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O estudo global da consultoria EY aponta os 10 principais riscos e oportunidades para as empresas e metais em 2025. A pesquisa foi feita com dados colhidos no segmento no ano passado, com destaque para os investimentos estratégicos das empresas no mercado mundial, as questões que envolvem gestão ambiental e mudanças climáticas e a geopolítica.
“A transição energética continua desafiando o setor de mineração e metais e, novamente, permeia o radar dos 10 principais riscos e oportunidades de negócios. Mesmo aqueles que antes se opunham à mineração agora percebem que uma transição de energia verde depende de uma maior oferta de minerais e metais”, ressalta Paul Mitchell, líder global de mineração e metais da EY.
Apesar de aparecer na terceira posição, atrás de capital/investimento e gestão ambiental, os contornos da geopolítica mundial passaram a ter um peso maior no mercado de mineração em 2025, após a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de acordo com a análise do diretor de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Rinaldo Mancin.
Além da política protecionista com o “tarifaço” do republicano e as tensões comerciais com a China, a guerra entre Rússia e Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio - regiões chave para o setor - devem influenciar nas decisões das empresas de minerais durante o ano. “O tema transição energética ganhou um novo contorno dentro do cenário geopolítico. Veja o caso de Rússia e Ucrânia, dois países negociando a paz em troca de acesso a reservas de terras raras”, comenta o diretor do Ibram.
As terras raras e os minerais críticos - entre eles lítio, cobalto, cobre e níquel - desempenham um papel fundamental na fabricação de uma ampla gama de produtos, desde semicondutores para sistemas de defesa até painéis solares e baterias para veículos elétricos. No final de março, Trump assinou uma ordem executiva para impulsionar a exploração norte-americana de terras raras, setor dominado pela China, tanto na mineração quanto no refino.
Mancin lembra que a discussão iniciada pelo presidente republicano sobre o controle de áreas do Canadá e Groenlândia tem como pano de fundo a garantia de suprimento por minerais críticos para a transição energética. Ele ressalta que o movimento de capitais - o primeiro ponto de riscos e oportunidades no estudo global - também têm forte influência da geopolítica mundial.
Como exemplo, ele cita a Arábia Saudita, que possui um fundo soberano com investimentos em transição energética. “Além disso, temos as questões sobre padrões ambientais e mudanças do clima. Tudo converge em uma agenda de influência geopolítica que se materializa em novos investimentos ou restrição ao capital”, completa.
Os 10 principais riscos e oportunidades para as empresas de metais, segundo o estudo global da EY:
- 1 - Capital/Investimento
- 2 - Gestão ambiental
- 3 - Geopolítica
- 4 -Esgotamento de recursos e reservas
- 5 - Licença para operar
- 6 - Aumento dos custos e da produtividade
- 7 - Mudanças climáticas
- 8 - Novos projetos
- 9 - Mudando os modelos de negócios
- 10 - Inovação
Geopolítica: cenário 2025 é janela de oportunidade para mineração no país
Na avaliação do diretor do Ibram, a mudança na geopolítica mundial abre uma janela de oportunidades para o Brasil explorar novos mercados e concretizar parceiros comerciais, além de Estados Unidos e China. “Todo esse contexto serve para posicionar o Brasil como um grande player. Além de boas reservas já identificadas e potencial de descobrir novas reservas, o país é estável, pacífico e tem um ordenamento jurídico consolidado, mesmo sendo um pouco burocrático”, aponta.
Ele destaca que a mineração é um dos três principais setores da economia brasileira, com expectativa de investimentos de quase US$ 70 bilhões nos próximos quatro anos. Entre os potenciais parceiros, Mancin aposta no estreitamento da relação brasileira com a União Europeia e lembra da agenda do bloco econômico na transição energética e do pioneirismo do continente na troca de veículos a combustão por elétricos.
Para o diretor do Ibram, a postura de Trump pode colocar em xeque a política europeia, que passará a procurar outros meios para fornecimento de metais necessários para diferentes setores da indústria. “Como é que a União Europeia vai garantir acesso a minerais críticos? Estão bloqueando aqui, estão bloqueando ali. A Europa tem procurado o Brasil como um aliado estratégico para desenvolver projetos, não só no fornecimento de matéria prima, mas no sentido de atrair tecnologia, desenvolver localmente e agregar valor ao produto.”
Pesquisa e mapeamento de minerais no território precisam avançar no Brasil
As licenças para operação e o atendimento da alta demanda em contraponto ao esgotamento de recursos e reservas estão listadas entre os principais temas que desafiam o setor de mineração mundial. Na avaliação do diretor de Meio Ambiente e Relacionamento Institucional da SAM Metais, Enio Fonseca, o Brasil tem as características necessárias para ser um influenciador internacional de destaque no cenário geopolítico, principalmente pelas condições geológicas.
“Nós somos um país importante do ponto de vista de reservas e exportamos como commodities boa parte dos minerais. Por isso, temos que estar em condições comerciais de vender para Ásia, América e Europa”, completa.
Mineração é um dos três principais setores da economia brasileira, com expectativa de investimentos de US$ 70 bilhões nos próximos quatro anos.
Para descoberta de novas reservas e atendimento da demanda, Fonseca ressalta a importância das pesquisas geológicas para mapeamento do território brasileiro de proporção continental. “O Brasil ainda tem um percentual pequeno de mapeamento com um nível de detalhe adequado para planejamento da utilização de minerais que ainda não foram descobertos e colocados à disposição da atividade comercial”, explica.
Segundo ele, questões burocráticas determinam a velocidade para concretização dos investimentos necessários para o avanço do setor de mineração no Brasil. “Países com um conjunto de restrições e normativas de toda ordem avançam lentamente. É o caso do Brasil, que possui uma governança normativa muito rígida e isso faz com que os investimentos caminhem em uma velocidade aquém daquilo que o país poderia fazer e, então, resultar em mais benefícios econômicos e sociais”, comenta.
Ele comparou a legislação brasileira com a de países como Canadá e Estados Unidos, que encontraram uma forma de viabilizar os empreendimentos do setor de metais e minérios em áreas indígenas com royalties para a comunidade. “Existem regras de convivência em diferentes partes do mundo. Mas o Brasil possui entraves, previstos na Constituição, que dificultam fazer com que essas comunidades possam ser beneficiárias da implantação de um empreendimento, próximo ou até dentro das terras indígenas.”
Questionado sobre a incorporação da agenda ambiental, o diretor da SAM Metais afirmou que os rompimentos das barragens de rejeitos em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, mudaram o paradigma no setor mineral.
“Hoje existem protocolos muito robustos que todas as empresas devem acompanhar e seguir que dizem respeito à interface e às melhores práticas de mercado para todos esses temas”, respondeu Fonseca, acrescentando que o regramento no setor de mineração no Brasil atinge áreas como gestão de água, oportunidade de emprego e inclusão social.
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