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Os fluxos de imigração europeia que chegaram ao Brasil durante os séculos XIX e XX moldaram de forma indelével a cultura brasileira. Em diversas cidades – especialmente nas regiões Sul e Sudeste do país –, tradições, costumes e referências arquitetônicas seguem presentes.
Eles são mantidos por descendentes de imigrantes que trouxeram na bagagem raízes e costumes ao iniciar uma nova e incerta vida na América do Sul. De acordo com o IBGE, a imigração europeia passou a ganhar consistência por volta de 1850, com pico entre os anos de 1880 e 1930.
Nesse período, mais de 5,7 milhões de imigrantes chegaram ao país, em sua maioria europeus. Os principais grupos foram os italianos (cerca de 1,3 milhão), portugueses (1 milhão), espanhóis (700 mil) e alemães (250 mil).
A concentração desses grupos em determinadas regiões resultou na formação de comunidades que seguem preservando traços culturais de seus países de origem. A seguir, conheça cinco cidades brasileiras que parecem europeias.
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1. Holambra (SP) - colonização holandesa
Com fundação que remonta ao final da década de 1940, período marcado pela chegada de neerlandeses que fugiam das consequências da Segunda Guerra Mundial, Holambra foi oficialmente fundada em 27 de outubro de 1991.
Localizada na Região Metropolitana de Campinas, no estado de São Paulo, a primeira entre as cidades brasileiras que parecem europeias tem seu nome originado da junção das palavras Holanda, América e Brasil.
Holambra é o maior centro de produção de flores e plantas ornamentais da América Latina. Com cerca de 40 quilômetros quadrados de área rural, responde por aproximadamente 40% da produção e 80% da exportação do setor florista no Brasil. Desde 1981, sedia anualmente a Expoflora, considerada a maior exposição de flores da América Latina.

Entre os atrativos turísticos está o Moinho Povos Unidos, inaugurado em 2008 para celebrar os 60 anos da imigração holandesa. O monumento, com 38,5 metros de altura e pás de 25 metros, é considerado o maior moinho típico de grãos da América Latina. O projeto foi assinado pelo arquiteto holandês Jan Heijdra, então com 82 anos, e segue o modelo dos primeiros moinhos construídos na Europa no século XVIII.
A cidade foi reconhecida como estância turística pela Embratur em 1998, 50 anos após sua fundação, ocorrida em 14 de julho de 1948. Holambra recebe mais de 300 mil visitantes por ano e conta com um calendário de eventos voltado ao turismo.
2. Petrópolis (RJ) – colonização alemã e herança imperial
A cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, reúne elementos da cultura alemã e do período imperial brasileiro. Localizada no caminho entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, a cidade foi ponto de apoio para tropeiros e viajantes durante o ciclo do ouro. No início do século XIX, tornou-se também destino de férias da família do imperador Dom Pedro I.
A presença alemã na cidade remonta a 1845, com a chegada de imigrantes convidados pelo então imperador Dom Pedro II. A iniciativa foi liderada pelo major Julio Frederico Koeler, engenheiro e militar nascido na Alemanha. Koeler foi responsável por administrar a criação da Colônia de Petrópolis e coordenar a vinda dos colonos germânicos para a região.

Entre os principais eventos culturais da cidade está a Bauernfest, festa tradicional alemã que homenageia Gustavo Ernesto Bauer, um dos fundadores do Museu Casa do Colono. A instituição tem como missão preservar o legado da cultura germânica na cidade.
Petrópolis conta com sete grupos folclóricos que participam ativamente da festividade. As apresentações incluem danças típicas, trajes tradicionais, culinária, jogos e o uso do idioma alemão, mantendo vivas as tradições herdadas pelos descendentes dos imigrantes.
A cidade também abriga importantes pontos turísticos relacionados à história do Brasil, como o Museu Imperial, a Casa da Princesa Isabel e o Museu Casa de Santos Dumont. Entre as atrações de influência germânica estão cervejarias típicas e o próprio Museu do Colono.
3. Bento Gonçalves (RS) – colonização italiana
Conhecido como a “Capital Brasileira da Uva e do Vinho”, o município de Bento Gonçalves possui forte influência da imigração italiana desde que os primeiros grupos de italianos chegaram à região da Encosta Superior do Nordeste, em 1875.
A cidade brasileira que parece europeia conta com diversos pacotes de viagem e passeios focados no enoturismo – segmento focado na apreciação do vinho e da experiência cultural e gastronômica associada à sua produção. A cidade sedia, desde 1967, a Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), uma das tradicionais feiras vitivinícolas do país.

A região do Vale dos Vinhedos, tradicional na produção e no turismo de vinhos, recebe milhares de turistas todos os anos, em todas as épocas do ano. O local, de acordo com a Secretaria de Turismo de Bento Gonçalves, é o principal destino enoturístico brasileiro desde 2008, além de ser considerado (desde 2012) como patrimônio histórico e cultural do estado do Rio Grande do Sul.
4. Treze Tílias (SC) – colonização austríaca
Fundada em outubro de 1933 pelo ex-ministro da agricultura da Áustria, Andreas Thaler, a cidade de Treze Tílias, no oeste catarinense, traz forte influência de seus colonizadores após quase 100 anos da chegada dos primeiros grupos de germânicos na região.
Recheado de restaurantes típicos e de cervejarias artesanais, o município de pouco mais de 9 mil habitantes é conhecido por sua hospitalidade e tranquilidade, perfeito para quem deseja realizar um turismo familiar e sem grandes multidões.

Conhecida como “Tirol Brasileiro” – em referência à histórica região de Tirol, que compõe a Áustria e uma porção da Itália –, Treze Tílias também conta com diversos grupos culturais típicos, como a Banda dos Tiroleses, diversos grupos de danças austríacas e corais que interpretam canções tirolesas e melodias aprendidas de geração em geração.
O charmoso município está localizado a 420 quilômetro da capital Florianópolis e pode ser acessado via aeroporto de Joaçaba,a 30 quilômetros de distância.
5. Pomerode (SC) – colonização alemã
Popularmente conhecida como “a cidade mais alemã do Brasil”, Pomerode preserva com orgulho suas raízes alemãs e é referência entre as cidades brasileiras que parecem europeias.
Localizado no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, o município de pouco mais de 34 mil tem forte influência do turismo em sua economia, graças aos diversos restaurantes e festivais gastronômicos de comidas típicas alemãs.

Pomerode se destaca pela arquitetura inusitada no coração da América do Sul – graças à técnica conhecida como enxaimel, que consiste em construções com telhados inclinados e paredes formadas por uma estrutura de madeira, com vigas dispostas em posições horizontais, verticais e inclinadas.
Os espaços entre as vigas são preenchidos com materiais como tijolos, taipa ou outros materiais locais. Um viajante desavisado poderia achar que caiu no meio de uma cidade na Alemanha.
Além disso, a mais alemã das cidades brasileiras encontra-se a pouco mais de 30 quilômetros de Blumenau, cidade que recebe anualmente no mês de outubro a Oktoberfest, uma das maiores festas cervejeiras do Brasil.





