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Santa Catarina se tornou o principal destino da migração interna no Brasil, segundo dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 27. Entre 2017 e 2022, o estado recebeu mais de 503 mil novos habitantes vindos de outras unidades da federação. O saldo migratório positivo de 4,66% é o maior do país no período e coloca o estado em destaque como destino para quem quer mudar de vida.
Para o analista socioeconômico do IBGE Jefferson Mariano, a combinação de alguns fatores explica essa migração ao estado catarinense. “No caso específico de Santa Catarina, há um aspecto ligado aos indicadores sociais do estado, não necessariamente às políticas públicas adotadas. É uma região que se tornou um polo bastante interessante, principalmente pelo dinamismo da economia e pela taxa de desemprego muito baixa”, afirma.
Ele explica que a situação positiva de empregabilidade se confirma ao analisar a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua , análise do IBGE que produz indicadores trimestrais sobre o mercado de trabalho, incluindo ocupação, desemprego e rendimento. “Desde o início da série, em 2012, até o presente momento, são taxas muito baixas, e isso pode atrair pessoas a se deslocarem para lá”, acrescenta o analista do IBGE sobre a atração de Santa Catarina.
Em fevereiro deste ano, o estado apresentou taxa de desocupação de 2,7%, o melhor desempenho nos últimos 10 anos e segundo melhor do país, atrás apenas de Mato Grosso. Na ocasião, o secretário estadual da Indústria, Comércio e Serviço, Silvio Dreveck, comemorou: “Santa Catarina vive pleno emprego e, além disso, com renda acima da média nacional. Isso demonstra, mais uma vez, a grande capacidade de produção e trabalho do catarinense e a pujança da nossa economia. E como bem diz o governador Jorginho Mello [PL], o emprego é o melhor programa para inclusão social.”
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"Efeito rede" impulsiona mudança de brasileiros para Santa Catarina
Santa Catarina também apresenta a menor taxa de homicídios - mortes com intenção de matar - do Brasil: 9 mortes por 100 mil habitantes, menos da metade da média nacional de 21,2, segundo o Atlas da Violência 2024, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Além dos baixos índices de violência, o estado se destaca em indicadores de desenvolvimento humano e apresenta uma das menores proporções de domicílios beneficiados pelo Bolsa Família. Enquanto a média nacional é de 18,7%, em Santa Catarina esse número cai para 4,4%. Também registra a menor taxa de analfabetismo do país entre pessoas com 15 anos ou mais, com apenas 2,7% da população sem saber ler ou escrever.

O analista do IBGE também destaca o chamado "efeito rede", quando a migração é influenciada por experiências positivas de conhecidos. “O fato de outras pessoas já terem migrado – por exemplo, familiares – e terem sido bem recebidos pode fazer com que outras pessoas também busquem esse caminho”, pontua.
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Desafios futuros
Apesar dos efeitos positivos no desenvolvimento econômico, o aumento populacional de migrantes também gerou reações negativas. A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), por exemplo, criticou publicamente a chegada massiva de pessoas de outras localidades. Júlia disse que a migração recorde pode ameaçar o conservadorismo catarinense. “Não podem vir pra cá e votar na esquerda”, afirmou em rede social.
Esse discurso reflete o temor de parte da classe política sobre uma possível mudança no perfil eleitoral catarinense, historicamente mais conservador do que a média nacional. Entretanto, vale notar que a migração interna no Brasil costuma ter motivação prioritariamente econômica, não política, e, em geral, os migrantes tendem a se adaptar ao ambiente social para onde se deslocam.
A deputada também apontou que o crescimento da população pressiona serviços em cidades catarinense como Chapecó e Criciúma, gerando superlotação em hospitais e falta de vagas em creches. Em março, por exemplo, o Hospital Regional do Oeste (HRO), de Chapecó, chegou a emitir um alerta à população, pedindo que o uso dos serviços de emergência seja feito com parcimônia.
“A superlotação no HRO é um desafio que requer a colaboração e compreensão de toda a comunidade. Ao adotar medidas conscientes e responsáveis em relação ao uso dos serviços de saúde, estaremos contribuindo para garantir que aqueles que mais precisam recebam o atendimento adequado”, afirmou a diretoria.
Chapecó, inclusive, foi o município catarinense que mais recebeu imigrantes estrangeiros, segundo o Censo 2022, com 10.855 pessoas, além de 334 naturalizados, totalizando 11,2 mil moradores nascidos fora do Brasil. O crescimento populacional, tanto de migrantes internos quanto de estrangeiros, intensifica debates sobre impactos sociais e políticos dessas mudanças.
Na análise do IBGE, as terras catarinenses devem continuar sendo atração de outros brasileiros. Jefferson Mariano explica: “Santa Catarina se destaca porque combina economia forte, baixíssimo desemprego e indicadores sociais positivos. Isso cria uma imagem de segurança econômica e social. A tendência é que continue sendo polo de atração nos próximos anos.”
Para além dos desafios, o saldo migratório coloca Santa Catarina como exemplo de estado que combina segurança, empregabilidade e qualidade de vida – três fatores que, juntos, seguem sendo determinantes para o deslocamento de milhares de famílias brasileiras em busca de melhores condições.
Trecho alterado sobre Chapecó ser o município catarinense que mais recebeu imigrantes estrangeiros — e não o município brasileiro que mais recebe estrangeiros, como estava no texto original.
Corrigido em 05/08/2025 às 15:01
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