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A chegada do inverno é vista como um fator contribuinte para uma possível nova alta no preço do ovo. Em maio, houve um recuo no valor, em relação ao registrado nos quatro primeiros meses do ano. Porém, a proteína continua com preço elevado e pode sofrer impacto com alta nos insumos, aumento da demanda e recuo na produtividade.
De acordo com o Instituto Ovos Brasil, durante a estação mais fria do ano as galinhas poedeiras reduzem a produção, devido ao estresse térmico causado pelas baixas temperaturas. A energia que seria utilizada para a produção de ovos é desviada para manter a temperatura corporal das aves.
"É esperada uma queda na produção de ovos nas regiões onde há frios mais intensos e menor número de galpões com controle de ambiente. Acreditamos que pode haver uma redução na disponibilidade de ovos em torno de 5% a 10%”, afirma o diretor técnico do instituto, Gustavo Crosara.
Segundo Claudia Scarpelin, pesquisadora da área de ovos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), a variação no preço vai depender da demanda. "Se a oferta tiver uma redução significativa com as baixas temperaturas e a demanda seguir elevada, poderemos ver um aumento nos preços. Mas agora em julho temos as férias escolares e a proteína é muito usada em merenda escolar, havendo uma redução no consumo", pondera.
Temperaturas baixas aumentam custos para o produtor
Granjas tradicionais, com sistemas mais abertos, podem registrar maior recuo na produção. "Já as granjas modernas têm melhor controle ambiental e conseguem manter a produção mais estável", compara Cristina Nagano, presidente da Câmara Setorial de Ovos e Derivados do Estado de São Paulo e do Sindicato Rural de Bastos - município do interior de SP, responsável por cerca de 11% da produção nacional.
O frio também é elemento que tem potencial de afetar a qualidade do produto, resultando em cascas mais frágeis e aumento na incidência de ovos trincados, prejuízos que podem contribuir para elevar os custos. As variações de temperatura chegam a influenciar também na qualidade interna dos ovos, afetando a albumina (proteína encontrada na clara) e a gema. Os ajustes na alimentação das aves acarretam mais gastos para o produtor.
"Em regiões de frio intenso e galpões abertos sem controle de ambiência pode-se avaliar o uso de aquecedores durante a madrugada. Também é necessário ajustar a alimentação das aves, reforçar o fornecimento de vitamina D3, cálcio, fósforo e eletrólitos", explica o diretor técnico do Instituto Ovos Brasil.

Alta no preço do ovo não deve assustar como no começo do ano
O aumento no preço do milho, principal componente da ração das galinhas, somado à alta no valor das embalagens, pressionam a margem dos produtores. "O mercado de insumos está estável, especialmente para milho, que está em plena safra. Já as embalagens vêm registrando elevação desde o início do ano, embora seja difícil quantificar com exatidão esse impacto", afirma Cristina Nagano.
Ainda assim, o preço do ovo registrou queda em maio: -3,98%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No acumulado do ano, porém, a inflação do produto ainda chega a 24,83%. Nos últimos 12 meses, alcança 13,5%.
Segundo o levantamento do Cepea, o ritmo mais lento das vendas ao longo do mês de maio resultou em aumento dos estoques nas granjas, o que dificultou o escoamento da produção e pressionou negativamente os preços da proteína. Em todas as regiões metropolitanas analisadas em um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o movimento de baixa se confirmou.
Apesar disso, os valores seguem elevados em comparação ao início do ano, refletindo as altas acumuladas no primeiro trimestre. “Os preços para o segundo semestre dependem do equilíbrio entre a oferta interna e a demanda pela proteína. Não são esperadas valorizações intensas, como as registradas no começo do ano", estima Claudia Scarpelin.
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O que elevou o preço do ovo no começo de 2025
A produção de ovos em 2024 foi a maior já registrada no Brasil, segundo o IBGE. O volume alcançou 4,67 bilhões de dúzias - um aumento de 10% em relação a 2023. No fim do ano, o setor acumulou altos estoques por conta da superprodução. Com as férias escolares, o consumo caiu, já que boa parte da demanda está ligada à merenda escolar.
No início de 2025, o consumidor, ainda descapitalizado pelas festas de fim de ano, comprava menos. Como resposta, a queda na demanda fez os produtores descartarem galinhas poedeiras mais velhas. A valorização ganhou força em fevereiro, com a volta às aulas. No mês seguinte o aumento seguiu, com o maior consumo da proteína durante a quaresma.
Soma-se ao aumento o maior no custo da ração - especialmente o milho - e o calor excessivo do primeiro quadrimestre, que impactaram a produção. Já a exportação, comumente apontada como causa de aumento no valor de produtos no mercado interno, não teve relação com as altas.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o montante embarcado não alcançou 1% do total produzido no país. “Para efeitos comparativos, é esperado que o Brasil exporte 35 mil toneladas de ovos neste ano, diante de uma produção nacional de 3,6 milhões de toneladas de ovos”, indica o presidente da ABPA, Ricardo Santin.

Brasil registra recorde na exportação de ovos
Diferente do observado para o frango, a gripe aviária não impactou negativamente o mercado de ovos. As exportações brasileiras de ovos (in natura e processados) somaram 5.358 toneladas em maio, segundo a ABPA. O volume representa alta de 295,8% em relação a maio de 2024, quando o país embarcou 1.354 toneladas.
Além disso, a receita dos embarques cresceu 356,2%. O total chegou a US$ 13,756 milhões em maio de 2025, contra US$ 3,015 milhões no mesmo mês do ano passado. De janeiro a maio, as exportações atingiram 18.357 toneladas. O volume é 165,6% maior do que o registrado no mesmo período de 2024, com 6.912 toneladas.
Em valor, a receita acumulada cresceu 195,8%. As vendas externas somaram US$ 42,1 milhões, frente aos US$ 14,235 milhões do ano anterior. No recorte por destino, os Estados Unidos lideram. Conforme o IBGE, os cinco maiores destinos da exportação brasileira de ovos, entre janeiro e maio, foram:
- Estados Unidos - 9.735 toneladas, alta de 996%
- Chile - 2.354 toneladas, alta de 10,8%
- Emirados Árabes Unidos - 1.422 toneladas, queda de 13,8%
- Japão - 1.422 toneladas, alta de 160,9%
- México - 1.050 toneladas, sem dado comparativo
Segundo a ABPA, o aumento na exportação confirma a credibilidade do produtor brasileiro. "O setor de ovos tem acumulado forte alta em exportações. Mesmo com as suspensões decorrentes do foco pontual de influenza aviária, as vendas seguiram em ritmo elevado, demonstrando a confiança dos mercados na biosseguridade brasileira”, avalia o presidente.
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