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A produção brasileira de carne bovina está cada vez mais próxima do Japão. Nesta quinta-feira (29), o Brasil vai receber o certificado de reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), como área livre de febre aftosa sem vacinação. A medida viabiliza o acesso em mercados mais exigentes, como o japonês, com abertura da exportações no segundo semestre deste ano.
No início do mês, uma autoridade do governo do Japão esteve no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em Brasília, com retorno previsto na segunda quinzena de junho, para uma inspeção geral do sistema sanitário brasileiro.
A comitiva japonesa deve elaborar um relatório técnico e liberar a etapa de habilitação, com base no modelo de pre-listing, que inclui os fornecedores que se enquadram nos critérios estabelecidos.
“O processo pode levar cerca de 60 dias após a visita. Estamos otimistas e trabalhando para que a liberação aconteça ainda em 2025, preferencialmente no segundo semestre”, afirma Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Governo Lula não envia representante para certificado internacional
O governo Lula (PT) não vai enviar autoridades do primeiro escalão à cerimônia da OMSA, em Paris, para a entrega da certificação de país livre de aftosa. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, desistiu da viagem e acompanhará o presidente petista na agenda internacional na França na semana seguinte.
O governo também cancelou as viagens do secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, e de seu adjunto, Allan Alvarenga, conforme informações publicadas no Diário Oficial da União. O ministério designou uma fiscal agropecuária para representar o país.
Com a ausência da alta cúpula do governo federal, a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura do governo Bolsonaro, deve assumir o protagonismo no evento para destacar a importância dos estados brasileiros na produção de carne bovina. Ela viaja a Paris pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e deve discursar em nome do setor.
São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Piauí, Pernambuco, Amazonas, Tocantins e outros estados participam da assembleia da OMSA, com delegações enviadas para o evento que começou no último domingo (25).
Pecuária aposta em tecnologia para qualidade de carne no Brasil
O mercado japonês de carne bovina depende fortemente da importação, o que é motivo de interesse para os produtores brasileiros. “O Japão importa 65% da carne que consome e o Brasil produz carne de qualidade, com um trato sanitário reconhecido no mundo todo. Temos uma das carnes mais baratas do mundo e em grande volume. A expectativa é muito boa. Nossa possibilidade de exportação é muito grande”, aponta o presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Marcelo El Kadri.
Novas tecnologias e a mecanização tem garantido mais eficiência e padronização na produção, o que respalda a exportação brasileira. Os produtores entendem que as práticas de manejo de excelência são essenciais para atender aos padrões rigorosos do Japão.
“Hoje existe uma pulverização por drone, via satélite, onde você só pulveriza onde é necessário e isso gera economia e precisão na aplicação. Atualmente utilizamos um chip que possibilita a pesagem do animal em confinamento, sem que ele sofra estresse. A alimentação fica em lado oposto à água e no deslocamento entre os dois, o animal é pesado até duas vezes por dia. O Brasil está muito avançado e com novas expectativas, isso agrada o mercado japonês”, explica El Kadri.
Líder brasileiro, Mato Grosso se prepara para atender o mercado japonês
Em 2024, o Mato Grosso liderou a produção de carne bovina no Brasil, com 18,1% da participação nacional no abate e prepara o início das exportações ao novo parceiro comercial. O estado se destaca como o maior exportador de carne bovina do país, com receita de US$ 685,66 milhões no ano passado.
"São peças de alta qualidade, rica em marmoreio - a gordura entre as fibras da carne, são animais que resultam de cruzamentos, que possuem melhor condicionamento", explica Valdecir Francisco Pinto Junior, analista de gestão da informação do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac).
De acordo com a entidade, o estado exporta para 150 países e possui o padrão exigido pelo mercado japonês. "As carnes exportadas ao Japão serão de bezerros que nasceram há dois ou três anos atrás. Os produtores e a indústria mato-grossense está preparada para atender esse mercado", ressalta.

O Plano Nacional de Identificação Individual (PNIB), lançado em dezembro de 2024, deve ser implementado gradualmente até 2032 para identificação individual, fortalecimento da segurança sanitária e aumento da qualidade dos produtos, o que atende os critérios de rastreabilidade exigidos pelo mercado japonês e torna o Brasil mais competitividade no comércio global.
"A rastreabilidade, desde a fazenda até o frigorífico, beneficia o mercado da carne. É a certeza que vamos estar inseridos nele, que não vamos ficar para trás, que temos as condições de competitividade", alerta Junior.
A implementação do plano será gradual, com a construção da base de dados nacional até 2026, e a identificação individual dos animais começando entre 2027 e 2029, para atingir todo o rebanho até 2032.
Brasil deve exportar 3,6 milhões de toneladas de carne bovina em 2025
O Japão é o sétimo maior importador global de carne bovina, com cerca de 700 mil toneladas ao ano, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). O Ministério da Agricultura e Pecuária estima que 70% da carne consumida no Japão seja importada, movimentando entre US$ 3 e US$ 4 bilhões por ano. Os preços de exportação para o Japão são cerca de 29% mais altos do que a média da carne bovina brasileira, o que pode trazer ganhos expressivos para os produtores.
Em 2025, o Brasil deve exportar cerca de 3,6 milhões de toneladas de carne bovina. A projeção de aumento é de 2,5% em relação a 2024, de acordo com dados são do USDA e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No ano passado, as exportações de carne bovina atingiram um recorde histórico no país, com 2,89 milhões de toneladas embarcadas, um aumento de mais de 26% em relação ao ano anterior. A receita das exportações também cresceu, totalizando US$ 12,8 bilhões, 22% a mais do que em 2023.
No 1° trimestre de 2025, o abate de bovinos cresceu 3,8% em comparação ao 1º trimestre de 2024. Foram abatidas 9,71 milhões de cabeças de bovinos, sob serviço de inspeção sanitária. Os dados são dos primeiros resultados das Pesquisas Trimestrais da Pecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os olhos dos produtores não estão fixos apenas no Japão. Outros três países estratégicos estão na mira: Turquia, Vietnã e Coreia do Sul, países com quem o Brasil possui negociações avançadas. Juntos, esses países, somados ao Japão, representam 30% da demanda mundial de carne bovina.
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