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A cotação do ouro tem disparado nos últimos meses, alcançando níveis históricos, à medida que os investidores fogem da instabilidade dos mercados financeiros e buscam refúgio em ativos seguros. Reconhecido como um dos investimentos mais confiáveis em tempos de crise, o metal precioso voltou a brilhar diante das incertezas globais. No Brasil, Minas Gerais mantém a liderança na exportação de ouro e o mercado suíço é quem alavanca as vendas.
Na semana passada, o ouro ultrapassou a marca dos US$ 3.201 por onça-troy, ou seja, R$ 18.955,20. A unidade de peso para metais preciosos equivale a 28,3495 gramas. O aumento registrado é impulsionado pelos temores gerados pela instabilidade internacional. Os planos tarifários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ecoam entre os investidores com repercussões nos mercados financeiros.
Segundo a consultoria Elos Ayta, o ouro foi o investimento com maior retorno no primeiro trimestre de 2025. Além disso, o Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo, projeta que a cotação do metal pode alcançar US$ 3.700 por onça-troy até o final do ano e até US$ 4.000 em meados de 2026.
Segundo Verônica Winter, analista de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o ouro é referência de estabilidade e tem sido um instrumento de proteção financeira em tempos de incertezas globais. "Por isso, sua exportação tem crescido, especialmente em um cenário de conflitos geopolíticos e escalada da guerra comercial. O Brasil, e particularmente Minas Gerais, têm se beneficiado desse mercado”, afirma a analista.
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Brasil se consolida como competidor global na corrida pelo ouro
De acordo com dados da The Gold Bullion Company, o Brasil ocupa o 7º lugar no balanço mundial entre oferta e demanda de ouro. O ranking é liderado pela Índia, Turquia e China. Em 2024, o Brasil exportou R$ 3,96 bilhões em ouro, equivalentes a 61,9 toneladas do metal. O Canadá se destacou como principal destino, absorvendo R$ 1,84 bilhão — ou 46% do total exportado.
A tendência de crescimento se intensificou em 2025. No primeiro quadrimestre do ano, o país registrou um aumento de 59,94% no valor e 19,28% no volume exportado, em comparação ao mesmo período do ano anterior, conforme a ComexStat, o sistema de divulgação de estatísticas do comércio exterior no Brasil.
Segundo a gerente de Assuntos Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Aline Nunes, o ouro brasileiro é procurado para ativo financeiro e também atende demandas em outras áreas, como tecnologia e saúde. "Entre as principais utilizações está a reserva de valor, investimentos, o setor de joalheiro, componentes eletroeletrônicos e em menores usos para medicina (fármacos) e odontologia", completa.
Principais destinos da exportação de ouro do Brasil no primeiro trimestre de 2025:
- 1º Canadá - US$ 1,87 bilhão
- 2º Suíça - US$ 1,00 Bilhão
- 3º Reino Unido - US$ 645 milhões
- 4º Índia - US$ 234 milhões
- 5º Estados Unidos - US$ 109 milhões
Minas Gerais lidera exportação de ouro e ganha novos mercados
Em 2024, o estado mineiro respondeu por 45% do total nacional de exportações de ouro, movimentando R$ 1,81 bilhão. Nos primeiros quatro meses de 2025, o desempenho de Minas registrou desempenho ainda mais expressivo, com um salto de 85,21% no valor e 34% no volume de ouro exportado.
Os dados são da Fiemg e refletem o aumento da demanda internacional e a crescente competitividade do ouro mineiro no mercado global. O produto representou 6,7% de toda a exportação de Minas Gerais no último mês de abril.
De acordo com o economista da Ourominas Mauriciano Cavalcante, a Suíça se destaca como um dos maiores centros globais de refino, armazenamento e comércio do metal. "A infraestrutura avançada da Suíça e seu mercado financeiro robusto fazem do país um hub estratégico para o ouro brasileiro", explica.
Segundo o Ibram, o ouro é responsável por cerca de 70% das exportações brasileiras para a Suíça
Cavalcante aponta que há uma diversificação de países que procuram pelo ouro mineiro e a Suíça tem a concorrência de potências da economia mundial entre os importadores interessados no metal brasileiro. "Além da Suíça, Estados Unidos, China e países da União Europeia figuram entre os principais compradores, com variações de acordo com o contexto econômico e as negociações comerciais."
Quatro das maiores refinarias de ouro do mundo estão localizadas na Suíça, que concentram até 70% do refino do metal no planeta. Apesar de não possuir minas de ouro, o país é responsável pela produção das barras e pela fabricação de joias. A Suíça também é um centro para a compra e venda de ouro físico, por parte de investidores, funcionando como um centro de reserva financeiro.
Estados brasileiro que mais exportaram ouro no primeiro trimestre de 2025:
- Minas Gerais - US$ 1,85 bilhão
- São Paulo - US$ 980 milhões
- Pará - US$ 424 milhões
- Bahia - US$ 422 milhões
- Goiás - US$ 320 milhões
Mercado mineiro de joias estima crescimento
Após encerrar 2024 com crescimento de 5%, o mercado de joias e bijuterias em Minas Gerais estima uma alta entre 5% e 10% nas vendas neste ano. Mesmo com bons resultados, o setor enfrenta desafios significativos como a valorização do ouro e o aumento das importações provenientes do mercado asiático.
O preço do metal impacta o setor, pois as semijoias e bijuterias necessitam de um pequeno percentual de ouro na produção. “Podemos afirmar que o desempenho do primeiro bimestre de 2025 superou o mesmo período de 2024. Ainda que o crescimento seja considerado modesto, ele já se aproxima de um patamar entre 5% e 10%”, afirma o presidente do Sindijoias Ajomig, Murilo Graciano.
Além disso, ele ressalta que a instabilidade do cenário econômico global continua a influenciar diretamente as projeções do setor, que ainda enfrenta a concorrência dos importados. “Os produtos oriundos, principalmente do mercado asiático, chegam ao Brasil com impostos bem reduzidos, o que pode prejudicar a indústria nacional. Porém, tudo indica que manteremos esse ritmo de expansão ao longo de todo o ano”, projeta Graciano.
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Brasil intensifica rastreabilidade do ouro para exportação
O Brasil intensificou o controle sobre o comércio de ouro e o combate à extração e exportação ilegal. O país passou a exigir a emissão de notas fiscais eletrônicas nas transações com ouro de garimpo, o que, por consequência, ampliou a rastreabilidade do metal.
Em seguida, veio o fim da presunção de boa-fé: até então, uma lei de 2013 permitia a venda do ouro com base apenas nas informações do vendedor, sem comprovações adicionais. No entanto, em abril de 2023, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes suspendeu a presunção de boa-fé, assim o comprador é responsável por verificar a origem legal do ouro.
Além disso, a Receita Federal intensificou a fiscalização nas aduanas, especialmente no aeroporto de Guarulhos, exigindo comprovação da origem do metal precioso preparado para exportação.
O advogado e geólogo Frederico Bedran Oliveira, presidente da Comissão de Direito Minerário da OAB do Distrito Federal, aponta que outras medidas ainda são necessárias para aumentar o controle do ouro no Brasil.
"A solução mais adequada é o registro de todas as transações, desde a origem ao consumo final. Seria necessário um combo de tecnologias, com registros digitais: de pessoas, produtos e locais. Também seria necessária a rastreabilidade geoquímica, mas os órgãos competentes ainda não implementaram isso", comenta Bedran.
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