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Dados do Painel dos Pontos Críticos nas Rodovias Brasileiras, desenvolvido pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), mostram que, ao final de 2024, foram identificados 338 pontos críticos nas rodovias que atravessam Minas Gerais - que colocam o estado como líder no quesito no país. Em uma extensão total de 15.589 quilômetros analisados, isso representa uma média de um ponto crítico a cada 46 quilômetros.
Em 2023, o estado também liderava o ranking com o maior número de pontos críticos, totalizando 383 ocorrências. Ao comparar os dois anos, houve uma redução de quase 12% nos registros. Antes, um ponto crítico era registrado a cada 40 quilômetros.
Esse panorama é constatado apesar de Minas Gerais possuir a maior malha rodoviária do Brasil, que corresponde a aproximadamente 16% de todo o sistema rodoviário nacional. Além disso, as reclamações sobre as condições das vias diminuíram 58%, conforme dados da Ouvidoria-Geral do estado de Minas.
Em Minas Gerais, quase 30% dos trechos com curvas perigosas não têm sinalização, aponta a CNT.
Dos 338 pontos críticos observados, apenas oito (2,4%) estão localizados em trechos sob gestão de concessionárias. A divisão da jurisdição é quase equilibrada: 173 pontos estão em rodovias federais e 165 em estaduais. Desses, apenas 10 pontos estão em obras, e menos de 5% da sinalização é considerada adequada, de acordo com a CNT. Noventa pontos apresentam sinalização deficiente, enquanto 232 pontos (68,6%) sequer têm sinalização.
A maior parte dos pontos críticos identificados em 2024 está relacionada a buracos grandes, que somam 123 ocorrências (36,4%). Em seguida, vêm os 111 casos de erosão na pista (32,8%). A CNT também registrou 84 quedas de barreiras, 11 pontes estreitas e duas pontes caídas.
As cinco rodovias do estado de Minas Gerais com mais pontos críticos avaliadas pelo relatório da CNT são:
- BR-367 - 762 quilômetros - com 38 (11,2%)
- BR-262 - 2.191 quilômetros - com 28 (8,3%)
- MG-120 - 67,2 quilômetros - com 28 (8,3%)
- MG-259 - 711,7 quilômetros - com 25 (7,4%)
- BR-381 - 1.181 quilômetros - com 23 (6,8%)
A Pesquisa CNT de Rodovias analisou em 2024 toda a malha pavimentada de 15.589 quilômetros em Minas Gerais, que representa 13,9% do total pesquisado no Brasil. Na avaliação do estado geral das rodovias no estado, a avaliação final ficou em:
- 2,8% do total analisado como classificação "ótima"
- 20,6% bom
- 40,2% regular
- 28,6% ruim
- 7,8% péssimo
Para chegar nesse resultado, foram avaliados três pilares centrais das estradas. O primeiro deles é a condição geral do pavimento. Nesse quesito, a CNT classificou as rodovias de Minas como:
- 20,9% ótimo
- 14,5% bom
- 35,8% regular
- 24,3% ruim
- 4,5% péssimo
- 1% está com o pavimento totalmente destruído
Já no recorte específico sobre sinalização, a avaliação ficou da seguinte forma:
- 5,0% ótimo
- 22,8% bom
- 47,4% regular
- 14,2% ruim
- 10,6% péssimo
- 4,5% da extensão está sem faixa central e 13,1% não tem faixas laterais.
Por último, quando avaliada especificamente a geometria da via (traçado), o resultado apresentado pela CNT foi:
- 8,1% ótimo
- 14,2% bom
- 22,3% regular
- 24,0% ruim
- 31,4% péssimo
- As pistas simples predominam em 88,2% do total.
- Falta acostamento em 41,4% dos trechos avaliados.
- 28,8% dos trechos com curvas perigosas não têm sinalização.
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Pavimento precário impacta no custo operacional do transporte de quem passa por Minas
As condições do pavimento no estado geram um aumento de custo operacional do transporte calculado em 37,4%. O prejuízo gerado pelos acidentes foi de R$ 1,94 bilhão em 2023. Naquele mesmo ano, o governo gastou R$ 44,94 milhões com obras de infraestrutura rodoviária de transporte.
Para recuperar as rodovias do estado, seria necessário um investimento total de R$ 15,87 bilhões, conforme estimativa da CNT. Esse valor inclui R$ 12,1 bilhões para ações emergenciais - sendo R$ 533,7 milhões para reconstrução das estradas e R$ 11,6 bilhões para restauração - além de R$ 3,7 bilhões destinados à manutenção.

Para o diretor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Transportes, Marcus Quintella, "não há recursos para uma lei de planejamento, de manutenções a serem feitas para evitar esses problemas, já que não há investimentos na construção de novas rodovias". De acordo com ele, as quedas de barreiras ocorrem por falta de manutenção dos taludes.
"Toda a parte de drenagem da água da chuva na rodovia é fundamental e a responsabilidade é do órgão gestor, no caso o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) ou uma concessionária privada. A situação toda é muito grave, porque isso implica no desgaste do asfalto. Aí vêm outros problemas, que são o excesso de peso nas pontes e nos viadutos, muitas vezes asfalto de má qualidade, recapeamentos feitos de péssima qualidade", aponta Quintella.
Com o poder público sufocado, a solução pode passar pela concessão das rodovias, afirma o diretor da FGV Transportes, "desde que os editais de licitação contemplem todas as situações de investimento, de manutenção, de correções de traçados, drenagem, sinalização horizontal e vertical, além de toda a gestão de tráfego, limite de velocidade, a parte das balanças, qualidade do asfalto.
Em resposta enviada a partir das perguntas feitas pela Gazeta do Povo, o DER de Minas Gerais argumentou que as pesquisas elaboradas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) buscam mapear as principais rotas do transporte de carga pesada utilizando um critério único para avaliação das vias em todo o país. E seguiu: "Isto é, não levam em conta questões como topografia (rios, serras e vales), tipo de solo, incidência de chuvas, volume de tráfego, tempo de construção de rodovia, além de outros fatores diretamente ligados à manutenção, ao traçado e a geometria das rodovias".
Segundo o departamento, do total de 338 ocorrências citadas pela pesquisa de pontos críticos, 48,7% são estaduais (165) e 51,3% são de rodovias federais (173), "portanto a responsabilidade pela recuperação de pontos críticos não se concentra exclusivamente com o DER-MG". O órgão completou que, nos últimos dois anos, efetuou a recuperação funcional em 2 mil quilômetros de rodovias e corrigiu 91 pontos críticos em trechos pavimentados e não pavimentados da malha estadual mineira.
"O investimento para todos os serviços citados foi de R$ 1,8 bilhão. Dados da Ouvidoria Geral do Estado de Minas Gerais e, também, do Sindicato das empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais apontam, entre 2023 e 2024, uma queda de 60% no número de reclamações dos usuários das rodovias."
Para 2025, a previsão de investimento - para recuperação funcional das rodovias, manutenção e conservação rotineira e eliminação de pontos críticos -, de acordo com o DER-MG, ultrapassa R$ 1,2 bilhão. Por fim, a autarquia pontua que o período de maior incidência de problemas nas rodovias é o de maior concentração de chuvas, que vai de novembro a março, quando as unidades regionais operam em regime de plantão permanente para atender às ocorrências.
Segundo o DER-MG, "as situações mais simples são resolvidas imediatamente, enquanto as mais complexas, devido a questões técnicas de engenharia, exigem primeiro a elaboração de projetos e a contratação de serviços para a execução dos trabalhos necessários."
Minas Gerais tem a maior malha rodoviária do Brasil, com 22 mil quilômetros de estradas pavimentadas. Segundo a Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias, "para garantir a qualidade e segurança das vias, o governo do estado tem atuado de forma contínua na recuperação, manutenção e conservação das rodovias, por meio da complementariedade de recursos públicos e privados".
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