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Um grupo de indígenas da etnia Munduruku bloqueou a entrada da COP 30 em Belém, nesta sexta (14), três dias depois de uma violenta manifestação que deixou quatro pessoas feridas após a invasão da chamada Zona Azul do movimento. O protesto começou por volta das 5h30 e terminou quatro horas depois após dezenas de pessoas impedirem a entrada de delegações no evento. Um esquema policial da Força Nacional e agentes de segurança foi montado do lado de trás da grade de acesso à área de negociações.
A manifestação foi encerrada após a promessa do presidente brasileiro da COP 30, André Corrêa do Lago, de receber os indígenas em uma reunião a portas fechadas. As lideranças exigiram, ainda, a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas foram atendidos com a possível participação das ministras Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente).
O protesto foi pacífico e teve como objetivo forçar o governo a avançar na demarcação de terras indígenas com fiscalização para evitar a atuação ilegal de mineradoras. Os indígenas empunharam cartazes em devesa do território Munduruku citando que “chega de invasão e desrespeito”.
“Queremos demarcação das nossas terras, fiscalização, que respeitem os territórios [indígenas], que tenhamos saúde, educação. Não adianta chegar aqui e fazer negociação sem entender a floresta”, disse uma liderança.
A Gazeta do Povo procurou o Ministério dos Povos Indígenas e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) para comentarem as alegações do grupo de manifestantes e aguarda retorno.
A liderança Munduruku ainda criticou a atuação das mineradoras em terras demarcadas, rechaçando a negociação de créditos de carbono e a contaminação de rios com mercúrio decorrente da extração. Ela ainda alega que, a pretexto de remunerarem as tribos com dinheiro, as companhias tem o real objetivo de suprimir as aldeias.
“Pra gente não fazer mais a roça, mais aldeia, porque vão ficar monitorando o nosso território pra eles. [...] Agora querem colonizar as nossas mentes com esse crédito de carbono, dividindo os nossos povos [com a alegação de que] dinheiro é a solução”, questionou.
A indígena seguiu na crítica afirmando que as mineradoras tentam silenciar os povos com recursos do crédito de carbono e que deputados e senadores dizem tentar chegar a uma solução para conflitos, mas que apenas “criam grupos de trabalho” que não avançam. E também criticou o avanço de obras de infraestrutura nas terras demarcadas, como hidrelétricas, hidrovias, etc.
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Os indígenas pediram, ainda, a revogação do decreto assinado em agosto que permitiu a concessão e leilão de três hidrovias na Amazônia pelos rios Madeira, Tocantins e Tapajós.
Na véspera, a ministra Sonia Guajajara afirmou que 400 indígenas foram credenciados para participar das negociações, em uma articulação com o movimento indígena do Brasil "para indicar estes representantes e falar por todos os movimentos organizados. Portanto, nós falamos aqui pelo movimento organizado".
"Fomos barrados em vários lugares da COP 30", afirmou uma das lideranças no protesto desta sexta (14) pouco antes de se dirigir para a reunião com Corrêa do Lago e organizadores da COP 30.
ONU critica organização brasileira
Na véspera, a ONU cobrou do governo mais segurança e melhores condições na COP 30 após a invasão da última terça (11). De acordo com um documento enviado à organização brasileira, foi exigido das autoridades um plano para melhorar a segurança entre outras melhorias na estrutura.
“Isso representa uma grave violação da estrutura de segurança estabelecida” e levanta “sérias preocupações” sobre se o Brasil está cumprindo suas obrigações de segurança como anfitrião oficial e presidente da COP 30”, declarou Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas.
O funcionário da ONU ainda criticou a falta de ar-condicionado, as filas excessivas para alimentação e outras precariedades. Stiell também mencionou o efetivo de segurança insuficiente.
A carta foi encaminhada ao ministro da Casa Civil, Rui Costa. O governo informou que “todas as solicitações da ONU foram atendidas” na organização da COP 30.







