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Mantendo uma tradição de décadas, Ouro Preto (MG) recebeu autoridades para a entrega da Medalha da Inconfidência, maior honraria concedida pelo governo de Minas Gerais. O evento ocorre no centro da cidade histórica que é considerada o berço da Inconfidência Mineira. Em razão da morte do papa Francisco, o cerimonial foi alterado. Não houve execução do Hino Nacional, nem de outras músicas tradicionais previstas no protocolo e as bandeiras foram hasteadas a meio mastro.
A Gazeta do Povo foi homenageada na cerimônia com a Grande Medalha, uma das designações da láurea. A diretora da unidade de Jornais da Gazeta do Povo, Ana Amélia Filizola, que recebeu a Medalha da Inconfidência, falou sobre a importância do reconhecimento: “Para nós da Gazeta é muito importante receber o maior prêmio do estado de Minas Gerais. Ainda mais no dia de Tiradentes, um inconfidente que tanto brigou, lutou e morreu pela liberdade. A batalha é a mesma, é pela nossa liberdade, mas hoje pela liberdade de expressão, pela liberdade de imprensa. E é por isso que nós estamos todos os dias trabalhando, colocando nossos jornalistas à disposição, para dar voz. A gente acredita plenamente que para um país democrático é fundamental a liberdade de expressão”.
A Medalha da Inconfidência é uma honraria concedida pelo governo de Minas a personalidades e instituições que contribuem para o desenvolvimento de Minas Gerais e do país e tem quatro designações: Grande Medalha; Medalha de Honra; Medalha da Inconfidência; e o Grande Colar, que é concedido a chefes de Estado, chefes de governo e chefes dos demais Poderes da União. Neste ano, 171 personalidades ou instituições foram agraciadas.
O principal homenageado do dia, com a entrega do Grande Colar, foi o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que, aos 35 anos, é o deputado mais jovem da história a presidir a Câmara Federal, cargo assumido este ano. Médico de formação e em seu quarto mandato como deputado federal, ele se consolidou no Parlamento como político habilidoso, ganhando espaço nos bastidores da política nacional.
Durante a cerimônia, marcada pelos 40 anos da morte de Tancredo Neves e pela reverência à memória de Tiradentes, Motta fez um discurso rápido em que exaltou o legado do mártir da Inconfidência como símbolo de luta por uma nação mais justa. “A inconfidência mineira nasceu do cansaço de ver o ouro escorrer pelos dedos, de pagar quintos à coroa, de ser humilhado pela derrama, o mais cruel de todos os impostos. Os inconfidentes se insurgiram contra esse sistema que tudo cobrava e nada devolviam. Sonhavam com um país livre sim, mas também justo”.
Ao ser agraciado com a maior honraria do estado, Hugo Motta se junta a um seleto grupo de líderes nacionais reconhecidos por sua contribuição à República, como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, homenageado em 2024, e Michel Temer em 2023.
Medalha da Inconfidência é entregue em memória da Inconfidência Mineira, no Dia de Tiradentes
Criada durante o governo de Juscelino Kubitschek, a Medalha da Inconfidência é entregue, tradicionalmente, todo dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, em referência a Joaquim José da Silva Xavier, mártir da Inconfidência Mineira, movimento de independência que teve como epicentro a cidade de Ouro Preto. Neste dia, a capital do estado também é transferida oficialmente para a cidade, também em referência a Vila Rica, primeira capital de Minas Gerais e como era chamada Ouro Preto até 1823.
O governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) iniciou sua fala lembrando do papa Francisco. “Em setembro de 2023, tive o privilégio de estar na presença do papa no Vaticano. Ao ouvir que eu era de Minas Gerais, ele, sempre muito humilde e sábio, falou com carinho sobre nós, destacando nossa luta pela liberdade e nossa vocação para a paz”.
Com diversas alusões ao cenário político brasileiro, Zema falou que Minas Gerais é conhecida pela sua hospitalidade, mas que o estado pode ser combativo quando necessário. “Nós também carregamos em nossa essência um componente forte de coragem para combater injustiças de governos autoritários”, afirmou o governador, que demonstrou preocupação com os rumos do país em relação às garantias conquistadas pela Constituição. “Hoje, embora o Brasil tenha um regime democrático consolidado, a liberdade, infelizmente, não está assegurada”.
O governador também comentou sobre a situação econômica do país e de como ela prejudica a liberdade dos brasileiros. “Tiradentes é a nossa inspiração. E assim como ele, nós sabemos que só interessam a governos tirânicos os altos impostos, a gastança e o descontrole fiscal, que escraviza e impede o exercício da liberdade. Não existe boa política se tivermos gastos descontrolados que penalizam todos”.



