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A cidade de Campinas (SP) ocupa a primeira colocação do Ranking Nacional de Saneamento Básico, elaborado pelo Instituto Trata Brasil (ITB) em parceria com a consultoria GO Associados. O município, que no ano anterior era o terceiro colocado, subiu ao apresentar níveis elevados de cobertura, eficiência operacional e investimento nos serviços de água e esgoto. Confira a lista completa no arquivo disponível ao final do texto.
Na análise do instituto, o resultado reforça o avanço de cidades do Sudeste na área de saneamento e, ao mesmo tempo, expõe o contraste com municípios de regiões do país que ainda enfrentam déficits estruturais profundos. A lista considera os 100 municípios mais populosos do Brasil, com base em dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento, ano-base 2023.
Campinas é destaque em redução no desperdício de água.
O Instituto Trata Brasil evidencia a necessidade da discussão sobre saneamento como prioridade nas políticas públicas. "Enquanto país-sede de um dos maiores eventos de sustentabilidade do mundo, a COP 30, se abre a oportunidade para que sejam discutidos profundamente os temas de água e saneamento, a fim de que se encaminhem soluções coletivas que vão ao encontro da universalização dos serviços no menor tempo possível", aponta Luana Siewert Pretto, presidente-executiva do Instituto.
O avanço nos investimentos por habitante para o saneamento é citado no ranking como medida para que o país alcance a universalização dos serviços até 2033, conforme estabelecido pelo Marco Legal do Saneamento. "Nós tivemos um avanço de investimentos. Enquanto no ano de 2022 foram contabilizados R$ 111 por ano por habitante, em 2023 foram R$ 126, acréscimo de 13%", compara o Instituto Trata Brasil.
As 5 cidades brasileiras com melhor saneamento básico
O estudo avalia três dimensões principais: nível de atendimento (cobertura de água, esgoto e tratamento); melhoria do atendimento (evolução dos indicadores); e nível de eficiência (perdas na distribuição, produtividade e investimento). A metodologia pondera os resultados segundo critérios técnicos definidos em parceria com a GO Associados.
A edição 2025 é a primeira a usar exclusivamente o novo Sistema Nacional de Informações em Saneamento. A cidade que lidera o levantamento é destaque em redução de desperdício de água. "Campinas é um exemplo porque mesmo com o crescimento populacional teve redução na perda de água, com 19,67% por ano", indica a presidente-executiva do Trata Brasil.
As cinco cidades com maior eficiência no saneamento básico:
- Campinas (SP) - sob administração da Sanasa - 1.139.047 habitantes
- Limeira (SP) - BRKL - 291.869 habitantes
- Niterói (RJ) - CAN - 481.749 habitantes
- São José do Rio Preto (SP) - Semae - 480.393 habitantes
- Franca (SP) - Sabesp - 352.536 habitantes

São Paulo domina o topo; Goiás avança no Centro-Oeste
Entre os 20 primeiros colocados, nove municípios são do estado de São Paulo. Goiás aparece com dois municípios no grupo de elite, o que reforça o avanço regional no Centro-Oeste. A presença de Niterói (RJ) e de cidades paranaenses como Londrina e Maringá também indica o fortalecimento de gestões municipais com estratégias de longo prazo para saneamento.
Os 20 melhores colocados investiram, em média, R$ 176,39 por habitante ao ano, no período entre 2019 e 2023. Esse valor, embora 20% abaixo da média ideal definida para universalização (estipulada em R$ 223,82 por habitante/ano), sustenta sistemas consolidados.
Nos municípios com pior desempenho, o valor médio foi de R$ 78,40 por habitante/ano — menos de 35% do necessário. Esses municípios estão longe da universalização e precisam acelerar os investimentos de forma imediata, segundo o ITB. A distância entre os dois grupos é expressiva:
- Cobertura de água: 21% maior entre os 20 melhores
- Coleta de esgoto: 242% maior
- Tratamento de esgoto: 168% maior
- Perdas na distribuição: 44% menores
- Perdas por ligação: 60% menores
Goiânia, por exemplo, destacou-se como uma das cidades com menor índice de perdas na distribuição de água, ao lado de Santos (SP), Suzano (SP) e cidades da Região Metropolitana do Rio.

Universalização da água avança; esgoto preocupa
O estudo identificou 11 municípios com 100% de atendimento total de água. Outros 12 municípios superaram os 99%. Na média, os 100 maiores municípios registraram 93,91% de cobertura — valor superior à média nacional de 83,1%, segundo o Sistema Nacional de Informações em Saneamento 2023.
Em contrapartida, o esgotamento sanitário continua a apresentar defasagens. Apenas dois municípios atingiram 100% de coleta, Curitiba (PR) e Santo André (SP). Outros 38 superaram a marca de 90%, patamar considerado universalizado pela legislação federal. O pior desempenho ficou com Santarém (PA), com apenas 3,77% de cobertura.
O índice médio de tratamento de esgoto foi de 60,97%, abaixo dos 65,5% registrados em 2022. A média nacional ficou em 49,8%, segundo o Sistema Nacional de Informações em Saneamento.
"Esta edição do ranking ressalta que, além da necessidade de os municípios garantirem o acesso universal à água potável e à coleta de esgoto, o tratamento do esgoto se destaca como o indicador mais distante da universalização nas cidades, representando o principal desafio a ser superado", afirma Luana Siewert Pretto.
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Perdas na distribuição de água são altas
A média de perdas na distribuição de água nos 100 maiores municípios foi de 45,43% em 2023 — acima do limite ideal de 25%, fixado pela Portaria nº 490/2021. Maceió (AL) lidera o ranking negativo, com 71,73% de perdas. Nova Iguaçu (RJ) aparece como o município mais eficiente nesse quesito, com apenas 1,89%.
Os dados revelam que as perdas representam um dos principais gargalos para o setor. Segundo o estudo, reduzir o desperdício é essencial para aumentar a cobertura sem ampliar, proporcionalmente, o volume produzido.
O Novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em 2020, prevê a universalização dos serviços até 2033. Para atingir esse objetivo, o estudo estima que será necessário um investimento médio de R$ 223,82 por habitante/ano até o fim da década - de acordo com o levantamento, a perda na distribuição é um dos itens que deve ser atendido com maior urgência.

Ranking nacional de saneamento aponta desigualdades entre regiões do país
A desigualdade regional permanece clara. Os municípios com pior desempenho estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste. Além dos baixos índices de cobertura, essas cidades apresentam os menores volumes de investimento per capita e maiores taxas de perdas operacionais.
O ITB alerta para o risco de ampliação do desequilíbrio, caso não haja reforço federal e estadual nas capacidades regulatória e institucional desses municípios. As cinco cidades com menor eficiência no saneamento básico:
- Bauru (SP) - DAE - 379.146 habitantes
- Olinda (PE) - Compesa - 349.976 habitantes
- Recife (PE) - Compesa - 1.488.920 habitantes
- Paulista (PE) - Compesa - 342.167 habitantes
- Juazeiro do Norte (CE) - Cagece - SisarBSA - 286.120 habitantes
"O ranking continua a refletir as desigualdades regionais do Brasil, também no acesso ao saneamento. O investimento médio por habitante nos 20 municípios piores colocados é de apenas R$ 78,40, quase três vezes menos do que o necessário para a universalização dos serviços de água e esgoto até 2033", afirma Gesner Oliveira, sócio-executivo da GO Associados.
Confira a lista dos 100 municípios mais populosos do Brasil no ranking de saneamento básico
O ranking completo do Instituto Trata Brasil pode ser consultado aqui.
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