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Criminalidade

“Os Manos”: conheça a facção gaúcha aliada do PCC que lava dinheiro com imóveis de luxo em SC

Pousada de R$ 5 milhões em Porto Belo (SC) está no centro do funcionamento de facção criminosa que lava dinheiro com imóveis de alto padrão.
Conforme investigação policial, uma pousada avaliada em R$ 5 milhões em Porto Belo (SC) está no centro do funcionamento de uma facção criminosa que lava dinheiro com imóveis de alto padrão. (Foto: Bryan Korman/Prefeitura de Porto Belo)

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A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou nesta semana a operação Cosa Nostra, uma ofensiva de grande porte com o objetivo de desarticular um complexo esquema de lavagem de dinheiro operado por uma proeminente organização criminosa gaúcha no litoral catarinense. Embora o nome da facção não tenha sido oficialmente revelado pela polícia na apresentação do caso à imprensa, a reportagem da Gazeta do Povo apurou que seria o subgrupo “Os Marianos”, ligado à facção criminosa conhecida como “Os Manos” — umas das maiores e mais violentas do estado e que possui uma espécie de aliança com a facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).

Ao todo, foram cumpridas 143 ordens judiciais, sendo 38 mandados de busca e apreensão, cinco de sequestro de imóveis, oito restrições de veículos, 22 bloqueios de contas bancárias, 44 quebras de sigilo bancário e fiscal, 25 quebras de sigilo telemático e uma ação controlada. Foram apreendidos dinheiro vivo, carros, motos, celulares, documentos e uma arma de fogo. Uma pousada avaliada em R$ 5 milhões em Porto Belo e uma casa de R$ 3 milhões em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, foram sequestradas pela Justiça.

As ações da Polícia Civil foram feitas em Porto Alegre, Gravataí, Capão da Canoa e Tramandaí, no Rio Grande do Sul; e em Balneário Camboriú, Palhoça e Porto Belo, em Santa Catarina. De acordo com as investigações, que começaram em 2023, o grupo criminoso usava os imóveis no litoral catarinense para lavar dinheiro e ainda tinha uma empresa de fachada e um patrimônio superior a R$ 8 milhões que incluía lancha, moto aquática, motocicletas e veículos de luxo.

A facção alvo da operação é oriunda do bairro Restinga, na periferia de Porto Alegre. Detalhes da investigação apontam que a organização movimenta cifras milionárias. A companheira de um dos líderes do grupo, segundo a polícia, teria movimentado R$ 1,6 milhão em quatro meses, entre setembro e dezembro de 2024. Um dos "laranjas" do grupo criminoso teria movimentado R$ 1,14 milhão em dois meses — sem nenhuma fonte de renda que justificasse as transações.

As investigações sobre o grupo criminoso, que prosseguem sob sigilo, são conduzidas pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e a Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro (DRLD) da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. De acordo com o delegado Mário Souza, diretor do DHPP, a “descapitalização" do patrimônio do crime é vista como uma estratégia crucial para minar as bases de sustentação dessas facções.

“Chama a atenção o volume de movimentações financeiras realizadas pela organização criminosa em curtos períodos", afirma. "Nossa operação provavelmente vai resultar em outras ações contra os mesmos investigados. No momento, o foco é descapitalizar o grupo criminoso. Isso porque, quando combatemos a lavagem de dinheiro e atacamos a capacidade econômica das facções, por consequência também impedimos a compra de armas e o financiamento de homicídios”, disse o delegado na apresentação do caso aos jornalistas.

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Facção gaúcha se formou dentro do sistema prisional

A investigação que culminou na operação Cosa Nostra teve início após o encerramento de um inquérito que apurava uma tentativa de homicídio ocorrida em julho de 2023, quando um dos líderes da organização criminosa ordenou a morte de um dos integrantes do grupo. Na ocasião, a vítima foi sequestrada pelos executores e levada ao mandante, que determinou a execução. No transporte para outro local, conseguiu pular do carro e, mesmo atingido por disparos de arma de fogo, fugiu e recebeu atendimento médico.

A origem de "Os Manos" remonta ao início dos anos 2000, com as primeiras células se formando dentro do sistema prisional gaúcho. Inicialmente, a facção se dedicava ao controle interno das penitenciárias.

Os primeiros passos da facção fora das prisões foram focados no controle de pontos de venda de drogas em comunidades carentes, principalmente na região do bairro Restinga, na periferia de Porto Alegre. Com o tempo, a estrutura de "Os Manos" se tornou mais sofisticada, com uma hierarquia bem definida e a implementação de códigos de conduta rígidos, de acordo com policiais do RS que acompanham as atividades do grupo criminoso — a exemplo de grandes facções criminosas nacionais como o PCC e o Comando Vermelho (CV).

A partir de 2017, investigações da Polícia Civil do Rio Grande do Sul já apontavam a conexão estratégica de "Os Manos" com o PCC, com a facção gaúcha atuando como uma espécie de "braço local", com a movimentação conjunta de milhões de reais do tráfico de drogas.

Em 2021, a Polícia Civil gaúcha havia deflagrado uma grande operação contra as duas facções. A operação Irmandade identificou a movimentação de R$ 120 milhões do crime organizado e aconteceu nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará.

Na ocasião, foram cumpridos 72 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão preventiva, bem como o bloqueio e indisponibilidade de ativos financeiros, veículos e imóveis. A investigação durou dois anos. Os policiais civis apuraram que a lavagem de dinheiro ocorria com compra de ações em bolsas de valores, criptomoedas, veículos de luxo e imóveis.

Com o tempo, a estrutura de "Os Manos" ficou mais sofisticada, com hierarquia bem definida e códigos de conduta rígidos.

As investigações apontam que “Os Manos” passaram inclusive a atuar em outros estados, com tráfico de drogas e de armas junto ao PCC. Os agentes descobriram dezenas de contas bancárias, em nome de pessoas físicas e jurídicas usadas como “laranjas”.

De acordo com dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2023, com dados de 2022, o Rio Grande do Sul é o estado com maior número de organizações criminosas ativas do país — seriam ao menos 15 facções criminosas locais de pequeno e médio porte que disputam o poder no crime organizado local, sem hegemonia. As maiores facções do estado são os "Bala na Cara”, "Os Manos” e os “Antibala”.

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