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Ceará

“Cybercangaço”, disputa entre facções e homicídios pressionam governador petista

Onda de crimes e disputa entre facções assusta população no Ceará
Nas últimas semanas, o Ceará registrou diversos ataques, como corte de cabos de internet, incêndio de veículos e tiros contra as sedes das empresas. (Foto: Divulgação/Governo do Ceará)

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“Entre um policial ser vítima e bandidos tombarem, que eles levem sempre a pior”, postou o governador no Instagram no início da semana, ao comentar uma notícia sobre a morte de dois suspeitos em troca de tiros com a PM. "Nossas forças de segurança têm meu apoio”, completou. Na ação, quatro fuzis foram apreendidos com os suspeitos de pertencer a uma quadrilha interestadual de assalto a bancos

O posicionamento duro contra a criminalidade alinhado com princípios tradicionais da direita sobre segurança pública caberia sem contradições na boca do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, ou do governador Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, mas surpreende por vir do governador petista do Ceará, Elmano de Freitas

Depois de um 2024 repleto de chacinas, homicídios, guerra de facções e sensação de insegurança galopante entre a população cearense – e pressionado por um 2025 que começa ainda pior, com ataques desestabilizadores do crime organizado à infraestrutura de telecomunicações na região metropolitana de Fortaleza e outras cidades – Freitas tem tentado endurecer o discurso e pedir ajuda para combater a alta criminalidade em seu estado, destoando da tônica leniente da maioria das lideranças de esquerda quando o assunto é segurança pública.

 “Precisamos alterar a Lei de Execução Penal no que diz respeito à progressão de regime de pena", afirmou o governador cearense nas páginas amarelas da revista Veja, na semana passada. A curva para a direita no discurso acontece junto com uma escalada da violência e ações de facções nacionais do crime organizado no Ceará, e não poupa nem o próprio partido. “O PT precisa deixar de falar apenas para a bolha.” 

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Provedores de internet encerram operações no Ceará após ameaças de facções

De acordo com a Associação dos Provedores do Ceará (Uniproce), pelo menos cinco provedores de internet encerraram suas operações no Ceará devido a ataques e ameaças de grupos criminosos à infraestrutura e funcionários das empresas neste ano. Desde pelo menos fevereiro, os ataques acontecem em Fortaleza, Caucaia, Caridade e São Gonçalo do Amarante.

Nem as empresas de internet nem a Polícia Civil informaram um número de pessoas afetadas. Em Caridade, cidade de 22,5 mil habitantes no norte do Ceará, a queda na conexão chegou a atingir 90% dos clientes.

O PT precisa deixar de falar apenas para a bolha.

Governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT)

Segundo denúncia de vítimas e investigações da Polícia Civil, a facção criminosa carioca Comando Vermelho, dominante também em amplos territórios no Ceará, exige dinheiro de operadoras de internet para permitir a oferta do serviço e promove ações de retaliação contra as provedoras que recusam pagar a "taxa". O estado registrou diversos ataques, como corte de cabos de internet, incêndio de veículos e tiros contra as sedes das empresas, pelo menos desde 22 de fevereiro.

Na última semana, foram seis investidas feitas pela facção criminosa Comando Vermelho no Ceará. “Infelizmente, em meros 20 minutos, atos de vandalismo devastaram tudo o que construímos com tanto esforço e comprometimento, levando-nos a tomar a difícil decisão de encerrar nossas operações", afirmou em nota no início da semana a GPX Telecom, uma das empresas afetadas pela onda de crimes no Ceará. “Esse triste episódio evidencia a fragilidade da segurança em que vivemos nos nossos dias atuais.”

A Secretaria da Segurança Pública do Ceará informa que a Polícia Civil investiga o crime, por meio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). O órgão destacou que 27 pessoas suspeitas de envolvimento com ataques a provedoras de internet foram presas.

As capturas ocorreram por força de mandados de prisão e em flagrante. Durante os trabalhos policiais, veículos, diversos aparelhos celulares, armas e munições foram apreendidos.

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Escalada da violência é reflexo do confronto entre facções no Ceará

O estado até conseguiu reduzir o número de roubos em 16,3% em 2024, em relação a 2023. De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública do estado, foram 35.657 registros deste tipo de ocorrência no ano passado. No ano anterior, foram 42.607. Porém, outros crimes violentos se mantiveram em patamares estáveis ou apresentaram alta no Ceará, contribuindo para a sensação de insegurança da população.

Os homicídios (com intenção de matar) aumentaram 10% no mesmo período, e passaram de 2.970 a 3.272 de um ano para o outro. Conforme dados do Ministério da Justiça, a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes no estado é de 35,4, a segunda pior do Brasil - atrás apenas do Amapá, com 42,1.

A escalada da violência é reflexo do confronto entre facções no estado. Ao longo de 2024 vieram a conhecimento público diversos casos em que pessoas foram assassinadas apenas por visitarem um bairro dominado por um grupo criminoso e residirem em um local dominado por uma facção rival. Em dezembro, um turista adolescente de 16 anos de São Paulo que viajava de férias com o pai foi assassinado por membros do Comando Vermelho em Jericoacoara. Ele havia posado para fotos e postado nas redes sociais fazendo símbolos com as mãos que foram interpretados como referentes ao PCC.

Apenas no primeiro semestre do ano passado, foram quatro grandes chacinas registradas no estado. Em outra demonstração da audácia do crime no Ceará, em junho, oito pessoas foram executadas a tiros em uma praça de Viçosa.

O secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Roberto Sá, informou na ocasião que as investigações sobre o crime apontavam para disputas entre facções pelo tráfico de drogas. “Estamos numa situação difícil. As drogas, as facções estão avançando a passos largos. O estado legal foi engolido pelo estado marginal”, desabafou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), Raimundo Nonato, em seu discurso de abertura do Congresso Regional Eleitoral, em Juazeiro do Norte, no final de semana passada.

“Temos facções disputando território e usando os jovens pobres. Mais de 80% dos homicídios no Ceará são de pessoas que integram essas organizações criminosas", afirmou o governador do Ceará. “Defendo sempre que haja uma união do país contra a violência, que os estados possam ter um apoio mais forte do governo federal, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso para verificar a questão das leis",disse à Veja.

O estado legal foi engolido pelo estado marginal.

Presidente do TRE-CE, Raimundo Nonato

Enquanto isso, de olho em 2026, o governador do Ceará tenta reagir contra a onda de crimes. Com um investimento de R$ 160 milhões, em fevereiro Freitas lançou um pacote de recursos com um plano de metas para a área da segurança pública visando a redução dos índices de criminalidade, assim como um plano de premiação para os policiais por aumento de produtividade com até R$ 6 mil extras por ano. O objetivo é reduzir em 15% o número de roubos e em 11% a taxa de homicídios durante 2025.

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