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A 6ª rodada de concessões de aeroportos, realizada em abril de 2021, colocava, naquele momento, o Grupo CCR — agora Motiva — como um dos maiores operadores do setor no Brasil. Menos de três anos depois, durante um período com investimentos robustos nos 15 aeroportos que arrematou dos blocos Sul e Central, o mesmo grupo decidiu que o melhor caminho seria deixar o setor aéreo e se concentrar apenas em infraestrutura de modais terrestres e sobre trilhos.
Na teleconferência para acionistas sobre os resultados do terceiro trimestre de 2024, ocorrida em 1º de novembro daquele ano, o diretor-executivo da empresa, Miguel Setas, foi bem claro sobre os planos para o futuro: “Priorizamos a alocação de capital em rodovias e em mobilidade urbana, portanto, o foco da companhia é nessas duas plataformas”, disse ele na ocasião.
Dois dias antes, a CCR oferecia R$ 1,601 bilhão de outorga ao governo de São Paulo para arrematar a Rota Sorocabana e se comprometer a investir R$ 8,8 bilhões nos 30 anos de concessão. E em dezembro, dias após a teleconferência, a empresa confirmava o movimento: com desconto de 26,6% sobre a tarifa do pedágio, levou o lote 3 das rodovias do Paraná — estão previstos mais de R$ 16 bilhões em obras.
Só nesses dois leilões, a CCR passou a ser responsável por mais 1.029 quilômetros de estradas, elevando o portfólio para 4.475 quilômetros em seis estados, consolidando-se como a maior concessionária de rodovias do Brasil, com os seguintes ativos:
- AutoBAn (SP) - 317 km
- MSVia (MS) - 846 km
- PRVias (PR) - 569 km
- RioSP (SP e RJ) - 626 km
- Rodoanel (SP) - 32 km
- Sorocabana (SP) - 460 km
- SPVias (SP) - 516 km
- ViaCosteira (SC) - 217 km
- ViaLagos (RJ) - 57 km
- ViaSul (RS) - 465 km
- Renovias (SP) - 345 km
- ViaRio (RJ) - 13 km
Somam-se a isso as operações de 189 quilômetros sobre trilhos, com duas linhas de trens e duas do metrô em São Paulo, o VLT Carioca no Rio de Janeiro e o metrô de Salvador, transportando mais de 3 milhões de passageiros por dia.
Quem está interessado nos aeroportos da CCR
A voracidade sobre os ativos de mobilidade urbana e de rodovias gerou impactos sobre as finanças da companhia. Com muitos investimentos previstos nesse segmento, os aeroportos acabaram virando os alvos internos para melhorar a saúde financeira. Neste ano, a companhia falou publicamente sobre “crescimento rentável” voltado a uma “escolha muito seletiva de ativos” e “otimização do portfólio”.
Essa otimização passa, na visão da CCR, pela venda dos 15 aeroportos dos blocos Sul e Central, além de Confins e Pampulha, ambos em Minas Gerais, e os três equipamentos internacionais em Curaçao, Costa Rica e Equador. Aquilo que no ano passado tratava-se de uma possibilidade é bem provável que se torne realidade ainda em 2025.
O grupo contratou a Lazard e o Itaú Unibanco para auxiliarem na condução do processo de venda. Desde maio, o processo competitivo “entrou na fase de negociações não vinculantes, sem qualquer obrigação de exclusividade para a companhia ou suas afiliadas”, informou a CCR em nota ao mercado.
Miguel Setas afirmou que houve “muito interesse” do mercado sobre os aeroportos, “tanto de operadores regionais como de operadores internacionais” — a declaração foi dada em 7 de maio, em teleconferência com acionistas. Entre os interessados, segundo apurou a reportagem da Gazeta do Povo, estão as principais concessionárias europeias em operação no Brasil:
- Aena;
- Fraport;
- Vinci;
- e Zurich.
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CCR aposta em novo nome para representar o momento
A CCR nasceu em 1999 como Companhia de Concessões Rodoviárias, exatamente para administrar concessões de estradas federais e estaduais. Desde então, juntou ao portfólio os ativos de trilhos e aeroportos. Por esse motivo, segundo a empresa, o nome CCR já não fazia sentido e a companhia passou por um reposicionamento de marca em março deste ano, passando a se chamar Motiva.
Na ocasião do lançamento da Motiva, a diretora de Marca e Comunicação do grupo, Vanessa Vieira, afirmou que “o novo nome representa a evolução de uma marca descritiva, o mais comum entre as empresas de infraestrutura de mobilidade, para uma marca associativa, Motiva, cujo nome dialoga com o propósito da empresa de melhorar a vida das pessoas através da mobilidade.”
De certa forma, a nova marca também dilui a ligação entre a CCR e casos de desvios de conduta comprovados pela Justiça e admitidos por ex-funcionários da companhia em relação a aditivos de contratos de concessões e também de doações irregulares para campanhas políticas.
No Paraná, detentora da concessão de um dos lotes do antigo Anel de Integração, a então CCR RodoNorte admitiu que pagou propina a agentes públicos para a obtenção de vantagens em contratos para desobrigar a concessionária de realizar algumas obras. Em 2022, a empresa firmou um acordo judicial com o estado do Paraná para pagar R$ 856 milhões — a CCR ainda repassaria mais R$ 321 milhões para obras tocadas pelo governo do estado após o fim da concessão.
A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com a Motiva para uma entrevista sobre o novo momento da empresa, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Em 2018, a empresa também fechou um acordo de leniência com o Ministério Público de São Paulo para pagar R$ 81,5 milhões por causa de doações irregulares de caixa dois a campanhas de diversos partidos políticos entre 2009 e 2013. Essas doações foram identificadas no âmbito da operação Lava Jato.
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