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O rompimento entre o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino e o governador do Maranhão, Carlos Brandão (sem partido), marca uma ruptura inesperada em um relacionamento político que começou como parceria. Brandão, que sucedeu Dino no Palácio dos Leões, construiu uma base de apoio contando com o peso político do ex-governador e do PT, incluindo a chancela direta de Lula (PT). Porém, a desarticulação desse vínculo impacta diretamente o planejamento do PT para 2026.
Isso ocorre especialmente em relação à candidatura do vice-governador Felipe Camarão (PT). Em 2022, durante a campanha à reeleição, Brandão assegurou que o PT chegaria ao governo em 2026, prometendo que seu vice, Felipe Camarão, assumiria o Palácio dos Leões no último ano de mandato.
O acordo foi firmado com Dino, Lula e a cúpula petista, servindo como base para unificar a aliança eleitoral e assentar sua reeleição. "Em 2026, o PT terá o governador do Maranhão porque será o vice de Carlos Brandão", prometeu o governador, falando de si próprio na terceira pessoa.
Três anos depois, entretanto, Brandão mudou o discurso. No mês passado, afirmou que pretende permanecer no cargo até o fim do mandato no próximo ano e articula o lançamento do sobrinho, Orleans Brandão, como possível candidato à sucessão. Orleans é secretário extraordinário de Assuntos Municipalistas no estado. Com isso, Camarão, que é pré-candidato do PT para 2026, perde a expectativa de assumir o governo antes da eleição, estratégia que fortaleceria o nome dele para o próximo pleito.
Dança das cadeiras e enfraquecimento de Lula no Maranhão
A tensão no núcleo da esquerda escalou com tons judiciais. No último dia 13, Brandão questionou a atuação de Dino em processos relacionados à escolha de conselheiro ao Tribunal de Contas do Maranhão, pedindo a suspeição dele. Para o governador maranhense, houve "atuação política do relator [Dino] no presente caso" e uma "quebra total da imparcialidade que se espera de um julgador no exercício da jurisdição".
Em outra sinalização de racha no grupo, Brandão deixou o PSB, aliado histórico do PT, inclusive no Nordeste. Desta forma, o governador abre espaço para rearranjos políticos no estado e deixa o jogo ainda mais aberto para o próximo ano, com possibilidade de novas alianças.
Camarão comentou sobre os impactos da situação em entrevista recente à Folha de S. Paulo, na qual afirmou que o maior prejudicado na situação é Lula. “Se o nosso time se divide aqui, como o Brandão está rachando o nosso time aqui, o maior prejudicado vai ser o Lula, porque a tendência é a votação dele cair aqui no Maranhão se a gente sair separado”, afirmou ele, que é o único vice-governador petista do Brasil.
Além disso, Camarão defendeu a recomposição do grupo como o melhor caminho para o projeto nacional petista. "Minha prioridade zero é a reeleição do presidente Lula. Depois que eu vou pensar na minha, né?", conjecturou.
O desempenho eleitoral do PT no Maranhão reforça a relevância do estado para os planos de Lula em 2026. No segundo turno das eleições de 2022, Lula obteve cerca de 2,6 milhões dos votos válidos no estado, contra aproximadamente um milhão de pessoas que votaram em Jair Bolsonaro (PL).
Brandão justifica permanência no cargo com políticas sociais
Brandão atrelou a vontade de encerrar o mandato estadual com um projeto considerado prioritário à gestão dele. Em fevereiro, o governador sancionou o programa "Maranhão livre da fome", aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa. O programa oferece benefício mensal de R$ 200 para famílias que vivem com renda per capita inferior a R$ 218, mesmo aquelas que recebem Bolsa Família, e adicional de R$ 50 por criança de 0 a 6 anos.
Cerca de 95 mil famílias, ou aproximadamente 432 mil maranhenses, serão atendidas, conforme a gestão maranhense. Além disso, o programa prevê cursos de qualificação profissional e kits para inserção no mercado de trabalho. “Enquanto eu for governador, porque eu vou ser governador até o último dia do meu mandato, ninguém acaba com o programa 'Maranhão livre da fome'”, disse Brandão.
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