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A derrota acachapante do deputado federal Alexandre Ramagem (PL) no primeiro turno das eleições do ano passado à prefeitura do Rio de Janeiro, apesar dos esforços do padrinho Jair Bolsonaro (PL), deixou o partido em alerta para o pleito ao governo do estado em 2026. Sem um nome de peso para sucessão do governador Cláudio Castro (PL), o partido articula uma aliança com o União Brasil para apoiar a candidatura do atual presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar.
O movimento é estratégico para se contrapor à ascensão do prefeito reeleito Eduardo Paes (PSD), que mira na disputa pelo governo fluminense com apoio do campo progressista e de partidos de esquerda, replicando a aliança com o PT que deu a vitória nas urnas ao mandatário carioca em 2024.
Um obstáculo para Castro na ideia de sacramentar a articulação política com o União Brasil para a sucessão no estado do Rio de Janeiro paira sobre o vice-governador, Thiago Pampolha (MDB), que lançou a pré-candidatura na corrida ao Palácio Guanabara em 2026 e pode até assumir o governo estadual em abril do ano que vem, caso Castro deixe o cargo para a disputa de uma vaga ao Senado.
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Segundo informações apuradas pela Gazeta do Povo, Castro definiu Bacellar como sucessor ao governo do estado depois dos atritos com o vice-governador no ano passado, o que levou à demissão de Pampolha do comando da Secretaria de Ambiente e Sustentabilidade.
Com a reaproximação do vice à gestão de Castro, a articulação previa que tanto o governador como Pampolha se afastariam dos cargos em 2026, abrindo espaço para o presidente da Alerj assumir o governo no ano eleitoral, o que concederia mais visibilidade ao nome de Bacellar.
No entanto, Pampolha - que seria candidato a deputado federal - dobrou a aposta e lançou a pré-candidatura ao governo do estado, o que pode atrapalhar inclusive os planos de Castro ao Senado, pois o governador fluminense afirmou que não pretende deixar o governo sob direção do vice.
“Somos amigos e tenho apreço pelo Cláudio. Mas a verdade é que tentaram me colocar como um vice decorativo e eu não me encaixo nesse papel. Se pensaram que eu iria ficar apanhando quieto, aplaudindo e sorrindo para tudo, estavam muito enganados”, disse Pampolha em entrevista ao jornal O Globo.
No meio político, o vice-governador procura se posicionar na ala mais à direita do MDB do Rio de Janeiro e buscará o apoio de Bolsonaro para a sucessão em 2026, fator que é considerado fundamental para ter sucesso nas urnas no estado.
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Bacellar aposta em Cláudio Castro e se aproxima da família Bolsonaro no Rio
Uma pessoa ligada ao União Brasil confirmou à Gazeta do Povo que o deputado estadual e presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, espera que o estreitamento das relações com a família Bolsonaro resulte no apoio irrestrito do PL do Rio de Janeiro em uma dobradinha com os candidatos a senadores Cláudio Castro e Flávio Bolsonaro. Segundo apuração da reportagem, o filho 01 do ex-presidente deve disputar a reeleição ao Senado, sem pretensões de colocar o próprio nome como pré-candidato ao governo do Rio.
Na interlocução com Bolsonaro, o presidente da Alerj conta com os irmãos Amorim. O deputado estadual Rodrigo Amorim (União) é um antigo aliado da família e chegou a ser candidato a vice-prefeito na chapa com Flávio no primeiro turno das eleições de 2016. No ano passado, ele disputou o pleito municipal à prefeitura carioca com discurso de forte oposição à gestão Paes.
O irmão do parlamentar é o vereador Rogério Amorim, líder do PL na Câmara Municipal, com o aval do também vereador e filho do ex-presidente, Carlos Bolsonaro. Em entrevista ao Valor Econômico, o governador fluminense confirmou que Bacellar é o “predileto” como sucessor e ainda afirmou que “não há eleição no Rio que não passe por Bolsonaro”.
Além disso, Castro descartou o apoio a Pampolha e disse que o vice não irá assumir a administração do estado. “Pampolha não será governador. A não ser que eu infarte e morra. Espero que não aconteça, mas ele não será governador”, declarou.
Campo eleitoral de Bolsonaro congestionado e dificuldade para Paes no interior
Na avaliação da professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, o posicionamento de Castro em favor de Bacellar provoca uma divisão no governo fluminense pelo apoio do reduto eleitoral de Bolsonaro.
“Ao apoiar o presidente da Alerj do União Brasil, ele contraria outro campo com bastante força no Rio de Janeiro, que é o MDB do ex-prefeito de Caxias, Washington Reis, que também quer ter um candidato alinhado com o eleitor bolsonarista. Essa cisão dificulta a montagem do cenário eleitoral para 2026”, analisa a cientista política.
Reis é presidente do MDB no Rio e secretário estadual de Transporte e Mobilidade Urbana na gestão Castro. Aliado de Bolsonaro, ele também aparece na lista de cotados para a sucessão ao governo, mas está inelegível por uma condenação por crime ambiental. Em março, o ministro do STF Flávio Dino negou o recurso da defesa de Reis e, consequentemente, manteve a perda dos direitos políticos.
Goulart lembra que Castro galgou ao cargo após o impeachment de Wilson Witzel e que, em 2022, quando teve o apoio de Bolsonaro na campanha à reeleição, o governador ainda conseguiu se aliar a prefeitos e políticos de centro, principalmente no interior do estado, por causa de recursos destinados aos municípios, provenientes da venda da Cedae [Companha Estadual de Água e Esgoto]. “Sem esses recursos e com o eleitorado de centro bloqueado pela performance do Eduardo Paes, aumenta a necessidade do apoio de Bolsonaro na sucessão ao governo do Rio”, completa.
Na análise da cientista política, Paes conseguiu organizar o campo progressista na capital durante a campanha à reeleição em 2024, quando a frente ampla de partidos contou com a presença de apoiadores de centro, além do governo Lula. “Ele se apresentou como uma figura local, carioca, que transcende a polarização. Por outro lado, essa imagem dificulta a penetração de uma campanha ao governo do estado de Paes no interior do Rio de Janeiro”, pondera.
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Ato pela anistia dá o tom da articulação política e rende investigação contra Castro
Ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim, o presidente da Alerj participou do ato pela anistia com a presença de Jair Bolsonaro, realizado em março, na praia de Copacabana. “Democracia, liberdade e soberania popular são pilares importantes que defenderei sempre”, publicou Bacellar durante a manifestação.
O governador Cláudio Castro também esteve ao lado de Bolsonaro durante o ato e voltou a dar declarações em apoio ao ex-presidente após a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) torná-lo réu no processo que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado. “Uma democracia forte pressupõe um julgamento justo e baseado em provas. É preciso cautela, equilíbrio e, acima de tudo, compromisso com a verdade”, declarou o governador fluminense.
O apoio de Castro ao ex-presidente no ato pela anistia também pode ter desdobramentos na Justiça. Após a Polícia Militar do Rio divulgar que 400 mil pessoas participaram da manifestação em Copacabana, a deputada estadual Renata Souza (Psol) enviou uma representação ao Ministério Público para investigação da suposta interferência do governador do Rio na contagem dos manifestantes pela PM.
A Gazeta do Povo procurou os partidos PL, União e MDB, mas oficialmente nenhuma das legendas se manifestou sobre a articulação política para o governo do estado em 2026.
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