maneira, a qualquer custo, ser candidato para liderar um projeto nacional concorrendo com quem eu tenho muita convergência. Por isso mesmo venho para o PSD, é para construirmos juntos", disse o gaúcho ao citar o governador paranaense, cotado como pré-candidato da sigla em 2026.
O governador do Rio Grande do Sul também disse que pode apoiar uma eventual candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), se essa for a decisão da liderança do partido. “Se não for a Presidência, pode ser o Senado sim. Tenho essa disposição de uma contribuição com uma candidatura ao Senado”, confirmou Leite.
- Metodologia da pesquisa citada: 1.628 entrevistados pelo Paraná Pesquisas, em 65 municípios do Rio Grande do Sul, entre os dias 12 e 16 de março de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 2,5 pontos percentuais.
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O cientista político Elias Tavares afirma que o movimento de Leite tem o objetivo de "sobrevivência política" após o fim do mandato como governador do Rio Grande do Sul, motivado principalmente pelo enfraquecimento do partido tucano, que já foi um dos maiores do Brasil.
“O PSDB hoje é um partido em extinção, em processo de fusão, sem interesse ou condições de investir em Leite, tanto em seu projeto presidencial quanto em uma candidatura competitiva ao Senado pelo Rio Grande do Sul”, analisa Tavares.
Segundo o cientista político, o PSDB deixou de fazer parte do grupo político que controla os recursos para as legendas. "Ele [Leite] fez um movimento inteligente ao abrigar-se no PSD. Por outro lado, para o Kassab é um excelente investimento: Leite tem boa imagem e aprovação, é bastante preparado, foi governador duas vezes. Trata-se de um excelente quadro que no Senado pode ser um ator de bastante destaque.”
Com a filiação de Leite, o PSD fica com quatro governadores. O partido conta com 45 deputados federais, 14 senadores e é a sigla com mais municípios sob o seu comando, com quase 900 prefeituras. O PSDB, em contrapartida, fica com apenas o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Ridiel, 13 deputados federais, três senadores e elegeu apenas 273 prefeitos no ano passado, o menor número da história recente.
Em março, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, também já havia migrado para o PSD, de olho em um partido mais robusto no estado para a campanha à reeleição em 2026. Ridiel já foi convidado tanto por Kassab quanto por Valdemar Costa Neto, líder do PL, para ser o próximo a deixar o ninho tucano.
Cada vez mais desidratado, coube ao PSDB lamentar a perda de mais um governador. "Lamento a saída do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do PSDB. De toda forma, desejo boa sorte a ele”, afirma em nota à Gazeta do Povo o presidente da executiva do PSDB paulista, Paulo Serra. “Nós, detentores dos valores históricos do PSDB do estado de São Paulo, seguiremos firmes no propósito da fusão com o Podemos, porque entendemos que nosso país é muito maior que só dois lados.”
Ex-governador de Minas Gerais, ex-senador e deputado federal, Aécio Neves (PSDB) disse ver na decisão de Leite a "opção por um projeto regional, já que o partido ao qual ele se filia, como todos sabem, provavelmente terá outras opções na disputa presidencial”.
“O PSD, legenda cujos membros merecem todo o nosso respeito, tem uma outra concepção da política e não tem dificuldades, por exemplo, em apoiar e participar ao mesmo tempo de governos bolsonaristas e petistas. Essa é a nova realidade com a qual o governador do Rio Grande do Sul terá que conviver daqui para frente", cutuca Aécio, em nota.
O deputado federal também reforça que Leite vai para o PSD em busca de recursos para uma campanha forte ao Senado no ano que vem. "Não sendo, portanto, uma decisão tomada por afinidade ideológica, parece claro que ele optou por um partido que, na sua avaliação, lhe dê melhores condições estruturais para as disputas locais. Lamento que, neste momento de tantas incertezas, a política nacional tenha perdido um ator importante e qualificado para 2026", afirma Aécio.
A fusão do PSDB com o Podemos resultará em uma federação com 28 deputados federais, sete senadores, dois governadores e 400 prefeitos eleitos em 2024, incluindo duas capitais, dando novo fôlego aos dois partidos — isso se não houver mais nenhuma deserção até lá. A criação da cláusula de barreira cria condições para acesso de partidos ao fundo eleitoral. Os partidos precisam eleger pelo menos 11 deputados federais em nove estados diferentes ou obter, no mínimo, 2% de votos válidos para manter o acesso ao dinheiro. Em 2026, o mínimo sobe para 2,5% dos votos válidos e eleição de ao menos 13 deputados federais em nove estados.
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