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Investimento e eficiência operacional

Saneamento básico evidencia contraste entre regiões brasileiras; veja como está sua cidade

Campinas (SP) é a melhor cidade brasileira em ranking de saneamento básico.
Campinas (SP) é a melhor cidade brasileira na oferta de saneamento básico. (Foto: Marcos Lodi/Arquivo Sanasa)

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A cidade de Campinas (SP) ocupa a primeira colocação do Ranking Nacional de Saneamento Básico, elaborado pelo Instituto Trata Brasil (ITB) em parceria com a consultoria GO Associados. O município, que no ano anterior era o terceiro colocado, subiu ao apresentar níveis elevados de cobertura, eficiência operacional e investimento nos serviços de água e esgoto. Confira a lista completa no arquivo disponível ao final do texto.

Na análise do instituto, o resultado reforça o avanço de cidades do Sudeste na área de saneamento e, ao mesmo tempo, expõe o contraste com municípios de regiões do país que ainda enfrentam déficits estruturais profundos. A lista considera os 100 municípios mais populosos do Brasil, com base em dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento, ano-base 2023.

Campinas é destaque em redução no desperdício de água.

O Instituto Trata Brasil evidencia a necessidade da discussão sobre saneamento como prioridade nas políticas públicas. "Enquanto país-sede de um dos maiores eventos de sustentabilidade do mundo, a COP 30, se abre a oportunidade para que sejam discutidos profundamente os temas de água e saneamento, a fim de que se encaminhem soluções coletivas que vão ao encontro da universalização dos serviços no menor tempo possível", aponta Luana Siewert Pretto, presidente-executiva do Instituto.

O avanço nos investimentos por habitante para o saneamento é citado no ranking como medida para que o país alcance a universalização dos serviços até 2033, conforme estabelecido pelo Marco Legal do Saneamento. "Nós tivemos um avanço de investimentos. Enquanto no ano de 2022 foram contabilizados R$ 111 por ano por habitante, em 2023 foram R$ 126, acréscimo de 13%", compara o Instituto Trata Brasil.

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O estudo avalia três dimensões principais: nível de atendimento (cobertura de água, esgoto e tratamento); melhoria do atendimento (evolução dos indicadores); e nível de eficiência (perdas na distribuição, produtividade e investimento). A metodologia pondera os resultados segundo critérios técnicos definidos em parceria com a GO Associados.

A edição 2025 é a primeira a usar exclusivamente o novo Sistema Nacional de Informações em Saneamento. A cidade que lidera o levantamento é destaque em redução de desperdício de água. "Campinas é um exemplo porque mesmo com o crescimento populacional teve redução na perda de água, com 19,67% por ano", indica a presidente-executiva do Trata Brasil.

As cinco cidades com maior eficiência no saneamento básico:

  • Campinas (SP) - sob administração da Sanasa - 1.139.047 habitantes
  • Limeira (SP) - BRKL - 291.869 habitantes
  • Niterói (RJ) - CAN - 481.749 habitantes
  • São José do Rio Preto (SP) - Semae - 480.393 habitantes
  • Franca (SP) - Sabesp - 352.536 habitantes
Entre os 20 primeiros colocados no ranking nacional de saneamento, nove municípios são do estado de São Paulo.Entre os 20 primeiros colocados no ranking nacional de saneamento, nove municípios são do estado de São Paulo. (Foto: José Cruz/Arquivo Agência Brasil)

São Paulo domina o topo; Goiás avança no Centro-Oeste

Entre os 20 primeiros colocados, nove municípios são do estado de São Paulo. Goiás aparece com dois municípios no grupo de elite, o que reforça o avanço regional no Centro-Oeste. A presença de Niterói (RJ) e de cidades paranaenses como Londrina e Maringá também indica o fortalecimento de gestões municipais com estratégias de longo prazo para saneamento.

Os 20 melhores colocados investiram, em média, R$ 176,39 por habitante ao ano, no período entre 2019 e 2023. Esse valor, embora 20% abaixo da média ideal definida para universalização (estipulada em R$ 223,82 por habitante/ano), sustenta sistemas consolidados.

Nos municípios com pior desempenho, o valor médio foi de R$ 78,40 por habitante/ano — menos de 35% do necessário. Esses municípios estão longe da universalização e precisam acelerar os investimentos de forma imediata, segundo o ITB. A distância entre os dois grupos é expressiva:

  • Cobertura de água: 21% maior entre os 20 melhores
  • Coleta de esgoto: 242% maior
  • Tratamento de esgoto: 168% maior
  • Perdas na distribuição: 44% menores
  • Perdas por ligação: 60% menores

Goiânia, por exemplo, destacou-se como uma das cidades com menor índice de perdas na distribuição de água, ao lado de Santos (SP), Suzano (SP) e cidades da Região Metropolitana do Rio.

Apenas dois municípios brasileiros apresentaram 100% de tratamento de esgoto no ranking nacional do Instituto Trata Brasil.Apenas dois municípios brasileiros apresentaram 100% de tratamento de esgoto. (Foto: Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil)

Universalização da água avança; esgoto preocupa

O estudo identificou 11 municípios com 100% de atendimento total de água. Outros 12 municípios superaram os 99%. Na média, os 100 maiores municípios registraram 93,91% de cobertura — valor superior à média nacional de 83,1%, segundo o Sistema Nacional de Informações em Saneamento 2023.

Em contrapartida, o esgotamento sanitário continua a apresentar defasagens. Apenas dois municípios atingiram 100% de coleta, Curitiba (PR) e Santo André (SP). Outros 38 superaram a marca de 90%, patamar considerado universalizado pela legislação federal. O pior desempenho ficou com Santarém (PA), com apenas 3,77% de cobertura.

O índice médio de tratamento de esgoto foi de 60,97%, abaixo dos 65,5% registrados em 2022. A média nacional ficou em 49,8%, segundo o Sistema Nacional de Informações em Saneamento.

"Esta edição do ranking ressalta que, além da necessidade de os municípios garantirem o acesso universal à água potável e à coleta de esgoto, o tratamento do esgoto se destaca como o indicador mais distante da universalização nas cidades, representando o principal desafio a ser superado", afirma Luana Siewert Pretto.

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Perdas na distribuição de água são altas

A média de perdas na distribuição de água nos 100 maiores municípios foi de 45,43% em 2023 — acima do limite ideal de 25%, fixado pela Portaria nº 490/2021. Maceió (AL) lidera o ranking negativo, com 71,73% de perdas. Nova Iguaçu (RJ) aparece como o município mais eficiente nesse quesito, com apenas 1,89%.

Os dados revelam que as perdas representam um dos principais gargalos para o setor. Segundo o estudo, reduzir o desperdício é essencial para aumentar a cobertura sem ampliar, proporcionalmente, o volume produzido.

O Novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em 2020, prevê a universalização dos serviços até 2033. Para atingir esse objetivo, o estudo estima que será necessário um investimento médio de R$ 223,82 por habitante/ano até o fim da década - de acordo com o levantamento, a perda na distribuição é um dos itens que deve ser atendido com maior urgência.

Média de perdas na distribuição de água nos 100 maiores municípios foi de 45,43% em 2023Média de perdas na distribuição de água nos 100 maiores municípios foi de 45,43% em 2023 — acima do limite ideal de 25%. (Foto: Oliver Kesseler/Agência Senado)

Ranking nacional de saneamento aponta desigualdades entre regiões do país

A desigualdade regional permanece clara. Os municípios com pior desempenho estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste. Além dos baixos índices de cobertura, essas cidades apresentam os menores volumes de investimento per capita e maiores taxas de perdas operacionais.

O ITB alerta para o risco de ampliação do desequilíbrio, caso não haja reforço federal e estadual nas capacidades regulatória e institucional desses municípios. As cinco cidades com menor eficiência no saneamento básico:

  • Bauru (SP) - DAE - 379.146 habitantes
  • Olinda (PE) - Compesa - 349.976 habitantes
  • Recife (PE) - Compesa - 1.488.920 habitantes
  • Paulista (PE) - Compesa - 342.167 habitantes
  • Juazeiro do Norte (CE) - Cagece - SisarBSA - 286.120 habitantes

"O ranking continua a refletir as desigualdades regionais do Brasil, também no acesso ao saneamento. O investimento médio por habitante nos 20 municípios piores colocados é de apenas R$ 78,40, quase três vezes menos do que o necessário para a universalização dos serviços de água e esgoto até 2033", afirma Gesner Oliveira, sócio-executivo da GO Associados.

Confira a lista dos 100 municípios mais populosos do Brasil no ranking de saneamento básico

O ranking completo do Instituto Trata Brasil pode ser consultado aqui.

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