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Futuro nos trilhos

Como ferrovia no Centro-Oeste vai impulsionar o agro e incentivar a exploração mineral

A Ferrovia de Integração Centro-Oeste terá 888 quilômetros de extensão e uma ponte sobre o Rio Araguaia.
A Ferrovia de Integração Centro-Oeste terá 888 quilômetros de extensão e uma ponte sobre o Rio Araguaia. (Foto: Jeff D’Avila/ANTT)

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A Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) alcançou 39% de execução, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). São 1.534 quilômetros de extensão, divididos em três trechos. A entrega é prevista para 2028. A ANTT aponta que o investimento total da Fico vai superar R$ 10,2 bilhões.

O primeiro trecho liga Goiás ao Mato Grosso. Os trilhos entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT) somam 383 quilômetros. A segunda etapa, de Água Boa até Lucas do Rio Verde (MT), conta com uma extensão de mais 505 quilômetros. O traçado expande ainda para Lucas do Rio Verde a Vilhena (RO), com 646 quilômetros, atendendo a produção agropecuária do Sul de Rondônia - com a interligação à Ferrovia Norte-Sul (FNS).

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), a Fico transportará grãos, combustíveis e bens industrializados. A ferrovia é uma perspectiva logística de reduzir custos logísticos e aumentar a previsibilidade das exportações. A infraestrutura posiciona o Centro-Oeste como elo entre as regiões Norte e Sudeste brasileiras com países estratégicos da América do Sul.

A Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) é um projeto de infraestrutura que pretende interligar os estados de Goiás e Mato Grosso, facilitando o escoamento da produção agrícola para os portos. A Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) é um projeto de infraestrutura que pretende interligar os estados de Goiás e Mato Grosso, facilitando o escoamento da produção agrícola para os portos. (Foto: Jeff D’Avila/ANTT)

De acordo com o diretor-geral da ANTT, Guilherme Theo Sampaio, a ferrovia deve beneficiar diretamente 11 municípios. “Estamos falando de uma ferrovia que vai impulsionar o desenvolvimento regional, reduzir custos logísticos, aliviar as rodovias e contribuir significativamente para uma matriz de transporte mais limpa e eficiente”, afirmou. O projeto começou em 2010, com início das obras em setembro de 2021.

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A Fico é um projeto da Infra S.A., empresa pública federal de capital fechado, vinculada ao Ministério dos Transportes. O primeiro trecho, entre Mara Rosa e Água Boa, foi viabilizado por investimento cruzado. A Vale, empresa multinacional brasileira de mineração e logística, executa as obras como contrapartida da renovação antecipada dos contratos da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e da Estrada de Ferro Carajás (EFC), firmada em 2020.

O traçado de 383 quilômetros foi projetado para cargas pesadas. A estrutura utiliza bitola larga de 1,60 metro, trilhos TR-UIC 60, dormentes de concreto monobloco e capacidade de 32,5 toneladas por eixo. O custo de capital (capex) estimado é de R$ 2,73 bilhões.

A conexão vai permitir o escoamento de grãos e minérios tanto para os portos do Arco Norte, como Itaqui (MA), quanto para Santos (SP). A Fico vai ter conexão com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que vai do Porto Sul, em Ilhéus (BA), até Lucas do Rio Verde (MT).

Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) diz que entrega da Ferrovia de Integração Centro-Oeste ocorrerá em 2028.Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) diz que entrega da Ferrovia de Integração Centro-Oeste ocorrerá em 2028. (Foto: Ilustração/Divulgação Infra S.A.)

O gerente de Regulação Ferroviária da ANTT, Fernando Feitosa, afirma que as obras seguem dentro do cronograma e que a entrega continua prevista para 2028. “A ANTT realiza fiscalizações mensais e pontos de controle técnico em todo o trecho”, diz.

Ele destaca que a ponte ferroviária sobre o Rio Araguaia representa um dos maiores desafios da construção, numa execução que requer rigor técnico. A ponte ferroviária terá extensão de 1,6 quilômetro sobre o Rio Araguaia, ligando Goiás ao Mato Grosso.

A construção adota a técnica de balanços sucessivos, com aduelas moldadas in loco ou pré-moldadas. O vão central terá 140 metros para permitir a navegação e a estrutura vai contar com 40 vãos adicionais.

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A Ferrovia de Integração Centro-Oeste (EF-354) é parte do Corredor Ferroviário Leste-Oeste, com conexão à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) - (EF-334). O projeto do corredor foi incorporado ao novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) lançado em agosto de 2023.

A obra enfrentou resistência de ambientalistas que apontaram impacto em terras indígenas, sendo 23 territórios em Mato Grosso e um em Rondônia. Um levantamento da InfoAmazonia apontou impacto em 105 nascentes e afluentes de três importantes bacias hidrográficas brasileiras: Xingu, Tocantins-Araguaia e Tapajós.

Em dezembro de 2024, a Infra S.A. finalizou os acordos de desapropriações necessários para as obras da primeira etapa da Fico. Ao todo, foram 344 processos, resolvidos na Justiça ou de forma amigável. Em janeiro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizou a realização dos trabalhos em toda a extensão do trecho inicial da ferrovia.

Para o setor produtivo de Goiás e Mato Grosso, o projeto da Fico não apenas interliga centros de produção agrícola a portos estratégicos, como Santos (SP), Itaqui (MA) e Ilhéus (BA), como promete reduzir custos operacionais e ampliar o acesso a mercados internacionais. “Um terminal ferroviário tem área de influência de uma circunferência de 150 quilômeros. Você consegue ter um agregado de indústrias, agroindústrias e prestadores de serviços”, detalha o consultor da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Luiz Antônio Pagot.

Com 39% de obras prontas na Ferrovia de Integração Centro-Oeste, setor produtivo espera crescimento no escoamento da produção agrícola e mineral da região.Com Ferrovia de Integração Centro-Oeste, setor produtivo espera crescimento no escoamento da produção agrícola e mineral da região. (Foto: Bruno Lourenço/Infra S.A.)

Projeção do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima crescimento de mais de 50% na produção de soja em Mato Grosso até 2033/34. A de milho pode avançar mais de 116%. A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) cobra estrutura para dar vazão ao volume.

“Enfrentamos gargalos em rodovias importantes como a BR-158, BR-242 e BR-080, que ainda não estão plenamente pavimentadas ou concluídas. Isso compromete a competitividade dos nossos produtos no mercado. A Fico é uma infraestrutura fundamental para o futuro da produção agrícola no Vale do Araguaia”, defende o vice-presidente da Aprosoja-MT, Luiz Pedro Bier.

As expectativas são altas com o impulso na infraestrutura logística da região. O presidente da Associação dos Produtores de Soja Goiás (Aprosoja-GO), Clodoaldo Calegari, aposta que o agronegócio de Goiás vai vivenciar um novo crescimento até o fim desta década, com a conclusão da Fico. “Temos ainda muita terra disponível na região para a agricultura, altamente favorecida pelo seu relevo e abundantes recursos hídricos”, acrescenta ele.

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Dados da ANTT apontam que a malha ferroviária representa menos de 20% da matriz de transporte brasileira. Em países como Rússia, a fatia passa de 80%. Nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, esse percentual é de 40%.

Mesmo com baixa participação, o setor ferroviário brasileiro segue em expansão - mesmo que a passos lentos. Segundo a Abifer, o setor emprega 66 mil pessoas, movimenta R$ 7 bilhões ao ano e recebeu R$ 6 bilhões em investimentos nos últimos 10 anos.

De acordo com a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o volume de cargas transportadas por ferrovias gerais alcançou 150 milhões de toneladas em 2024, o maior da série histórica. Incluindo os minérios de ferro, o total superou 540 milhões de toneladas, com alta de 1,83% em relação a 2023.

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