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O aumento do percentual de etanol na gasolina, de 27% para 30%, que começou a valer em 1º de agosto, coincidiu com investimentos bilionários confirmados por quatro grandes grupos do setor de biocombustíveis em três estados brasileiros.
FS, Grupo Potencial, Inpasa e São Martinho aportarão mais de R$ 7 bilhões em projetos de construção e ampliação de refinarias de etanol de milho. Elas ajudarão a atender o aumento na mistura, em decisão tomada pelo Conselho Nacional de Pesquisa Energética (CNPE) e que está alinhada com a Lei do Combustível do Futuro, que prevê até 35% do teor de etanol na gasolina.
De acordo com o que já foi divulgado pelas empresas, serão adicionados pelo menos 1,2 bilhão de litros de etanol de milho por ano à produção brasileira. Isso significa quase 15% do que foi produzido deste insumo na última safra 2024/2025, quando o etanol de milho atingiu 8,2 bilhões de litros.
Os investimentos bilionários no etanol de milho
Os investimentos se concentram em Goiás, Paraná e Mato Grosso, sendo que o estado goiano receberá dois desses projetos, incluindo uma ampliação. A operação dessas unidades está prevista para o período entre 2026 e 2028.
FS
- R$ 2 bilhões
- Construção de refinaria em Campo Novo do Parecis (MT)
- 540 milhões de litros de etanol de milho por ano
- Início da operação em 2026
Grupo Potencial
- R$ 2 bilhões
- Construção de refinaria na Lapa (PR)
- 450 milhões de litros de etanol de milho por ano
- Início da operação em 2028
Inpasa
- R$ 2,5 bilhões
- Construção de refinaria em Rio Verde (GO)
- Sem detalhes sobre capacidade e início da operação
São Martinho
- R$ 1,1 bilhão
- Ampliação da refinaria de Quirinópolis (GO)
- 270 milhões de litros de etanol de milho por ano
- Início da operação em 2027

A escolha pelo milho, e não a cana-de-açúcar, é estratégica. Na ponta do lápis, faz diferença. Segundo a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), com 1 tonelada de milho é possível produzir entre 380 e 410 litros de etanol, enquanto que com a cana-de-açúcar, a mesma tonelada vira 43 litros de combustível.
Além disso, ao contrário da cana que tem uma safra por ano, colhe-se o milho duas vezes por ano, garantindo matéria-prima para produção de etanol de forma praticamente ininterrupta. E quando necessário, os produtores de biocombustível podem recorrer aos armazéns para seguirem produzindo.
A escolha pelo milho, e não a cana-de-açúcar, é estratégica.
“Tivemos um paradigma de que o milho só fazia safrinha para a soja. Com o desenvolvimento do mercado do etanol de milho no Brasil, mostrou-se uma capacidade muito maior. E isso vai crescer ainda mais”, projeta o vice-presidente do Grupo Potencial, Carlos Eduardo Hammerschmidt.
De fato, o mercado para o etanol de milho tem crescido nos últimos anos e aumentado a participação na produção total do biocombustível no Brasil. As primeiras gotas de etanol de milho saíram na safra de 2013/2014 e ele vem crescendo de forma significativa, ano após ano. A estimativa da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) é de que a safra 2025/2026 produza mais de 10 milhões de litros, chegando a cerca de 25% de participação — na última safra foi de 15%.
Para o presidente da Unem, Guilherme Nolasco, o etanol de milho era tratado como um nicho e agora é um “player robusto no mercado”, conforme ele define. “Mesmo com a quebra estimada da produção de cana-de-açúcar, o aumento da produção de etanol a partir do milho é o grande responsável para a manutenção da mistura nos últimos anos”, opina.
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O Paraná é o segundo maior produtor de milho do Brasil, atrás somente do Mato Grosso. Na segunda safra de 2025, a produção paranaense deve chegar a 16,5 milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um crescimento de 31,7% em relação ao ano anterior. Isso dá ao Paraná uma participação de 15,7% do total do milho produzido no país.
Apesar disso, a produção de etanol de milho no estado é baixa. Na safra 2024/2025, foram apenas 32,7 milhões de litros. Quase nada perto do 1,1 bilhão de litros de etanol de cana. No total, o Paraná produziu apenas 3% do etanol brasileiro, juntando cana e milho. Um cenário que pode mudar nos próximos anos.
O plano mais ambicioso é o do Grupo Potencial, que vai colocar R$ 2 bilhões para levantar uma refinaria de etanol de milho na Lapa, cidade localizada a 70 quilômetros de Curitiba. Na cidade, a empresa já opera uma planta de biodiesel a partir do óleo de soja com produção anual de 900 milhões de litros — há planos para aumentar para 1,62 bilhão de litros.
“O Paraná é o segundo maior produtor de milho do Brasil. Temos matéria-prima em abundância e isso dá segurança em relação ao investimento”, afirma o vice-presidente do Grupo Potencial, Carlos Eduardo Hammerschmidt.
A ideia é atender o mercado paranaense, especialmente pela futura ligação por duto entre a Lapa e Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, um dos principais polos de distribuição de combustíveis do Brasil. “Também poderemos atender Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No fim, o Paraná pode ser um exportador de etanol para os estados do Sul”, projeta.

Além do Grupo Potencial, a cooperativa Coamo anunciou no ano passado um investimento de R$ 1,7 bilhão para construir uma refinaria de etanol de milho em Campo Mourão, no centro-oeste do Paraná. O complexo poderá processar 1,7 mil toneladas de milho por dia e produzir 280 milhões de litros de etanol por ano.
Segundo a Coamo, as operações devem ser iniciadas no segundo semestre de 2026. Em maio deste ano, a cooperativa recebeu a licença de instalação para iniciar a construção — a licença foi emitida pelo Instituto Água e Terra (IAT), autarquia vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest) do Paraná.
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