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Longevidade ativa

Como é a vida na cidade com a maior taxa de envelhecimento do Brasil

Com 277 idosos para cada 100 crianças, Coqueiro Baixo (RS) lidera ranking nacional de envelhecimento.
Com 277 idosos para cada 100 crianças, Coqueiro Baixo (RS) lidera ranking nacional de envelhecimento. (Foto: Diego Martini/Prefeitura de Coqueiro Baixo)

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Coqueiro Baixo, no Vale do Taquari (RS), tem a maior taxa de envelhecimento do Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tem 1.290 habitantes, dos quais 518 são idosos. O índice de envelhecimento chega a 277 pessoas com 65 anos ou mais para cada 100 crianças de 0 a 14 anos.

Segundo a Secretaria de Assistência Social de Coqueiro Baixo, entre os 518 idosos:

  • 182 têm entre 60 e 70 anos
  • 219 estão entre 70 e 80 anos
  • 100 têm de 80 a 90 anos
  • 17 têm entre 90 e 100 anos.

A idade mediana também confirma o envelhecimento: 53 anos. Isso significa que metade da população tem mais de 53 anos. Os indicadores são os maiores do país, segundo os dados do último Censo, de 2022.

O Rio Grande do Sul lidera o envelhecimento populacional no Brasil. Nove entre os dez municípios com os maiores índices de idosos estão no estado. Coqueiro Baixo, a 167 quilômetros de Porto Alegre, ocupa o primeiro lugar na lista.

“Muitas pessoas que saíram do município ainda jovens, ao se aposentarem retornam para Coqueiro Baixo, alguns para zelar pelos cuidados dos pais e outros para usufruírem de uma vida mais tranquila, em uma cidade que oferece tudo o que os idosos necessitam”, afirma Veridiane Maria Consatti Bertol, secretária da Assistência Social na cidade.

Cidade com maior taxa de envelhecimento tem vocação para o agro

Coqueiro Baixo tem uma forte base na agropecuária, o que sustenta sua arrecadação, mesmo com o grande número de aposentados. Pelo menos 95% da arrecadação do município com atividade econômica local vem do agro. A produção de suínos, frangos e leite impulsiona a economia e garante a oferta de serviços públicos, como saúde e transporte.

O município é composto por zona rural e duas ruas principais na área urbana. A emancipação ocorreu há 29 anos, após desmembramento de Encantado, Arroio do Meio e Nova Bréscia.

A cidade estimula a longevidade ativa. O Centro de Referência em Assistência Social (Cras) promove atividades como dança sênior e artesanato. Ao lado do posto de saúde, uma academia oferece treinos gratuitos com instrutoras diariamente.

“Todos se conhecem, têm oportunidade de se manterem ativos, através dos trabalhos em casa, com suas hortas, jardins e pequenas plantações. Muitos auxiliam na criação e cuidado com os netos”, afirmou a secretária da Assistência Social.

Atividades para idosos reforçam vínculos socais e previnem situações de risco em municípios com alto índice de envelhecimento.Atividades para idosos reforçam vínculos socais e previnem situações de risco em municípios com alto índice de envelhecimento. (Foto: Grazi Meneghini/Prefeitura de Coqueiro Baixo)

Coqueiro Baixo tem migração temporária e retorno na aposentadoria

O município é conhecido como "berço" do espeto corrido. De lá saiu Albino Ongaratto, considerado o criador do modelo de churrascaria por rodízio. Muitos moradores seguiram o mesmo caminho, abriram restaurantes em outros estados e países e retornaram à cidade anos depois.

O ciclo se repete: jovens saem, buscam oportunidades e voltam quando se aposentam. O movimento constante entre ida e retorno se tornou parte da dinâmica local. É o caso da Gema Defendi. Ela tinha 29 anos quando resolver montar uma churrascaria com o esposo, em Porto Alegre. Foram 25 anos de trabalho e, quando se aposentaram, resolveram retornar a Coqueiro Baixo.

“Tenho 77 anos e meu marido 78. Nós cansamos de trabalhar na churrascaria, vendemos e viemos embora. Eu nasci em Coqueiro Baixo. Achamos que aqui era muito melhor para viver. É uma cidade bonita, boa para morar”, conta a aposentada.

Susete Caumo Bassegio fez o mesmo caminho. Aos 15 anos, ela saiu de Coqueiro Baixo para trabalhar na churrascaria do irmão. Quando se casou, montou uma confeitaria com o marido. Quando os filhos se formaram, voltou para o município.

“Resolvemos fazer o caminho inverso. Já tínhamos terras aqui e viemos atrás de qualidade de vida, paz, tranquilidade, alimentação saudável. Coqueiro Baixo é acolhimento, vida tranquila; é natureza e vida”, afirma Susete.

Segurança e vínculos comunitários fortalecem cidade com maior taxa de envelhecimento

Em Coqueiro Baixo, poucas casas têm cercas. Nas que têm, as grades são baixas. Como a população se conhece, a presença de pessoas desconhecidas chama atenção. De acordo com a administração municipal, o ambiente comunitário contribui para a sensação de segurança.

"Atendemos 11 grupos de idosos, no centro comunitário e nas comunidades. Realizamos danças, confecção de artesanato, almoços - diversas atividades para integrar a população. São atividades que proporcionam bem-estar e melhoram a qualidade de vida", conta a secretária de Assistência Social.

O nome Coqueiro Baixo vem de tempos antigos, quando tropeiros usavam dois coqueiros como referência de navegação. Um era alto; o outro, baixo. Coqueiro Alto continua como linha rural. Coqueiro Baixo se tornou município autônomo.

As cidades brasileiras com mais idosos

  • Coqueiro Baixo (RS): 30,08%
  • União da Serra (RS): 27,86%
  • Santa Tereza (RS): 26,84%
  • Relvado (RS): 26,73%
  • Guabiju (RS): 26,46%
  • Monte Belo do Sul (RS): 26,36%
  • Ivorá (RS): 25,45%
  • Coronel Pilar (RS): 25,08%
  • Vespasiano Corrêa (RS): 25,03%
  • Águas de São Pedro (SP): 24,89%

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Segundo dados do IBGE, a população brasileira atingirá seu máximo em 2041, com 220,4 milhões de habitantes. Após esse ano, a tendência é de queda, com uma projeção de 199,2 milhões em 2070.

A idade mediana — que passou de 28,3 em 2000 para 34,8 em 2023 — atingirá 51,2 em 2070. Em 2025 são 85,1 pessoas com 60 anos ou mais para cada 100 de 14 anos ou menos — o dobro do registrado em 2000. Conforme o IBGE, a estimativa de vida evolui da seguinte forma:

Pessoas acima de 60 anos:
1960: 5%
2025: 16,6%
2070: 37,8%

Expectativa de vida ao nascer:
1960: 52,3 anos
2025: 76,8 anos
2070: 83,9 anos

Expectativa de vida aos 60 anos:
1960: 76,4 anos
2025: 82,7 anos
2070: 86,5 anos

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