
Ouça este conteúdo
Após uma tentativa frustrada de ampliação das escolas cívico-militares, o secretário da Educação de Minas Gerais, Igor de Alvarenga, deve ser exonerado até o fim deste mês. O titular da pasta teria sido comunicado da decisão pelo vice-governador, Mateus Simões (Novo), em reunião a portas fechadas no último dia 15, conforme apuração da Gazeta do Povo. Na véspera, o secretário Alvarenga esteve ao lado do governador Romeu Zema (Novo) no anúncio sobre a interrupção temporária das assembleias que ouviriam a comunidade escolar para a implementação do modelo cívico-militar, sob alegação de que o período de férias atrapalharia o processo.
Nos bastidores, a informação é que a saída do secretário da gestão Zema se deve especialmente à insatisfação de Mateus Simões em relação às entregas e estratégias sob responsabilidade da pasta. A mudança ocorre em um momento em que Zema e Simões se preparam para as eleições de 2026.
Alvarenga assumiu a Secretaria da Educação mineira em agosto de 2022, em substituição a Júlia Sant’Anna. Natural de Belo Horizonte e professor efetivo da rede estadual, Alvarenga foi diretor e integrou a equipe gestora da Associação dos Diretores das Escolas Oficiais de Minas Gerais. Foi ainda subsecretário de Articulação Educacional da pasta estadual.
Ex-ministro de Temer é cotado para assumir vaga de secretário na gestão Zema
O nome mais cotado para assumir a vaga é o de Rossieli Soares, ministro da Educação durante o governo Michel Temer, que deixou há pouco mais de um mês o comando da Secretaria da Educação do Pará. Soares também esteve à frente da Educação em São Paulo, durante o governo João Doria, entre 2019 e 2022, deixando o cargo para disputar uma vaga de deputado federal por São Paulo pelo PSDB.
Na época, o então candidato foi acusado de abuso de poder político pelo Ministério Público Eleitoral, sob alegação de ter utilizado a estrutura do estado para se beneficiar em sua campanha eleitoral. Caso Soares seja confirmado no cargo, Minas será o quarto estado pelo qual ele comandará a área da Educação: além de Pará e São Paulo, passou pela Secretaria da Educação do Amazonas, onde foi condenado por improbidade administrativa.
Segundo informações disponibilizadas pelo Ministério Público do Amazonas, a condenação se deu “por omissão em fornecer documentos necessários a processo investigatório do Ministério Público”. O Ministério Público investigava a contratação e execução de uma obra em uma escola estadual de Manaus.
Ajuste na Educação integra estratégia eleitoral
Apenas um dia após a reunião entre Simões e Alvarenga, Zema esteve em Brasília e se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reforçando seu nome como opção para concorrer à Presidência da República em 2026. Interlocutores do governador mineiro afirmam que Bolsonaro vê com bons olhos a candidatura dele. Há três semanas, foi Simões quem se reuniu com Bolsonaro, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e outros nomes relevantes do partido em Belo Horizonte.
Área crucial para todos os espectros políticos, a condução da Educação no governo Zema nunca amenizou conflitos com sindicatos. Também há críticas recorrentes, inclusive entre filiados do Novo (partido de Zema), pelo que é considerado como falta de espaço em cargos de chefia interna para pessoas que sejam mais alinhadas aos ideais liberais. Nesse contexto, o nome de Soares pode ser uma tentativa de se afastar de pautas corporativistas e atender às demandas do vice-governador.

Diretores pedem permanência de Alvarenga por resultados alcançados
A notícia da eventual saída de Igor de Alvarenga do comando da Educação movimentou diretores de escola da regional de Caratinga, no Vale do Rio Doce, que fizeram um abaixo-assinado endereçado a Zema pedindo a permanência do secretário. Nos bastidores, o comentário é de que o documento elencaria argumentos pela permanência de Alvarenga, como o de que ele tem uma gestão qualificada e com impacto positivo na área.
Procurada, a Superintendência Regional de Ensino de Caratinga respondeu, em nota, que “a iniciativa de elaborar o documento partiu dos próprios gestores escolares, que gostam muito do secretário por sua atuação próxima e efetiva nas escolas da Regional”. Pontuou que, embora não tenha participado da elaboração do documento, “é favorável à permanência do secretário no cargo, considerando seu relevante trabalho em prol da Educação”. O órgão informou ainda que os 47 superintendentes regionais de Ensino de Minas Gerais estão organizados em apoio à permanência de Alvarenga.
A reportagem da Gazeta do Povo analisou dados do ensino médio público durante a gestão de Alvarenga contemplados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e notou um cenário de estagnação. Por ser de competência constitucional dos estados, a avaliação do ensino médio reflete de forma mais direta a atuação das secretarias estaduais nos resultados obtidos.
Em 2021, ainda na gestão de Júlia Sant’Anna, Minas registrou nota 4,0 no Ideb do ensino médio, com índice de aprendizado de 4,56 e taxa de aprovação de 0,88. Após Alvarenga assumir a pasta, em 2023, tanto a nota quanto o índice de aprendizagem permaneceram inalterados (4,0 e 4,56) e a taxa de aprovação apresentou leve recuo, passando para 0,87.
Quando comparado com outros estados, o desempenho mineiro na Educação preocupa. O Espírito Santo avançou de 4,4 em 2021 para 4,7 em 2023, impulsionado por melhora no aprendizado, que subiu de 4,77 para 4,85. No Ceará, embora o Ideb tenha se mantido em 4,4, houve crescimento no aprendizado, de 4,42 para 4,45 no mesmo período.
Em contrapartida, o governo de Minas divulgou, no último dia 16, resultados positivos para as séries iniciais. Segundo pesquisa do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Minas Gerais saiu do 7º lugar em 2023 para o 3º em 2024, com 72,07% de estudantes alfabetizados.
O desempenho é o terceiro maior do país, ficando atrás de Goiás (72,74%) e Ceará (85,31%). Apesar de o governo estadual ter em seu escopo escolas de ensino fundamental nos anos iniciais, que correspondem à alfabetização, a maior parte das escolas públicas responsáveis por essa etapa é municipal.
A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com o governo de Minas para confirmação das informações apuradas, mas não obteve resposta. Rossieli Soares e Igor de Alvarenga também foram procurados e não se manifestaram.
VEJA TAMBÉM:








