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Bloco Bumerangue

Maior descoberta de depósito de petróleo no pré-sal ocorre após abertura do mercado por Bolsonaro

Nova descoberta no pré-sal foi viabilizada por leilão realizado no governo Bolsonaro
Nova descoberta no pré-sal foi viabilizada por leilão realizado no governo Bolsonaro (Foto: André Ribeiro/Agência Petrobras)

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A petroleira britânica BP Energy anunciou a descoberta de um grande depósito de petróleo e gás natural em uma área do pré-sal chamada bloco Bumerangue, localizada na Bacia de Santos, que abrange os litorais de Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. O poço, que foi perfurado a quase 6 mil metros de profundidade, revelou uma coluna de petróleo e gás estimada em 500 metros de extensão. Essa é a maior descoberta feita pela empresa nos últimos 25 anos e reforça a importância do Brasil como produtor mundial de energia. 

Apesar disso, a descoberta reavivou discussões sobre o modelo de exploração vigente, especialmente o regime de partilha de produção e a participação estrangeira em recursos considerados estratégicos. A BP adquiriu o bloco no 1º Ciclo da Oferta Permanente sob o regime de partilha, leilão realizado em 2022 durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

À época, o então presidente afirmou que a abertura do mercado era necessária para o aproveitamento das riquezas nacionais. “Não adianta ter petróleo embaixo da terra e não ter como explorá-lo”, cravou. “Vocês devem estar sabendo que essa matriz que vem do fundo da terra a tendência é ir diminuindo, porque outras fontes de energia vão aparecendo no mundo.” 

O leilão que viabilizou o poço Bumerangue foi emblemático. Além de ser o primeiro certame com blocos do pré-sal ofertados em regime de partilha sob o modelo de Oferta Permanente — mais flexível e contínuo —, consolidou as mudanças legais promovidas em 2016, que retiraram a obrigatoriedade da Petrobras como operadora única. A alteração abriu espaço para maior competitividade, especialmente com a entrada de players (empresas e grandes grupos influentes no setor) estrangeiros. 

A BP obteve o direito de explorar o bloco Bumerangue oferecendo entregar ao governo brasileiro apenas 5,9% do petróleo extraído. Esse é o menor percentual já visto em leilões desse tipo. Para garantir esse direito, a empresa pagou uma quantia inicial de R$ 460 milhões, que faz parte de um total de R$ 916 milhões arrecadados com a venda de cinco blocos naquele leilão.

Além disso, a BP prometeu investir pelo menos R$ 432 milhões para desenvolver o campo. Na época, o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Rodolfo Sabóia, afirmou que o leilão foi um sucesso para o Brasil, porque atraiu investimentos e estabeleceu regras claras para as empresas.

Do outro lado, sindicatos e críticos da flexibilização alertam para riscos relacionados à perda de soberania. “A operação reforça a perda de controle nacional sobre recursos estratégicos, enquanto expõe o recuo da petroleira britânica em relação à transição energética”, afirmou Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros.

Segundo ele, o alto teor de dióxido de carbono (CO₂) — presente nos primeiros testes, de acordo com a própria BP — pode tornar o projeto inviável do ponto de vista econômico e ambiental. “Sem comprovação técnica sólida, essas descobertas correm o risco de serem mais especulativas do que reais”.

O ex-presidente da Petrobras e ex-senador Jean Paul Prates (PT-RN) também ponderou sobre a viabilidade técnica do poço, fazendo referência a dois outros campos no pré-sal. “Em Libra, com 40% de CO₂, a produção é possível. Em Júpiter, com 80%, o projeto está parado até hoje”, afirmou. A análise da proporção de CO₂ nos reservatórios será crucial para o futuro do campo. 

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Pré-sal responde por cerca de 80% da produção nacional de petróleo e gás

Apesar das incertezas, o governo federal de Lula (PT) celebrou a descoberta. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que "as riquezas do pré-sal devem ser transformadas em desenvolvimento social e econômico para todo o país". O discurso oficial reforça a continuidade da aposta no pré-sal como motor da economia.

O pré-sal responde por cerca de 80% da produção nacional de petróleo e gás. Para outubro deste ano, está previsto o 3º Ciclo da Oferta Permanente sob regime de partilha, com a oferta de 13 novos blocos.

Para a BP, o Brasil é peça-chave em na estratégia de crescimento da empresa, que planeja elevar sua produção global para 2,5 milhões de barris de óleo equivalente por dia até 2030. A depender da viabilidade econômica e tecnológica do Bumerangue, o campo pode se transformar em um dos principais polos da petroleira no mundo, reafirmando o Brasil como território estratégico na nova geopolítica energética.

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