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Tecnologia e nutrição

Goiás avança na produção de feijão biofortificado e mira no mercado indiano

Goiás prepara exportação de feijão biofortificado para a Índia, país que consome 30 milhões de toneladas da leguminosa por ano.
Goiás prepara exportação de feijão biofortificado para a Índia, país que consome 30 milhões de toneladas da leguminosa por ano. (Foto: Maria Eugênia Ribeiro/Embrapa)

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Goiás está prestes a iniciar a exportação de feijão biofortificado para a Índia. A leguminosa com melhoramento genético contém mais altos níveis de nutrientes específicos, como ferro e zinco, comparado ao feijão comum.

Com a maior produção de feijão do mundo - aproximadamente 27 milhões de toneladas por ano - a Índia busca importar do Brasil devido à crescente demanda interna. O país mais populoso do planeta, com cerca de 1,4 milhão de habitantes, consome 30 milhões de toneladas de feijão por ano, segundo dados da Associação Indiana de Grãos e Pulses.

O governo indiano busca soluções para combater a fome e o déficit nutricional. Cerca de 80% da população do país não consome carne bovina, devido à religião (hinduísmo) que considera a vaca um animal sagrado.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), deu o primeiro passo rumo ao acordo em fevereiro, durante o The Pulses Conclave 2025, em Nova Déli, no país asiático. A ação estratégica promoveu o grão biofortificado e abriu as portas para a exportação do produto.

A política de incentivo fiscal indiana para a importação de alimentos torna o mercado promissor, ampliando as oportunidades de negócios para os goianos no cenário internacional. “Não é apenas encher a barriga da pessoa. É uma condição para garantir qualidade de vida”, afirmou Caiado.

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Maior produção do feijão biofortificado é desafio para a exportação

Com alto teor de ferro, zinco e proteína, o feijão biofortificado é uma alternativa eficaz contra deficiências nutricionais. Dietas pobres nesses minerais podem causar anemia, baixa imunidade, queda na produtividade e atraso no desenvolvimento.

A Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás aposta na biofortificação para posicionar o estado como fornecedor competitivo no mercado internacional, mas ainda não há uma data definida para o início das exportações.

"É preciso a produção em larga escala, o que vem sendo construído. No entanto, esse avanço depende de alinhamentos técnicos, sanitários e comerciais entre os países, além da consolidação da oferta regular em escala exportável. Estamos nessa corrida e a expectativa é muito grande", afirma Christiane de Amorim, gerente de Inteligência de Mercado Agropecuário da secretaria estadual.

Caiado apresenta o feijão-caupi biofortificado.Caiado apresenta o feijão-caupi biofortificado, durante evento na Índia. (Foto: Júnior Guimarães/Governo de Goiás)

Feijão-caupi biofortificado é a opção escolhida por Goiás

O estado goiano pretende exportar o tipo caupi, também conhecido como feijão-de-corda, mas com os nutrientes do melhoramento genético. O feijão carioca ainda não é popular na Índia, por aspectos culturais.

A Embrapa Meio Norte desenvolveu o melhoramento do feijão-caupi. Os grãos apresentam em média de 90 mg/kg de ferro e 50 mg/kg de zinco, valores expressivamente superiores aos do caupi convencional. Esse feijão mantém as características agronômicas desejáveis, como ciclo precoce. A produtividade potencial fica entre 1,2 mil e 1,4 mil quilos por hectare.

Segundo o pesquisador da Embrapa Meio Norte Adão Cabral, dois diferenciais chamam atenção no caupi biofortificado: o porte adaptado ao cultivo familiar e a resistência a pragas comuns em regiões de clima quente. “O cultivo se dá, de forma geral, logo após a colheita da soja, quando não há tempo suficiente para plantar milho segunda safra (safrinha)", explica o pesquisador.

É uma cultura alternativa para a safrinha. "Isso ocorre entre 15 de fevereiro a 15 de março, com colheita em torno de 75 dias após o plantio. No caso de pequenos produtores, é plantado no terço final do período chuvoso, para que a colheita seja feita sem ocorrência de chuvas”, acrescenta ele.

O produtor Angelo Mello cultiva o caupi biofortificado há cinco anos e destaca a facilidade no manejo. “É uma leguminosa de produção e colheita simples. Não precisa de nada com muita tecnologia. Não usamos muito fungicida porque não sofre tantos ataques de insetos”, afirma.

Feijão caupi biofortificado por concentrar 90g/kg de ferro e zinco.Feijão caupi biofortificado por concentrar 90g/kg de ferro e zinco. (Foto: Maria Eugênia Ribeiro/Embrapa)

Feijão carioca também tem opção biofortificada

A Embrapa Arroz e Feijão prepara o lançamento de uma nova cultivar de feijão carioca, biofortificada. O melhoramento genético foi feito com foco em aumentar os teores de ferro e zinco, contribuindo diretamente para o combate à anemia e à desnutrição, sobretudo em populações mais vulneráveis.

O lançamento está previsto para ocorrer durante a feira Semiárido Show, de 26 a 29 de agosto de 2025, em Petrolina (PE). “Essa é uma região estratégica, onde a agricultura familiar tem grande protagonismo. Cooperativas e agricultores familiares poderão ofertar esse feijão em editais públicos, agregando valor ao seu produto e contribuindo diretamente para a alimentação de qualidade em escolas, creches, hospitais e instituições sociais”, explica Isaac Leandro de Almeida, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Arroz e Feijão.

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Goiás é referência em produção de feijão

O Brasil produziu 3,2 milhões de toneladas de feijão na safra 2023/2024. Foram 100 mil toneladas a mais que na safra 2022/2023. Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Em 2024, o Brasil exportou mais de 400 mil toneladas da leguminosa, gerando uma receita superior a R$ 2 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Goiás é o terceiro produtor nacional, com uma produção de 290 mil toneladas na safra 2024/2025 e 274 mil toneladas em 2023/2024. Atualmente, 81 municípios produzem feijão em Goiás.

Brasil exportou 400 mil toneladas de feijão em 2024, com receita de R$ 2 bilhões.Brasil exportou 400 mil toneladas de feijão em 2024, com receita de R$ 2 bilhões. (Foto: Maria Eugênia Ribeiro/Embrapa)

Ranking da produção de feijão no Brasil

  • Paraná: lidera a produção com 829,9 mil toneladas, representando 26,6% da produção nacional em 2024.
  • Minas Gerais: ocupa a segunda posição com 532,5 mil toneladas, correspondendo a 17,1% da produção nacional em 2024.
  • Goiás: em terceiro lugar, com 349,5 mil toneladas, representando 11,2% da produção nacional em 2024.

    Fonte: Conab

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